Outubro Rosa: a empatia e o poder do lenço na luta contra o câncer de mama

Mirella Martins
Mirella Martins
Publicado em 01/10/2017 às 11:18
Foto: Dayvison Nunes/ JC Imagem
Foto: Dayvison Nunes/ JC Imagem

Neste domingo (1) começa o Outubro Rosa, mês de prevenção e conscientização na luta contra o câncer de mama. Para encorajar as mulheres a fazerem seus exames periódicos e ajudar a quem passa por tratamento, o Social1 selecionou algumas histórias de mulheres que enfrentaram ou enfrentam a doença. Na primeira da série, vamos contar a de Maria Paula, dona do Instagram Lenço do Dia; uma guerreira que transformou a sua realidade numa linda trajetória de garra, superação e "ombro amigo".

Foto: Jornal do Commercio

Tudo começou aos 24 anos. O ano era 2011. Maria descobriu um câncer de mama, pouco tempo depois de ter se casado e terminado a faculdade de Direito. Na época, os planos eram aproveitar a vida de casada e estudar para concurso. "Eu estava vivendo uma vida nova e de repente tudo mudou", relembra. A descoberta aconteceu inesperadamente: enquanto estava numa sessão de RPG com a sua irmã, Maria sentiu uma dor e, pouco tempo depois, descobriu a doença ainda em estado primário. "Só ela que palpou. Eu digo que foi a mão de Deus".

Com a descoberta, ela começou sua vigília:  cirurgia,  radioterapia, quimioterapia e hormonoterapia. Apesar de sempre seguir à risca o tratamento, cinco anos depois da descoberta, a advogada foi mais uma vez surpreendida. "O meu médico ia me liberar para engravidar. Quando eu fiz uma ultrassonografia vaginal, a gente achou um nódulo no ovário", conta. "A partir daí eu descobri que estava com metástase. Eu era uma árvore de Natal. Em um exame que a gente faz, acende tudo que estava afetado", relembra.

Foto: Dayvison Nunes/ JC Imagem

"Estarei eternamente em tratamento..."

Com metástase no fígado, ovário, ossos, na pleura e nos linfonodos, Maria Paula iniciou um tratamento ainda mais pesado, chegando a tirar o ovário. Quando o câncer chega a esse nível, a medicina não cogita uma cura. Dai por diante, a advogada terá que aprender a controlar a doença, como já faz hoje em dia com alguns medicamentos. "Estarei eternamente em tratamento até eu morrer", relata.

Rede de amor

Na contra mão de tudo isso, Maria Paula descobriu uma rede enorme de amor e empatia. A história com o Instagram - que hoje conta com mais de 18 mil seguidores - também teve início com o câncer, quando ela precisou de doações de sangue. "Todo mundo começou a se mobilizar. A partir daí, muita gente começou a querer saber notícias e eu não dava conta. Eu pensei em criar um canal que eu consiga falar com todo mundo", conta.

Na época, alguns cogitaram que Maria Paula estaria morrendo devido à metástase e ela quis mostrar o contrário: "Eu preciso relatar meu dia a dia, para dizer que eu tenho uma vida normal. Mostrar que, apesar da doença, a gente consegue seguir normalmente e foi aí que surgiu o Lenço do Dia. Eu fiz uma alusão ao 'look do dia' das blogueiras. Eu uso o canal para disseminar informações de verdade sobre a doença", explica a advogada e agora digital influencer. "Eu descarrego meu coração ali", completa.

Foto: Dayvison Nunes/ JC Imagem

A partir do Lenço do Dia, Maria Paula foi convidada para participar do Onco Guia, ONG de apoio a familiares e pacientes com câncer. "Surgiu o convite de ser uma agente, que é justamente para disseminar informações de qualidade, formando uma rede de apoio".

O câncer de mama virou uma bandeira para a advogada, que se especializou em direito médico justamente para lutar pelos direitos das pessoas que possuem a doença. "Como advogada, eu estudo muito os procedimentos e a gente vai atrás para ver o que dar para fazer. E a rede também é isso: a gente acredita que quem não tem informação, não tem dúvida. A gente quer informar justamente para as pessoas questionarem", defende.

"O câncer não é o centro da minha vida"

Com a participação e o contato direto com outras pacientes, Maria Paula percebeu que muitos eram carentes de informações sobre o assunto. "Eu mesma, quando descobri, achei que ia morrer em dois meses. Então, eu fui procurar pessoas com o mesmo caso que eu e vi que não é o fim. É uma condição de vida diferente", defende. "O câncer não é o centro da minha vida".

Assim como inspira nas redes sociais, Maria Paula tentou adaptar a sua vida e viver da melhor maneira possível com a doença. Alguns sonhos, claro, precisaram ser adiados ou até mesmo "cancelados". "Eu tive que adaptar até meus sonhos", conta. Com a retirada do ovário, a advogada teve que deixar para trás o sonho de gestar um filho. "Acho que o importante é hoje, porque é o que a gente tem. O presente, realmente, é um presente", defende.

Foto: Dayvison Nunes/ JC Imagem

O Instagram

"O Instagram teve duas funções muito grandes para mim. Primeiro, uma rede de amor ao meu redor, porque tem muita gente torcendo e isso me estimula a não desistir. E o fato de ter conhecido pessoas que passam pelo o que eu passo e a gente ter conseguido trocar informações. Mesmo que a gente não more na mesma cidade, a gente vai trocando tudo". Além disso, Maria Paula conta que o outro ponto positivo foi a oportunidade que teve de desmistificar a doença. "É tirar o preconceito porque muitas vezes a gente não sabe o que está por vir e a gente se assusta, como eu me assustei", relata.

Foto: Dayvison Nunes/ JC Imagem

O câncer não vence

Sobre o que falaria para pessoas que estão na luta, a advogada encoraja: "Eu diria que sempre dá certo. O câncer nunca vence. Eu tenho amigas que acabaram falecendo, mas, mesmo assim, o câncer não vence para mim. Eu digo: 'viva o momento presente dando o seu máximo'. O tratamento não é fácil, mas a gente não está sempre mal. É o que eu diria para qualquer pessoa: 'viva hoje''.

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