Álbum de Racionais MC's vira leitura obrigatória para vestibular da Unicamp

Victor Augusto
Victor Augusto
Publicado em 24/05/2018 às 10:16
Racionais MC's (Imagem: Divulgação)
Racionais MC's (Imagem: Divulgação)

Famosos por retratarem um lado muitas vezes esquecido e reprimido da sociedade brasileira, o grupo Racionais MC's, com seu álbum Sobrevivendo no Inferno, virou leitura obrigatória para quem quiser prestar vestibular para a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em 2020. A instituição é uma das mais respeitadas do país e a medida inovadora faz com que produtos culturais que representam uma realidade muitas vezes ignorada cheguem ao repertório dos estudantes. Essa é a primeira vez que um disco musical integra objetos culturais recomendados para a prova.

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Para a Folha de São Paulo, a Unicamp comunicou que o grupo representa um dos "diversos gêneros e extensões, de autores das literaturas brasileira e portuguesa", além de possuir "relevância estética, cultural e pedagógica para a formação dos estudantes do ensino médio". Ao UOL, um dos integrantes do grupo, o DJ KL Jay comemorou: "Sobrevivendo ao Inferno é um ótimo livro de história".

Racionais MC's e o álbum

 

O grupo de rap foi fundado em 1988 e é formado pelos MC's Mano Brown, Edi Rock e Ice Blue e pelo DJ KL Jay. Suas canções buscam retratar, principalmente, a realidade dos jovens negros periféricos e suas lutas contra o racismo, drogas, tráfico, miséria e opressão do Estado.

Sobrevivendo ao Inferto foi lançado em 1997 e é um dos álbuns mais emblemáticos do grupo e do próprio rap brasileiro. Dentre as músicas, Diário de um Detento choca ao trazer nas rimas o relato do preso Jocenir, que estava encarcerado no Carandiru durante o massacre de 1992. Capítulo 4, Versículo 3 traz números assustadores da época sobre a violência contra a população negra.

Confira um trecho da letra e compare os números de 1997 com os atuais:

60% dos jovens de periferia sem antecedentes criminais já sofreram violência policial. A cada 4 pessoas mortas pela polícia, 3 são negras"

Trecho de "Capítulo 4, Versículo 3"


Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),

71% das pessoas assassinadas no Brasil são pobres, negras

e jovens periféricos. Entre 2016 e 2017, segundo o UOL,

9 em cada 10 pessoas mortas pela polícia no Rio de Janeiro

eram negras ou pardas


Nas universidades brasileiras apenas 2% dos alunos são negros"

Trecho de "Capítulo 4, Versículo 3"


Segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições

Federais de Ensino Superior (Andifes), o número de negros

aumentou desde o final dos anos 90, mas ainda é baixo.

Em 2016, apenas 8,72% dos universitários

eram negos

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