Caso Juninho: A cultura da violência contra mulheres fortalecida por atletas

ROMERO RAFAEL
ROMERO RAFAEL
Publicado em 22/10/2017 às 13:00
Juninho deixa a delegacia sorrindo após ser liberado - Foto: Blog MeuSport / reprodução
Juninho deixa a delegacia sorrindo após ser liberado - Foto: Blog MeuSport / reprodução

Por João Victor, especial para o Social1

No Brasil, uma a cada três mulheres já sofreu algum tipo de violência. É o que aponta a última pesquisa realizada pelo Datafolha sobre violência doméstica contra a mulher. Mesmo diante de várias mobilizações e campanhas de conscientização por respeito a mulher, casos de violência ainda são comuns, sofridos diariamente na sociedade.

Na última semana, um caso em especial chamou atenção dos recifenses. Edmar Ribeiro da Costa Júnior, mais conhecido como Juninho, de 18 anos, atacante do Sport Club do Recife, foi preso por suspeita de ameaçar e agredir a ex-noiva. Autuado em flagrante pelos crimes de ameaça, injúria e agressão, Juninho foi liberado após pagar uma fiança no valor de R$ 10 mil. Na saída da delegacia, o atleta entrou no carro e retirou-se sorrindo, como se nada tivesse acontecido. Depois do ocorrido, Juninho entrou em campo como titular no jogo do dia 15, contra o Atlético-MG, na Ilha do Retiro, e, ao ser substituído, foi aplaudido pela torcida rubro-negra.

Adriana Duarte, socióloga e coordenadora do Coletivo Mulher e Vida, interpreta o caso de Juninho como uma situação clássica e, infelizmente, cultural da sociedade. "A questão da violência contra a mulher, como nesse caso, é uma questão cultural em uma sociedade machista patriarcal que vê a mulher como uma propriedade e um pertencimento, onde o corpo da mulher pertence ao homem e esse homem bate, espanca, mata, coíbe, proíbe, aprisiona e domina, e isso vai estar relacionado a vários espaços da sociedade. O que acontece é que somos educados para uma cultura de violência, uma cultura de transformar a diferença entre homens e mulheres em desigualdade e inferioridade, também sendo fortalecida pelo forte grau de impunidade, como se tudo fosse normal", comenta.

Patrícia Mello acusou Bernardo, ex-Vasco da Gama, de tê-la agredido - Foto: Agência O Dia / reprodução

Casos como o de Juninho são comuns no meio esportivo. Atletas de diversos esportes e países já se envolveram nesse tipo de situação. No Brasil, o último caso de maior repercussão nacional foi o do goleiro Bruno, acusado de mandar matar a modelo Eliza Samudio, em 2010, com quem teve um relacionamento e gerou um filho. Mas a lista é maior: o jogador Bernardo, ex-atacante do Vasco da Gama, foi acusado de agredir a socos e pontapés a ex-namorada, após uma discussão. Enquadrado na Lei Maria da Penha pelos crimes de lesão corporal, ameaça e injúria, motivos semelhantes ao de Juninho, Bernardo também foi liberado.

O ex-Botafogo Jobson chegando na delegacia para prestar esclarecimento - Foto: Blog Zé Dudu / reprodução

Jobson, ex-atacante do Botafogo, é um dos jogadores brasileiros com maior histórico de envolvimento em agressões, entre elas, duas contra mulheres. Em 2013, Jobson foi acusado de agredir a mulher durante uma discussão. Após prestar depoimento, o atleta passou uma noite preso e foi liberado. Já em 2016, o atacante foi preso no município de Conceição do Araguaia (PA), suspeito de estuprar quatro adolescentes. Após pagar uma fiança de dez salários mínimos, o jogador foi liberado, sob monitoramento por tornozeleira eletrônica, retornando à prisão, pouco tempo depois, por descumprimento de medidas.

O. J. Simpson com a ex-mulher Nicole, que teria sido assassinada por ele - Foto: Jim Smeal/Wireimage

Um dos principais casos envolvendo atletas e violência doméstica no mundo é o do ex-astro de futebol americano e ex-ator coadjuvante em filmes de Hollywood e shows da TV O.J. Simpson. No episódio que dividiu os EUA na discussão, o ídolo do esporte foi preso em 1994, suspeito de ter assassinado a facadas a ex-mulher, Nicole Brown, e o amigo dela, Ronald Goldman. Cinco anos antes do assassinato, Simpson já havia sido preso por agressões contra Nicole, porém, liberado em seguida. Em 1995, um ano após o crime, Simpson foi julgado e declarado inocente, posteriormente condenado a pagar indenização por danos e prejuízos causados às famílias. Em 2007, Simpson se envolveu em uma confusão com mais cinco amigos em cassino de Las Vegas, com discussões e tiros. Curiosamente, enquanto todos os seus amigos fizeram acordos com a justiça e foram liberados, Simpson foi condenado a 33 anos de prisão, ato que foi interpretado como uma tentativa de se fazer justiça ao assassinato de 1994.

O. J. Simpson, quando julgado inocente em assassinato da ex-mulher - Foto: Ray Mickshaw/FX

Últimas notícias