"Não sou negra, mas tenho filhas e luto por elas", afirma Samara Felippo

Anneliese Pires
Anneliese Pires
Publicado em 13/07/2017 às 18:23
Samara Felippo e as filhas /Foto: Reprodução
Samara Felippo e as filhas /Foto: Reprodução

Mãe duas meninas com ascendência negra e com cabelos crespos, Samara Felippo se viu no papel de questionar e levantar um debate sobre representatividade negra, feminismo e empoderamento infantil. Aos 38 anos, a atriz contou em entrevista ao site UOL, na última quarta-feira (12), que pretende lançar um canal no YouTube para dar continuidade ao que já faz em seu Instagram, onde tem mais de 521 mil seguidores, para discutir sobre esses temas, ao lado da filha mais velha, Alícia, de 8 anos.

"Realmente não sou negra, não tenho cachos, mas tenho filhas e luto por elas. E vou fazer isso até que elas possam assumir seus lugares de fala na sociedade. Podem criticar (o fato de eu ser branca), mas vou falar e massificar o quanto eu puder essa questão que se faz necessária. Enquanto puder falar por elas, falarei", desabafou.

O engajamento de Samara começou quando a pequena Alícia perguntou à mãe por que não existiam meninas com cabelos cacheados em sua escola e disse que não gostava de seus fios. Foi quando a atriz percebeu que precisava passar confiança para a menina: "Achava que entendia tudo, mas somos tão arraigados com racismo, machismo e todos esses preconceitos, que cometemos erros sem perceber. Como manter o cabelo amarrado para abaixar o volume ou pentear e fazer comentários do tipo ‘como dá trabalho’. A criança cresce pensando que o cabelo dela é um fardo".

"Ela não se vê representada em lugar nenhum. E é muito óbvio, pois não existe representatividade negra na mídia, na moda, nos desenhos animados, nos brinquedos. Uma criança negra crescer com um monte de Barbie loira ao redor. Na sala dela, só tem um menino negro, mas ela não se vê ali", disse Samara sobre a ausência de semelhanças físicas entre as filhas e outras pessoas com quem elas interagem no dia a dia.

Por não ser negra, Samara Felippo reconhece que não é a melhor pessoa para falar sobre o assunto, mas acredita que seu engajamento seja importante para garantir um lugar de fala na sociedade às filhas Alícia e Lara, 4 anos – fruto do seu relacionamento com o jogador de basquete Leandrinho.

No Instagram, a atriz falou sobre o nome do novo canal sobre representatividade infantil e questões raciais:

A atriz está preparada para as críticas sobre o seu posicionamento e afirma não temer que isso aconteça: "Não tenho lugar de fala algum para falar sobre cabelos crespos ou sobre ser negra, exceto por ter filhas de um pai negro e saber que um dia elas podem sofrer racismo. Se um dia isso ocorrer, quero que elas estejam de cabeça erguida, empoderadas. Tenham poder sobre si e sua identidade. Não quero me sentir frustrada, sou uma mãe que quer dar autonomia e independência para elas", finalizou.

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