Famosos por retratarem um lado muitas vezes esquecido e reprimido da sociedade brasileira, o grupo Racionais MC's, com seu álbum Sobrevivendo no Inferno, virou leitura obrigatória para quem quiser prestar vestibular para a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em 2020. A instituição é uma das mais respeitadas do país e a medida inovadora faz com que produtos culturais que representam uma realidade muitas vezes ignorada cheguem ao repertório dos estudantes. Essa é a primeira vez que um disco musical integra objetos culturais recomendados para a prova.
LEIA TAMBÉM: Leandro Karnal e Monja Coen falam sobre ódio e cultura de paz
Para a Folha de São Paulo, a Unicamp comunicou que o grupo representa um dos "diversos gêneros e extensões, de autores das literaturas brasileira e portuguesa", além de possuir "relevância estética, cultural e pedagógica para a formação dos estudantes do ensino médio". Ao UOL, um dos integrantes do grupo, o DJ KL Jay comemorou: "Sobrevivendo ao Inferno é um ótimo livro de história".
Racionais MC's e o álbum
O grupo de rap foi fundado em 1988 e é formado pelos MC's Mano Brown, Edi Rock e Ice Blue e pelo DJ KL Jay. Suas canções buscam retratar, principalmente, a realidade dos jovens negros periféricos e suas lutas contra o racismo, drogas, tráfico, miséria e opressão do Estado.
Sobrevivendo ao Inferto foi lançado em 1997 e é um dos álbuns mais emblemáticos do grupo e do próprio rap brasileiro. Dentre as músicas, Diário de um Detento choca ao trazer nas rimas o relato do preso Jocenir, que estava encarcerado no Carandiru durante o massacre de 1992. Capítulo 4, Versículo 3 traz números assustadores da época sobre a violência contra a população negra.
Confira um trecho da letra e compare os números de 1997 com os atuais:
60% dos jovens de periferia sem antecedentes criminais já sofreram violência policial. A cada 4 pessoas mortas pela polícia, 3 são negras"Trecho de "Capítulo 4, Versículo 3"
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),
71% das pessoas assassinadas no Brasil são pobres, negras
e jovens periféricos. Entre 2016 e 2017, segundo o UOL,
9 em cada 10 pessoas mortas pela polícia no Rio de Janeiro
eram negras ou pardas
Nas universidades brasileiras apenas 2% dos alunos são negros"Trecho de "Capítulo 4, Versículo 3"
Segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições
Federais de Ensino Superior (Andifes), o número de negros
aumentou desde o final dos anos 90, mas ainda é baixo.
Em 2016, apenas 8,72% dos universitários
eram negos