Globo adverte jornalistas após vazamento de áudios pró-Lula de Chico Pinheiro

ROMERO RAFAEL
ROMERO RAFAEL
Publicado em 10/04/2018 às 19:24
Chico Pinheiro - Foto: Divulgação
Chico Pinheiro era apresentador do Bom Dia Brasil e deixa a Globo depois de 32 anos - FOTO: Chico Pinheiro - Foto: Divulgação

O diretor-geral de Jornalismo da Globo, Ali Kamel, enviou aos jornalistas da casa, segunda (9), e-mail advertindo que se abstenham de expressar publicamente suas preferências políticas e partidárias, conforme os Princípios Editoriais da empresa. "O maior patrimônio do jornalista é a isenção. Na vida privada, como cidadão, pode-se acreditar em qualquer tese, pode-se ter preferências partidárias, pode-se aderir a qualquer ideologia. Mas tudo isso deve ser posto de lado no trabalho jornalístico", diz trecho do comunicado.

O e-mail do executivo remete à repercussão dos áudios de Chico Pinheiro, âncora do Bom dia Brasil, que, endereçados a amigos de um grupo no WhatsApp, foram compartilhados aplicativo afora. Num dos áudios, Chico fala: "Realizaram o fetiche. O fetiche deles era Lula na cadeia. Não foi feito do jeito que eles queriam, mas o Lula foi. E agora? O que vão fazer agora? Como é que fica? Qual é o próximo passo? Que o Lula tenha calma e sabedoria, inspiração divina para ficar quieto onde ele está".

Sobre a não-intenção de que se tornassem públicos, Ali Kamel escreveu: "Quando os vazamentos acontecem, as vítimas, com toda a minha solidariedade, dizem que foram mal interpretadas. Não importa, o dano está feito". Ainda lembrou advertência que fez no fim do ano passado, sobre postagens feitas por jornalistas nas suas redes sociais em que aparecem marcas - à época identificou-se que tinha como motivação a exposição de Cesar Tralli por causa do seu casamento com Ticiane Pinheiro.

Leia na íntegra:

"Em e-mail no ano passado, eu alertei para o uso de redes sociais. Na ocasião, lembrei que jornalistas, de forma não proposital, publicavam fotos em que marcas apareciam. Eu alertei então para aquilo que todos nós sabemos: jornalistas não fazem publicidade e que todo cuidado é pouco para evitar que nossos espectadores equivocadamente pensem que se descumpre esse preceito.

Hoje, volto a falar sobre o uso de redes sociais. O maior patrimônio do jornalista é a isenção. Na vida privada, como cidadão, pode-se acreditar em qualquer tese, pode-se ter preferências partidárias, pode-se aderir a qualquer ideologia. Mas tudo isso deve ser posto de lado no trabalho jornalístico. É como agimos.

Daí porque não se pode expressar essas preferências publicamente nas redes sociais, mesmo aquelas voltadas para grupos de supostos amigos. Pois, uma vez que se tornem públicas pela ação de um desses amigos, é impossível que os espectadores acreditem que tais preferências não contaminam o próprio trabalho jornalístico, que deve ser correto e isento.

Como entrevistar candidatos, se preferências são reveladas, às vezes de forma apaixonada? O mais grave é que, quando os vazamentos acontecem, as vítimas, com toda a minha solidariedade, dizem que foram mal interpretadas. Não importa, o dano está feito.

A Globo é apartidária, independente, isenta e correta. Cada vez que isso acontece, o dano não é apenas de quem se comportou de forma inapropriada nas redes sociais. O dano atinge a Globo. E minha missão é zelar para que isso não aconteça. Portanto, peço a todos que respeitem o que está em nossos Princípios Editoriais (e nos dos jornais sérios de todo o mundo):

'A participação de jornalistas do Grupo Globo em plataformas da internet como blogs pessoais, redes sociais e sites colaborativos deve levar em conta três pressupostos:

(…) 3- os jornalistas são em grande medida responsáveis pela imagem dos veículos para os quais trabalham e devem levar isso em conta em suas atividades públicas, evitando tudo aquilo que possa comprometer a percepção de que exercem a profissão com isenção e correção.'

É com isso em mente que envio esse e-mail.

Ali Kamel

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