Há 107 anos, nascia a eterna Rachel de Queiroz

Victor Augusto
Victor Augusto
Publicado em 17/11/2017 às 12:52
Rachel de Queiroz 01 FOTO:

Em 17 de novembro de 1910, em Fortaleza (CE), nascia Rachel de Queiroz. A cearense foi uma das mais importantes dramaturgas do Brasil, e ocupou a quinta cadeira da Academia Brasileira de Letras. Foi ela quem escreveu a eterna obra O Quinze, um dos mais importantes livros na literatura que buscava retratar a seca nordestina e seus horrores. Agora, 107 anos depois do seu nascimento, e 87 após o lançamento de seu primeiro livro, é possível perceber que a autora e seus pensamentos são altamente contemporâneos.

Aos sete anos de idade, Rachel de Queiroz saiu da capital cearense com seus pais em direção ao Rio de Janeiro, fugindo de um dos maiores perigos que amedrontaram os nordestinos; a seca de 1915. Ao chegar na capital carioca, a família não conseguiu se estabelecer bem e logo seguiu para Belém do Pará, cidade na qual morou por dois anos. Depois disso, conseguiu retornar para sua terra natal em 1919, onde se matriculou no Colégio da Imaculada Conceição. Ela permaneceu lá até concluir os estudos, com 15 anos de idade, em 1925.

Com a fase de estudante concluída, não demorou muito para que Rachel encontrasse seu lugar no jornal O Ceará, em 1927. Lá, ela assinava todo o seu material com o famoso pseudônimo "Rita de Queirós", e a qualidade de seus textos fez com que ela  fosse efetivada como redatora.

Rachel foi homenageada pelo Google hoje (17), estampando a capa do maior motor de buscas do mundo (Imagem: Internet)

Nessa época, o modernismo só fazia ganhar forças dentro do território nacional. Depois da Semana de Arte Moderna de 1922, o movimento vanguardista passou a ter mais expressão, principalmente na literatura. Obras pré-modernistas, como Os Sertões (livro que faz uma análise profunda sobre o interior da Bahia e da guerra de Canudos), de Graciliano Ramos, já estavam abrindo espaço para uma nova leitura do Brasil(ou dos vários países que pareciam caber dentro da jovem república).

Foi nesse contexto que, depois de três anos atuando no jornal, ela publicou o que seria uma das melhores retratações da dura seca nordestina: O Quinze. O livro, lançado quando Rachel tinha apenas 20 anos, teve uma repercussão inesperada, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. A obra fez com que a autora fosse levada a ser integrante da vida literária brasileira, onde ela iria expor o drama social da eterna luta do povo nordestino contra a miséria e a seca que atingem a região.

Após a obra eternizada na literatura nacional, ela lançou João Miguel (1932) e Caminho das Pedras (1937). Em 1939, seu romance As Três Marias venceu o prêmio da Sociedade Felipe de Oliveira. Depois disso, retornou com folhetins na revista O Cruzeiro, que iriam compor o romance O Galo.

Manuel Bandeira fez um poema especial, louvando Rachel de Queiroz (Confira no final da matéria).

A habilidade e genialidade de Rachel em colocar as palavras no papel era impressionante. Ela escreveu mais de duas mil crônicas, que quando organizadas, formaram os livros: O brasileiro perplexo e O caçador de tatu, A donzela e a Moura Torta, e 100 crônicas escolhidas. Mas não só de impressões o portfólio da cearense é composto. Quando passou a morar no Rio de Janeiro, a partir de 1939, ela também escreveu duas peças de teatro; Lampião (1953), O Padrezinho Santo (Peça para TV) e A Beata de Maria Egito (1958). A peça inspirada na beata de Juazeiro do Norte, que recrutava pessoas para lutar na revolução de Padre Cícero, lhe rendeu a premiação de teatro do Instituto Nacional do Livro.

Na capital Carioca, além de O Cruzeiro, trabalhou no Diário de Notícias O Jornal. Ela ainda chegou a escrever um livro voltado para o público infantil, a pedido da contista e escritora Lúcia Benedetti, chamado O Menino Mágico. As ideias para a obra vieram a partir das histórias que contava aos seus netos. Além dessa gama de habilidades e trabalhos, Rachel também atuava como tradutora. Estima-se que a cearense tenha feito parte da tradução de mais de 40 livros, convertendo-os para o português.

Rachel de Queiroz tinha grau de parentesco com José de Alencar

Em 1966, Rachel participou como delegada do Brasil na 21ª Sessão da Assembléia Geral da ONU. Lá, ela contribuiu com seu conhecimento sobre as condições desumanas as quais os nordestinos são submetidos em tempos de seca, na Comissão dos Direitos do Homem. Ela ainda foi membro, desde a sua fundação em 1967, do Conselho Federal de Cultura, até que ele foi extinto em 1989.

Antes de falecer, em 4 de novembro de 2003, exatamente 26 anos após ocupar a quinta cadeira na Academia Brasileira de Letras, ela recebeu: em 1980, o prêmio Nacional de Literatura de Brasília para conjunto de obra em; em 1981, o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Ceará; em 1983, a Medalha Mascarenhas de Morais, em solenidade realizada no Clube Militar; em 1985, a Medalha Rio Branco, do Itamarati; em 1986, a Medalha do Mérito Militar no grau de Grande Comendador; em 1989, a Medalha da Inconfidência do Governo de Minas Gerais; em 1993, o Prêmio Luís de Camões; em 1996, na categoria de romance, o Prêmio Moinho Santista; em 2000, o título de Doutor Honoris Causa, pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. E em 2000 entrou nos “20 Brasileiros empreendedores do Século XX”, em um estudo feito  pela PPE (Personalidades Patrióticas Empreendedoras).

Manuel Bandeira / Rachel de Queiroz

Louvado para Rachel de Queiroz, por Manuel Bandeira


"Rachel de Queiroz Louvo o Padre, louvo o Filho, O Espírito Santo louvo. Louvo Rachel, minha amiga, nata e flor do nosso povo. Ninguém tão Brasil quanto ela, pois que, com ser do Ceará, tem de todos os Estados, do Rio Grande ao Pará. Tão Brasil: quero dizer Brasil de toda maneira -- brasílica, brasiliense, brasiliana, brasileira. Louvo o Padre, louvo o Filho, o Espírito Santo louvo. Louvo Rachel e, louvada uma vez, louvo-a de novo. Louvo a sua inteligência, e louvo o seu coração. Qual maior? Sinceramente, meus amigos, não sei não. Louvo os seus olhos bonitos, louvo a sua simpatia. Louvo a sua voz nortista, louvo o seu amor de tia. Louvo o Padre, louvo o Filho, o Espírito Santo louvo. Louvo Rachel, duas vezes louvada, e louvo-a de novo. Louvo o seu romance: O Quinze E os outros três; louvo As Três Marias especialmente, mais minhas que de vocês. Louvo a cronista gostosa. Louvo o seu teatro: Lampião e a nossa Beata Maria. Mas chega de louvação, porque, por mais que a louvemos, Nunca a louvaremos bem. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém"

Manuel Bandeira, em A Estrela da Vida Inteira


A CRONISTA CENTENÁRIA E CONTEMPORÂNEA:

Obras que foram inspiradas no trabalho de Rachel de Queiroz:

As Três Marias, Telenovela de 1980 - As Três Marias, Telenovela de 1980
Beata Maria do Ejito, Teleteatro exibido na TV Cultura - Beata Maria do Ejito, Teleteatro exibido na TV Cultura
Memorial de Maria Moura, Minissérie de 1994 - Memorial de Maria Moura, Minissérie de 1994
O Quinze, Longa de 2004 - O Quinze, Longa de 2004

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