Laerte sobre seu documentário na Netflix : “Não é só sobre trans. É sobre todo mundo!”,

Mirella Martins
Mirella Martins
Publicado em 20/05/2017 às 16:00
Foto: Reprodução
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Laerte-se, documentário da Netflix sobre o colunista Laerte, estreou nessa sexta-feira (19) no serviço. Em entrevista ao site PapelPop, ele falou sobre o foco da história, escrita e dirigida por Eliane Brum e Lygia Barbosa da Silva. "Parte de mim acha que isso é um processo meu e que ninguém tem nada com isso, e outra parte acha que todo mundo tem a ver com isso e eu tenho a ver com todo mundo também", disse ela que se assumiu trans em 2008.

"Pra mim, ser gay era um tabu, quase uma maldição, porque esse assunto sempre aparecia como doença, crime ou pecado”, conta Laerte, cujo transgeneridade veio à tona a partir de Muriel, uma personagem dela que estava em constante transformação – e que, na maior parte do tempo, era Hugo, apenas um homem que gostava de se vestir como mulher. “Aí alguém veio e falou: ‘isso aí a gente faz e parece que você quer fazer também’. Foi aí que eu percebi que aquilo não era um recurso de roteiro, uma piada. Era algo pessoal”, explica ela. Para Eliane Brum, “as tirinhas testam a realidade antes da Laerte", continuou a colunista.

"Eu levei 60 anos, gente!"

"As pessoas usam o ‘coragem’ pra definir o meu processo e eu penso: eu levei 60 anos, gente! Só fiz isso depois que meus filhos estavam grandes, sabendo que eu teria pouca perda de público. Dei esse passo com a noção de que eu estava correndo muito pouco risco. O que assombra e aterroriza as pessoas é justamente o risco da carreira, da família, do bullying com os filhos na escola. E aí elas ficam só com o sábado a noite com as minhas amigas. Meu risco foi calculado. Já os jovens que expõem sua expressão de gênero e sexualidade enfrentam barras trágicas, visto que a quantidade de mortes no Brasil não é pouca. Situações em que a pessoa é expulsa da escola, da comunidade, é estigmatizada e é obrigada a se cobrir de couraças… É horrível", conta Laerte sobre o processo de aceitação.

Por fim, Laerte fez questão de deixar claro que o documentário é para todos. "Não estamos falando só de travestis, trans e drags, mas da relação de homens e mulheres, da violência de gênero que envolve estupros a cada 20 minutos no Brasil, de assassinatos LGBTQ+, das mulheres no mercado de trabalho, na política. Desmitificar essa suposta sacralidade do gênero é um trabalho muito importante a ser cumprido por filmes como esse. Nem sempre a sociedade está preparada, mas é uma investigação que tem que ir a fundo. O filme presta um bom serviço no sentido de trazer um amadurecimento pra sociedade", disse.

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