Belo Horizonte - O desfile da grife mineira Doisélles, nesta quinta (6), no Minas Trend, provocou bastante em quem assistiu: a estilista Raquell Guimarães levou à passarela beleza e uma discussão sobre liberdade e ressocialização. Ao som de Ainda Há Tempo, de Criolo - que tem os versos "As pessoas não são más, mano, elas só estão perdidas. Ainda há tempo'' -, Raquell mostrou o resultado do trabalho que desenvolve desde 2008 com sentenciados do Estado de Minas Gerais. Peças belíssimas em tricô, crochê e malha, todas confeccionadas por detentas e detentos. Através da Lei de Execução Penal, a estilista contrata mão de obra de sentenciados. "O dia a dia é de uma empresa normal, com trabalhadores e empregadores", disse ela, sobre a rotina no ateliê que mantém na penitenciária. Hoje, 40 deles são seus funcionários.
"Eu não me relaciono com o crime. Na oficina entra a pessoa, o delito fica do lado de fora. Pelo delito ela está pagando à sociedade com a privação da liberdade dela. Pra mim, ela é trabalhadora", contou Raquell, sobre Marcella Moreira, que está detida no Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, na capital mineira, onde trabalha na produção da grife, e participou do desfile por autorização judicial, escoltada por agentes penitenciários.
"O trabalho cria auto-estima, porque a pessoa aprende uma profissão e sai com a experiência de já ter trabalhado numa empresa. Sai da prisão com a capacidade de não tomar uma porta na cara por ser ex-detenta", falou a estilista, que já coleciona histórias bonitas de ressocialização. Um ex-sentenciado por roubo, agora em liberdade, trabalha no departamento financeiro da Doisélles, por exemplo.
Confira o trabalho:
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*Repórter viajou a convite da FIEMG