Conheça Mariana Bahia, doula que ajuda mulheres a tornarem-se mães: "É sempre muito emocionante"

Mirella Martins
Mirella Martins
Publicado em 13/05/2018 às 11:24
Mariana Bahia é doula, assiste mulheres grávidas antes, durante e depois do parto - Crédito: Mariana Medeiros / Divulgação
Mariana Bahia é doula, assiste mulheres grávidas antes, durante e depois do parto - Crédito: Mariana Medeiros / Divulgação

Há quem não queira, mas tornar-se mãe é o sonho da maioria das mulheres. O sonho de gerar vida e poder externar um amor inexplicável. Nascida no Rio de Janeiro, mas desde pequena vivendo no Recife, a mais pernambucana do que carioca Mariana Bahia, de 35 anos, é uma doula. O ofício não foi um sonho que acalentou, mas sim um acordar. Ela explica mais para frente. Há quatro anos e 130 partos assistidos, Mariana é como uma luz a toda mulher que a ela recorre para ajudar a realizar o sonho de tornar-se mãe.

Além de doula, Mariana Bahia é formada em direito, estuda enfermagem e é consultora de amamentação - Crédito: Dayvison Nunes / JC Imagem

Em grego, doula significa “mulher que serve”. No Brasil, não é uma profissão regulamentada; e sim considerada apenas uma ocupação. Quem se torna doula (após curso de formação) está preparada a oferecer suporte físico e emocional às mães gestantes. A parte médica, claro, fica a cargo da equipe de médicos e enfermeiros. A função de uma doula começa ainda na gestação, passa pelo trabalho de parto e segue até depois do nascimento do bebê.

Doulas dão auxílio emocional e físico à gestante - Crédito: Andréa Rêgo Barros / Divulgação

"Sou formada em direito. Virar doula não partiu de mim", relembra Mariana, em conversa com o Social1. Ela conta que, na realidade, o interesse surgiu após uma viagem para Brasília. "Estava casada com Alexandre há seis meses e queríamos engravidar. Lá, estava passando um documentário sobre parto humanizado, o ‘Renascimento do Parto’. Saímos impactados da sessão", relata. "Depois, fomos à casa de uma amiga dele, que havia tido dois partos em casa, que eu nem sabia que podia. Ficamos conversando com ela a noite toda, foi uma experiência profunda."

Registro de um parto natural - Crédito: Yane Hacker / Divulgação

Ao voltar para o Recife, Mariana se deparou com a situação de uma amiga que havia parido o filho em casa, mas não conseguia a permissão para registrar o bebê no cartório. Sensibilizada, ela abraçou a luta. Após ter conseguido o registro, percebeu a importância do assunto. "Comecei a militar na área depois desse caso. Entendi o que era violência obstétrica. Fiquei um ano e meio assim, advogando e etc", explica. Até que, aos 30 anos, finalmente decidiu largar a advocacia para se tornar doula, e foi para São Paulo fazer o curso. Seu primeiro parto foi inesquecível: "Assim que cheguei, a mãe vomitou no meu ombro e a bolsa amniótica estourou no meu pé".

Momento emocionante pós-parto - Crédito: reprodução do Instagram

Ao ser perguntada qual a melhor parte do trabalho, Mariana responde com um sorriso no rosto: "A parte mais gratificante é presenciar o nascimento de uma criança e ver a formação de uma nova família. É fazer parte do evento mais importante da vida deles". Mas nem tudo são flores. "Tem a perda da liberdade, ter que deixar a vida pessoal em segundo plano. Já fui acionada para parto às 23h do ano-novo, no Natal, em aniversário de parente...", contrapõe. "E o cansaço também. Às vezes, a gente fica 24 horas com uma mulher. Além de quando presencio intercorrências em parto, tanto com o bebê quanto com a mãe. Você tem que estar muito concentrada para não se deixar abalar e continuar sendo o ponto de força daquele casal", conclui.

A doula já realizou 130 partos - Crédito: Dayvison Nunes / JC Imagem

Mariana não conseguiu ter o filho que queria, anos atrás - ela até engravidou, mas perdeu o bebê por complicações na gestação: o embrião estava nas trompas e ela teve que passar por uma cirurgia de emergência. Mesmo assim, não desistiu da maternidade. "Eu sou infinitamente mais feliz. Meu marido sempre fala: 'Às vezes, você volta de um parto de 24 horas sorrindo. Você não voltava assim do escritório'", conta, expressando a satisfação com o que faz. "O nascimento não é um evento com que a gente se acostume. É sempre muito emocionante. Você não sabe quando a mulher vai entrar em trabalho de parto, quanto tempo aquele parto vai durar. Você se entrega junto com ela e vai", diz, com conhecimento de causa.

Mariana já é doula há quatro anos - Crédito: Mariana Medeiros / Divulgação

Quando questionada sobre o que é ser mulher, hoje em dia, ela não titubeia e entrega os dois lados da moeda: "Eu acho que hoje em dia é um grande desafio ser mulher. Eu sou de uma geração que já militava o feminismo. E estamos inseridos em uma cultura patriarcal, machista; viemos de uma criação assim. É desafiador saber como a gente se comporta e se entende como mulher".

Mariana se considera completamente realizada sendo doula - Crédito: Dayvisson Nunes / JC Imagem

Há dores em ser mulher, mas para ela também há delícia. "Eu gosto muito, é uma delícia ser mulher. É muito poderoso ter um órgão que gesta e cria pessoas. Tem muito poder aí. É muito forte uma mulher parindo, homem não aguentaria duas contrações", dispara com bom humor. "É muito poderoso você gerir e ser alimento. Eu vejo como uma fonte de muita força... Até brinco, quando estou de TPM, que queria vir homem, mas é mentira", finaliza, com graça, ciente do poder que tem. Não só por ser mulher, mas pelo dom de ajudar tantas outras mulheres a realizarem o sonho de gerar mais vidas.

*Colaborou Romero Rafael

LEIA TAMBÉM:

Ana Flávia Cavalcanti: atriz dá voz a mulheres negras e empregadas domésticas

Mestra Joana: o maracatu, a mulher e a luta

Últimas notícias