Patrícia Vasconcelos tem uma missão delicada. Ainda refazendo-se da perda de Naná Vasconcelos, há um mês, ela sente que precisa reagir logo, para proteger a obra do marido. “Há pessoas que não tinham nada a ver com Naná; que sequer conversaram com ele em vida, se antecipando com homenagens, projetos... É deselegante!”, desabafa. Ela tem pinçado os trabalhos inacabados dele e pretende se reunir com a Prefeitura do Recife, para discutir a abertura do Carnaval (“Há gente querendo o lugar que ele conquistou, como se fosse fácil pegar na baqueta.”), e com grupos que eram ligados ao trabalho do célebre percussionista, como o Voz Nagô. “Eu vou preservar a obra de Naná, vou tocar como ele queria... Acho lindo o amor, mas tem de ter cuidado. O afã por ganhar dinheiro pode banalizar. E a obra dele é preciosa.”
Os planos de Patrícia - a continuidade de Naná - para já são: alimentar o site para abastecer de informações os novos interessados no trabalho dele e produzir o disco Budista afrobudista. O projeto e o nome eram de Naná, a partir do título de uma reportagem publicada pelo jornal argentino La Nación, ano passado: El budista afro de la percusión. Patrícia levou a música-título para que Egberto Gismonti termine. Há, ainda, Amém amém, composta no hospital com Gil Jardim - para esta, Naná gravou voz num iPod, que pode ser usada. Ainda com Jardim há três músicas que eram para a trilha do filme As tentações de São Sebastião. E, por fim, há 60% da trilha para o espetáculo de balé do projeto Dança Vida, de São Paulo.
Reconhecimento - Patrícia tem recebido material publicado sobre Naná Vasconcelos no mundo inteiro. Um na Turquia traduzia-se por "A voz da natureza silenciou". Do Japão recebeu vários nos últimos dias: revistas, fotos, vídeos... É que na terça (12), Egberto Gismonti, que era grande parceiro dele, segue para o país asiático tocando só a turnê que fariam juntos. A turnê encaminha-se para virar um tributo. "Eu agradeço muito essa corrente de amor!"
