Nobel de Literatura 2018 é cancelado após escândalos de abuso sexual

Victor Augusto
Victor Augusto
Publicado em 04/05/2018 às 9:38
A secretária permanente Sara Danius renunciou ao cargo durante a crise que atinge a Academia (Imagem: AFP)
A secretária permanente Sara Danius renunciou ao cargo durante a crise que atinge a Academia (Imagem: AFP)

O Prêmio Nobel de Literatura não será entregue em 2018. A decisão foi anunciada pela Academia Sueca, nesta sexta-feira (4). Ocasionado pelos escândalos de estupros e agressões sexuais, esse é o primeiro cancelamento em cerca de 70 anos. O anúncio de uma crise na instituição foi feito no momento em que três integrantes do comitê que escolhe o vencedor do prêmio renunciarem seus assentos depois de Jean-Claude Arnault, marido de um de seus membros (Katarina Frostenson), ser acusado de vazar os nomes dos vencedores do prêmio e de múltiplos assédios sexuais.

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"O Prêmio Nobel 2018 de Literatura será designado e anunciado ao mesmo tempo que o premiado de 2019", assim anunciou a Academia Sueca. O prêmio é entregue desde 1901 e só conseguiu ser interrompido sete vezes, por causa da Primeira Guerra Mundial e da Segunda Guerra Mundial. A decisão da instituição foi apoiada pela Fundação Nobel (The Nobel Fundation).

O cenário mundial e o sueco

Com a mídia internacional noticiando cada vez mais casos de assédio sexual e estupros no universo cinematográfico, o público começou a perder alguns dos seus ídolos, afundando Hollywood em uma crise ética. Bill Cosby e Roman Polanski foram expulsos da Academia do Oscar após envolvimentos em escândalos de má conduta sexual. Eles são apenas dois do grande time de cineastas acusados por crimes semelhantes. Harvey Weinstein é o mais notório deles, sendo acusado de assédio moral, sexual, estupro e ameaças por dezenas de mulheres.

A crise chegou na Suécia. No contexto de uma campanha mundial instigando o engajamento contra o assédio sexual, o jornal Dagens Nyheter publicou relatos de 18 mulheres que afirmavam terem sido violentadas, assediadas ou agredidas sexualmente por Jean-Claude Arnault.

Jean-Claude Arnault

Jean-Claude Arnault é considerada uma influente figura no cenário cultural sueco. Ele é marido da escritora Katarina Frostenson, que é integrante do comitê do Nobel de Literatura desde 1992 . As 18 mulheres que acusam o francês alegam que os crimes foram cometidos entre 1996 e 2017. Ele nega as acusações.

Katarina Frostensson e Ehemann Jean-Claude Arnault (Imagem: Reprodução) Katarina Frostensson e Ehemann Jean-Claude Arnault (Imagem: Reprodução)

Além dos crimes sexuais, Arnault também é acusado de divulgar os nomes dos vencedores do Nobel de Literatura antes mesmo da instituição anunciá-los. A acusação foi feita em novembro de 2017, pouco antes do escritor japonês Kazuo Ighiguro levar o prêmio.

As acusações feitas contra o marido acabaram atingindo Katarina, que teve sua permanência no comitê decidida por votação feita entre os outros 17 integrantes. Após decisão favorável para a escritora, três deles, contrariados, decidiram se desvincular da instituição. Foram eles: os escritores Klas Ostergren e Kjell Espmark, e o ex-secretário permanente da Academia Sueca Peter Englund. Eles eram membros vitalícios e, mesmo assim, renunciaram aos seus assentos.

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