A difícil missão de dois pais, duas crianças e muito amor

Mirella Martins
Mirella Martins
Publicado em 13/08/2017 às 9:31
Foto: Dayvison Nunes/ JC Imagem
Foto: Dayvison Nunes/ JC Imagem

Fechando as histórias de Dia dos Pais, o Social1 conversou com Mailton e Wilson Alves de Albuquerque. Há cinco anos, eles viraram notícias por ser o primeiro casal gay do Brasil a ter um filho por fertilização in vitro. Também conseguiram registrar o nome dos herdeiros com o nome dos dois pais nas certidões de nascimentos dos filhos, Theo, 3, e Maria Tereza, 5.

Foto: Dayvison Nunes/ JC Imagem

Casados há 20 anos, Mailton, enfermeiro, e Wilson, empresário, sentiram necessidade de adotar um filho após 10 anos juntos."Ia demorar demais. Até que a gente viu uma reportagem que a Justiça tinha autorizado os casais homossexuais a passar pela barriga solidária. Procuramos de imediato a clínica no Recife e falamos com uma prima nossa. Eles explicaram o processo", lembra Mailton, pai biológico de Maria, enquanto Theo é de Wilson.

"Tudo era muito novo. Iríamos ser o primeiro casal do Brasil e ninguém sabia nem o que responder. Até então era proibido. O conselho tinha uma lei de 1970, que só foi editada em janeiro de 2011. Preconceito? Não tinha nem conceito. Não existia nada. Era tudo muito novo. Surgiu muita curiosidade de deixar a coisa acontecer", conta Mailton, sobre o processo de fertilização. "A gente virou história no Brasil por conta disso, porque fizemos tudo na luz da lei e da justiça", completa o enfermeiro.

Licença paternidade

Foto: Dayvison Nunes/ JC Imagem

E as conquistas não pararam por aí. Com o nascimento de Theo, Mailton voltou a fazer história. "Eu, como servidor público da Prefeitura do Recife, fui o primeiro a ter licença paternidade estendida. Foram seis meses", conta, orgulhoso. "Não era privilegio o que a gente estava procurando. Eu, como servidor, estava pagando meus impostos e recolhendo tudo que a lei dizia", conta Mailton, orgulhoso. Vale ressaltar que após a conquista dele, todos os servidores públicos municipais - gays ou solteiros - conseguiram o mesmo direito.

Como explicar?

Desde o nascimento de Tereza, Mailton e Wilson recebem apoio de psicólogos infantis para o momento em que os filhos começarem os questionamentos. "As pessoas precisam saber a verdade. Só que essa verdade pode ser contada de forma científica ou lúdica. Eu tenho que contar a verdade na forma que os dois entendam", defende o enfermeiro.

"Tereza questiona mais. Porque na sala de aula dela são 20 alunos e os 19 têm pai e mãe. As amigas perguntam o porquê dos dois pais. Dei suporte para que ela entendesse a história e pudesse passar com naturalidade quando fosse questionada", relembra Mailton. "Ela entendeu que a família dela existia sim", disse o enfermeiro. Após uma sessão familiar com a psicologa, Tereza recebeu um livrinho com a sua história. Nesse mesmo dia, ela perguntou aos pais se podia dormir com ele. "Ela o abraçou e pegou no sono. É como se ela dissesse assim: ' essa é a minha história'", relembra.

Reação dos outros pais

"Por incrível que pareça, os pais dos amiguinhos de Maria Tereza nos procuram para agradecer porque, pela primeira vez, eles estão discutindo sexualidade com uma criança de cinco anos na mesa do jantar", conta Mailton. "Nossos filhos estão aprendendo, com o exemplo da sua filha, a respeitar as diferenças", relembra o enfermeiro sobre os agradecimentos dos pais.

Como eles ensinam? Simples: "Quando existe amor qualquer pessoa pode casar".

Ser pai é...

Foto: Dayvison Nunes/ JC Imagem

"A paternidade muda o sentido da vida. Você passa a ser menos egoísta. A gente ama de uma proporção que a gente não quer que a pessoa sofra", defende Mailton.

"A paternidade trouxe o sentimento de amor profundo", conta Wilson, relevando ainda que, para ele, uma palavra que diz muito do ato de ser pai é compreensão.

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