Vale a pena ver "Samantha!"

ROMERO RAFAEL
ROMERO RAFAEL
Publicado em 10/07/2018 às 20:12
Emanuelle Araújo é Samantha! - Foto: Netflix / Divulgação
Emanuelle Araújo é Samantha! - Foto: Netflix / Divulgação

Dê atenção a Samantha! - sobretudo, se do fim dos anos 80, passando pelos 90, até 2000, você esteve em frente à TV aberta brasileira. A série da Netflix, produção originalmente brasileira, é a cara do País. No papel-título, Emanuelle Araújo vive uma ex-famosa, já com idade em torno dos 40, tentando a todo custo tirar caldo da fama que experimentou quando estourou nacionalmente, à frente de um grupo infantil e de um programa de TV, aos 9, 10, anos. Qualquer semelhança com Simony - e o Balão Mágico (que, porventura, está de volta) -, não é intencional, segundo o diretor, Felipe Braga. Pode até não ser, mas podia.

As histórias de Simony e de Samantha! (o ponto de exclamação é para tornar tônica a última sílaba, ao invés da penúltima, num aparente deboche aos famosos que mudam o nome por motivos esotéricos, por exemplo) se cruzam também quando se sabe que a personagem é casada com o ex-jogador de futebol Dodói (Douglas Silva), tendo realizado a cerimônia na prisão - ao que tudo indica, para atrair holofotes. A lembrar: em 2000, Simony, já aos 24 anos, voltou ao noticiário quando revelou o namoro com o rapper Afro-X, que estava na prisão. Voltando à série, com Dodói já fora da prisão, Samantha! "passa na cara" que foi ela quem esteve com ele nos momentos difíceis - a memória da gente puxa outros dois personagens reais: Viviane Araújo e Belo.

As referências não param. Zé Cigarrinho (Ary França) é o mascote/boneco de Samantha! no programa para crianças. A pequena estrela ainda faz merchandising de cerveja e pratica bullying com os amigos de grupo: a um deles, apelida de Bolota; rejeita o outro, que vomita em rede nacional sempre que leva um fora; tira de cena a Menina-Cogumelo, por se sentir ameaçada. Óbvio que a série pesa a mão, mas não soa estranha se ponderada com pequenos absurdos visto em programas que a nossa TV já pôs no ar - que o diga o Xou da Xuxa, com Dengue e Praga.

Gretchen faz participação como ela mesma. Luciana Vendramini, que no anos 80 ficou famosa ao disputar posto de paquita de Xuxa, também está na série, no comando de um programa - surreal - para calouros mirins. O júri, com cada um fazendo um tipo, lembra do Show de Calouros de Sílvio Santos: Pedro de Lara e turma. Um reality com um tipo galanteador chamado Flávio Jr. (Paulo Tiefanthaler), que a cada temporada casa com uma nova mulher, nos parece um jeito bem-humorado de ver Fábio Jr. e o midiático casa, descasa, casa...

Mas, ao passo em que rebobina aspectos sobre a fama no passado e a busca dela, hoje; o sucesso versus o ostracismo, Samantha! dá a possibilidade de refletir sobre, inclusive, o poder da TV, ontem e agora. É quase metalinguagem: uma produção da Netflix falando, indiretamente, sobre o quanto o seu serviço de streaming, dentro de toda uma revolução digital, redefiniu o poder da televisão, para menor. A personagem Laila (Lorena Comparato), uma influenciadora digital, contribui muito para essa abordagem.

No geral, o elenco está ótimo. E Emanuelle Araújo parece vestir uma personagem sob medida. É dela e ponto. Tem carisma, apesar da personagem dúbia - capeta na infância e sem limites já adulta. Douglas Silva (lembra de Acerola, de Cidade de Deus?) também aparece bem. Assim como Sabrina Nonato e Cauã Gonçalves, respectivamente, Cindy e Brandon, filhos de Samantha! e Dodói. Os pequenos têm a função de puxar para o presente os pais, ainda mergulhados e iludidos com as glórias do passado. Discussões em evidência hoje, como as questões de gênero, o empoderamento da mulher e sustentabilidade, são trazidas à tona pelas crianças num contraponto geracional: o que há entre a infância dos anos 80/90 e a da Geração Z.

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