Laerte relembra descoberta e dá aula de sexualidade e gênero em entrevista ao "Conversa com Bial"

Mirella Martins
Mirella Martins
Publicado em 26/07/2017 às 11:52
Foto: Divulgação/ Globo
Foto: Divulgação/ Globo

Pedro Bial recebeu, nessa terça-feira (25), Laerte no programa Conversa com Bial. O apresentador já começou a atração chamando a cartunista e revelando: "Me avisaram para não me atrapalhar com o gênero. Não misturar ele com ela. Isso é um problema para você?". "É e não é. Eu vou responder muitas vezes sim e não. É porque muitas vezes esse erro traz um desrespeito. Mas não é porque, como você falou, até 58 anos eu era masculino e minha vida profissional toda se deu nisso", respondeu.

LEIA TAMBÉM: Laerte sobre seu documentário na Netflix : “Não é só sobre trans. É sobre todo mundo!”,

Idade

Questionada sobre o tempo que levou para se descobrir, Laerte explicou:"O tempo foi necessário para eu aceitar que tinha desejos por homens. Isso era um problema para mim. Tive uma vida heterossexual, mas também não foi nenhum drama. Mas, na raízes das crises conjugais, tinha um desejo que tava sufocado. E eu só entendi isso tardiamente. Quando resolvi viver minha sexualidade, a questão do gênero veio como brinde", completou a cartunista.

Ainda no papo, Laerte defendeu que não existe só uma forma de lidar com o assunto: "O gênero é vivido de muitas formas. Parte dos meus amigos dizia que, desde a infância, se sentia estranho no ninho". Para ela, no entanto, não foi bem assim. "Talvez porque minha família tivesse uma vivência flexível. Vivi as brincadeiras de meninos, mas minha mãe também me ensinou a cozinhar. E nunca fui chamado de menininha por isso, ou mariquinha...", disse.

Transição

Foto: Carol Caminha/ Divulgação

"Eu sou muito lenta. Durante muito tempo eu fingi que não era comigo, que estava tudo certo. Quando o terceiro casamento dançou eu pensei: 'não tá tudo certo'", revelou Laerte sobre o processo de descoberta. "Eu tava de unha feita e brinco. Aí o jornalista questionou, eu respondi: 'Bom é que eu me visto com roupas femininas'. Ele perguntou: 'Isso pode colocar na matéria?', eu disse que sim, afinal isso não é doença'', disse do momento em que realmente se assumiu publicamente como mulher.

Na entrevista, a artista relembrou a sua primeira vez vestida no feminino: "Sai com roupa feminina, fui à padaria. Fui com uma sainha jeans, mini, estava depilado, lá fui eu... Aí quando saí da padaria passou uma Kombi e fez fiu-fiu. É um pouco perturbador". "O que eu vivo é todo dia. Eu desisti de ter uma existência no masculino", completou.

Transgeneridade

Questionada sobre a ajuda que teve por ser pessoa pública, ela respondeu: "Para algumas pessoas isso é traumático. As pessoas são expulsas da família, da escola, de tudo, perdem tudo, perdem a dignidade e vão para a marginalidade, prostituição... E tudo isso traz um peso que não tem nada a ver".

"Por um lado a gente está aqui conversando sobre esse tema. Mas por outro lado a Dandara foi assassinada outro dia. E não é um fato isolado. Todo dia um trans é assassinado no Brasil", alertou ao falar da repercussão do assunto.

Família

A cartunista comentou ainda a reação da família: "Liguei para ela (mãe) e disse: "‘Vai ter uma matéria falando que me visto de mulher’. Ela disse :‘Tenho uns vestidos que não uso mais’. Um amor". "Meu neto me chama de avô. Sou pai, sou avô e sou mulher! Não tenho problema com isso", disse sobre o seu neto.

Filho...

Foto: Carol Caminha/Divulgação

Rafael Coutinho, filho da cartunista que seguiu o mesmo caminho que ela, participou do programa. "Foi ali pelos 2 anos de idade", brincou o rapaz sobre a descoberta. "Se a casa dele era liberal, a minha era muito mais", disse. "Eu achei tranquilo", contou Laerte sobre o momento que em relevou para os parentes.

Últimas notícias