"Santo Genet e as Flores da Argélia" trata gênero e sexualidade sem hipocrisia nem censura

Romero Rafael
Romero Rafael
Publicado em 31/07/2017 às 17:42 | Atualizado em 17/06/2022 às 12:29
Cena de "Santo Genet e as Flores da Argélia" - Foto: Li Buarque/Divulgação
Cena de "Santo Genet e as Flores da Argélia" - Foto: Li Buarque/Divulgação

O Grupo Cênico Calabouço apresenta nova temporada da peça Santo Genet e as Flores da Argélia, de 3 a 6 e de 10 a 13 de agosto, no Teatro Hermilo Borba Filho. Sob dramaturgia e encenação de Breno Fittipaldi, a montagem baseia-se no livro Diário de um Ladrão, romance autobiográfico do escritor francês Jean Genet, em que trata de pederastia (a relação de homens mais velhos com mais novos), furto e traição, três pilares que desabrocham questões de relações de poder: opressores e oprimidos, religiosidade e santificações, violência e miséria, sempre como cenário de fundo as relações sexuais e de gênero. As sessões começam às 19h, das quintas aos sábados, e às 18h, aos domingos.

Foto: Li Buarque/Divulgação Foto: Li Buarque/Divulgação

A obra de Genet é somente ponto de partida. O espetáculo é contemporâneo, documental. Os 15 atores em cena são "Genets" de hoje, do Recife, do Brasil, numa geolocalização que interessa a quem assiste; com histórias que geram identificação ou reflexões urgentes. No primeiro bloco, cada um deles conta uma história da própria infância. Quase todos falam de experiências sexuais. Expõem a precariedade na formação sexual e a hipocrisia com que a sociedade e a família tratam o sexo: alimenta e aguça, mais tarde tolhe, aponta, marginaliza. Assim como a obra de Genet, alocada no "baixo mundo" parisiense, esta é uma peça sobre marginalizados.

Foto: Li Buarque/Divulgação Foto: Li Buarque/Divulgação

Debates importantes de nosso tempo, como o posicionamento sexual e político mais as questões de gênero - o que é ser homem, o que é ser mulher; o intersexo - também vêm à tona. Um dos atores/personagens relata o bullying por gostar de As Quatro Estações, de Sandy e Júnior; outro porque se emocionava com a nave de Xuxa chegando e com a música Lua de Cristal... Enfim, Santo Genet e as Flores da Argélia vale ser vista. De cabeça aberta, olhos vivos e ouvidos atentos.

Foto: Li Buarque/Divulgação Foto: Li Buarque/Divulgação

É um espetáculo de alma jovem, feito por jovens descomprometidos com meios-termos; atores em construção comprometidos com os personagens de forma que são representações ou são eles mesmos? Vão a fundo em aspectos da construção e da marginalização da sexualidade; a peça situa-se nesse paradoxo. E com muita liberdade. Spoiler: a cena de orgia é contemplativa e de uma entrega enorme dos atores/personagens. Todo o espetáculo, aliás, usa quase como recurso único os corpos.

Assista a um trecho:

FICHA TÉCNICA

Elenco - Alcides Córdova / André Xavier / Binha Lemos / Dara Duarte / Diôgo Sant’ana / Fábio Alves / Giovanni Ferreira / Hypolito Patzdorf / Ito Soares / Lucas Ferr / Luiz Carlos Filho / Marcos Pergentino / Natália Oliveira / Pedro Arruda / Shica Farias / William Oliveira

Elenco de apoio - Diogo Gomes e Roberio Lucado

Dramaturgia, encenação e sonoplastia – Breno Fittipaldi

Assistentes de encenação – Alcides Córdova, Hypólito Patzdorf e Nelson Lafayette

Preparação corporal – Hálison Santana e Hypolito Patzdorf

Preparação vocal e execução de sonoplastia – Nelson Lafayette

Preparação vocal e direção musical – Lucas Ferr

Assistentes de direção musical – Giovanni Ferreira e Natália Oliveira

Figurino – Paulo Pinheiro

Assistente de figurino – Natália Oliveira

Calçado – Jailson Marcos

Maquiagem – Vinícius Vieira

Assistente de maquiagem – Julienne de Sá, Pétala Felix e Sabrina França

Iluminação – Dara Duarte

Execução de luz – Aline Rodrigues / Tomaz Manzzi

Identidade visual / Plano de mídia artística – Alberto Saulo, Alcides Córdova e William Oliveira

Fotografias – Li Buarque e Maria Laura Catão

Ações formativas – Alberon Lemos

Equipe de Apoio – Adriane Lacerda, Lorenna Rocha, Paulo César Pereira, Pétala Felix e Rafael Motta

Produção executiva – Alcides Córdova e Binha Lemos

Produção geral – Grupo Cênico Calabouço

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