Mãe e pai: O desafio de Cristina como "pãe" de três filhas

Mirella Martins
Mirella Martins
Publicado em 12/05/2017 às 11:24
Foto: Dayvison Nunes/ JC Imagem
Foto: Dayvison Nunes/ JC Imagem

Nesta sexta (12), o Social1 começa o Especial Dia das Mães. Serão três histórias sobre quando a vida de mães e filhos estão ligadas para além do fator biológico:

A casa não é a mais arrumada do mundo. A rotina é frenética: acorda, toma café, leva na escola, academia, trabalho, trânsito. Os estresses, claro, são muitos. Mas, ao fim do dia, nada disso amarga a escolha de ser mãe, feita a cerca de 20 anos atrás. "Mãe para mim foi o que me completou, foi como eu me realizei como ser humano e mulher. É muita doação, muita dedicação. E a gente recebe muita coisa deles. Aprendo muito com elas, todo dia. Elas nem sabem como eu aprendo. E a gente tem que se esquecer um pouco da gente", conta Maria Cristina Figueira, de 50 anos, coordenadora do curso de Enfermagem da Faculdade Pernambucana de Saúde e mãe de três meninas: Fernanda, 21 anos, Beatriz, 17, e Clara, 15.

Foi de uma hora para outra que Cristina se transformou em uma "pãe": palavra informal que designa paternidade à mãe. "Me casei com 27 anos, grávida de Fernanda, minha primeira filha. Era um casamento supertranquilo, mas com cinco anos de casados ele sofreu um acidente de carro e faleceu. Bia, minha segunda filha, tinha 1 ano. E eu não sabia que estava grávida de Clara. E aí foi difícil, o momento da perda, o luto, tudo", relembra.

Fernanda, Beatriz, Clara e Cristina Figueira. Foto: Dayvison Nunes / JC Imagem

Apesar de não estar sozinha, já que sempre contou com a ajuda da família, Cristina precisou lidar com especificidades. Clara, a mais nova, nasceu com dificuldades motoras. "Clarinha veio como uma luz, para clarear as histórias, porque ela veio com todas as sabedorias e as dificuldades que ela tem. E foi o que fez a gente tocar a bola para frente. As três nunca me deixaram tropeçar. Nem me entregar", diz.

"Coloca um batom vermelho"

Desistir não era uma opção, ainda que em alguns dias o pensamento fosse esse. Entre as memórias coletadas após a perda do pais das filhas, Cristina recorda uma bem especial. "Nanda chegou um dia, acho que eu tava meio abatida por causa da gravidez, e disse: 'Mamãe, essa casa não é uma casa triste. Bote um batom vermelho na boca'. No outro dia eu tava com a boca pintada de vermelho. E assim foi", relata.

Fernanda, Beatriz, Clara e Cristina Figueira. Foto: Dayvison Nunes / JC Imagem

"Ser mãe é padecer..."

O primeiro expediente começa por volta das 5 h, horário em que Cristina acorda para colocar o café das meninas. "Eu digo que é uma educação a distância. A gente resolve muita coisa pelo telefone. Bom, hoje em dia, a coisa já está mais fácil. Mas eu me levanto às 4h45, faço o café das duas mais novas, acordo as duas, dou o banho de Clara e levo para as escolas. E em seguida vou malhar", conta. "Eu trabalho longe e só volto no fim do dia, e muitas vezes quando a gente abre a porta é 'Mãe, mãe, mãe', as três chamando, cada uma com um problema. E aí vai. Eu faço o terceiro ou quarto expediente, mas não me vejo fazendo diferente", completa a mãe, apesar de admitir que "o barco maior" fica para ela.

Um dos medos de Cristina está muito ligado às escolhas que precisa tomar sozinha: "Não tem como a gente dividir. Todas as escolhas são minhas. E quando eu termino o dia eu penso: 'Meu deus, será que era isso que eu devia ter feito? Talvez se tivesse um pai para dar um outro olhar, sabe?". E ela segue: "Entre tapas e beijos a gente segue muito unidas. Até hoje é muito difícil. Eu tenho agora um companheiro, que é um paidrasto bem legal, mas na hora da decisão não é com ele, é comigo. De decidir se vou operar ou não Clara agora. Só eu posso decidir isso. O médico não ajuda, só eu posso escolher".

"...no paraíso?"

Fernanda, Beatriz, Clara e Cristina Figueira. Foto: Dayvison Nunes / JC Imagem

"Elas amadureceram junto comigo. Eu convivi muito com elas e elas têm uma visão de mundo bem legal, cada uma dentro do seu estilo. Acho que a gente ficou muito forte, sabe? Muito unidas. Eu me orgulho delas. De terem deixado se moldar pelas coisas que eu acredito. O lado positivo é quem elas são, quem elas se transformaram", diz, direto do seu paraíso particular.

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