Neta de Gilberto Freyre que vive em Cabo Verde apresenta encantos do país

ROMERO RAFAEL
ROMERO RAFAEL
Publicado em 05/06/2015 às 8:00
Vista da cidade da Praia/Foto: reprodução da internet
Vista da cidade da Praia/Foto: reprodução da internet

Kika Freyre, à direita, com o marido, o cabo-verdiano Joakim David Monteiro, e a filha do casal, Maria Luísa/Foto: reprodução do Facebook Kika Freyre, à direita, com o marido, o cabo-verdiano Joakim David Monteiro, e a filha do casal, Maria Luísa/Foto: reprodução do Facebook

Decola à meia-noite desta sexta (5) o primeiro voo da TACV ligando o Recife à Praia, capital de Cabo Verde, na costa africana, onde a psicóloga Kika Freyre, neta do sociólogo Gilberto Freyre, vive desde 2010. Ela nos oferece um guia de encantos no pequeno país, que é formado por dez ilhas, com população em torno dos 500 mil habitantes. Acompanhe:

Cabo Verde, na verdade, é verde só em poucas épocas do ano. Na maior parte do tempo, a vegetação seca, pela ausência de chuvas, nos transporta ao cenário do nosso Sertão, muitas vezes com rebanhos de cabras atravessando a estrada, até mesmo na capital, em busca de algum pedacinho de pasto, ainda que seja em praça pública. Boa parte da cidade da Praia é litoral, “praia de mar”, o que mesmo no calor intenso do verão (e calor africano não é brincadeira!!!) ainda nos dá o direito de algum fiozinho de brisa e o contorno da paisagem sempre no movimento das ondas azuis.

Vista da cidade da Praia/Foto: reprodução da internet Vista da cidade da Praia/Foto: reprodução da internet

O bairro mais antigo da capital fica lá no alto e atende pelo nome de Plateau - planalto, em francês. Ali nasceu a cidade e é onde funciona boa parte dela, como a Câmara Municipal (Prefeitura), Tribunal de Justiça, Palácio da Presidência da República, igreja matriz, hospital central, alguns ministérios, comércio, além de praças lindas, cafés maravilhosos e uma vista para o mar, com toda a cidade ao redor parecendo estar subterrânea, vista lá de cima na companhia da estátua de Diogo Gomes, que em 1460 encontrou estes grãozinhos de terra plantados no meio do Atlântico.

No Plateau também está o Palácio da Cultura, o Museu Etnográfico, onde podemos conhecer um bocadinho do modus vivendi dos antepassados daqui e compreender um tanto da cultura local. Este museu fica numa rua pedonal que costuma abrigar feirinhas, espetáculos, a Feira da Palavra, a Noite Branca… Ali também está o Mercado Central que, aos sábados, ferve de gente, de cores, de cheiros, onde se compra verduras fresquinhas, frutas, peixes e ervas curandeiras, os chamados “remédios di terra”. O Plateau é o coração da Praia. Pulsa mesmo. Tem sempre gente linda, de roupa colorida, andando, correndo, passeando, vendendo seu peixe ou sua verdura com balaio na cabeça, que cruza contigo e te convida a negociar. É no Plateau que também acontece, a meu ver, o melhor espetáculo promovido nesta terra crioula, o Kriol Jazz Festival, normalmente no mês de abril.

Plateau/Foto: reprodução da internet Rua do Plateau/Foto: reprodução da internet

Clique de cabo-verdianas no mercado da Praia/Foto: reprodução da internet Clique de cabo-verdianas no mercado da Praia/Foto: reprodução da internet

Há dois grandes hotéis na Praia, de duas grandes redes, Pestana e Oasis, além do Hotel VIP, no Praia Shopping, que oferecem conforto e aconchego com vista para o mar. Para além destes, há diversas pousadas e apartamentos, de modo que há espaço para muita gente - é só chegar! Come-se muito, e muito bem, aqui! Há excelentes restaurantes de comida local, portuguesa, italiana, rodizio e à la carte. O peixe é o forte por cá. Atum e serra comandam. A comida cabo-verdiana deve estar entre as mais saudáveis do mundo: come-se peixe com fartura, muita macaxeira, couve, milho, feijão. O prato típico é a cachupa, uma espécie de feijoada-meio-munguzá. De-li-ci-o-sa! Há barzinhos formidáveis para o happy hour e discotecas para quem quiser esticar a noite ao som de quizombas e funanás.

Cachupa Cachupa, a feijoada-meio-munguzá, que é prato típico/Foto: reprodução da internet

Ouça uma quizomba:

https://www.youtube.com/watch?v=43zknNCEU-Y

E um funaná:

https://www.youtube.com/watch?v=m5NrXGoNtag

Há duas praias lindas na capital, para banho, a Prainha e Quebra-canela. O idioma local é o crioulo, apesar da língua oficial ser o português. Mas o crioulo é uma espécie de português amanteigado, onde as palavras escorregam e parecem fugir à nossa capacidade de perceber. Para ouvidos atentos, no entanto, não há mistério e há muita similaridade com o nosso jeito matuto de falar. É lindo esse dar-se conta do crioulo tão parecido com a nossa fala lá de dentro; dá um sentido de pertença forte, uma sensação de não se estar tão longe assim da nossa gema…

Quebra-canela Quebra-canela/Foto:  reprodução da internet

Pertinho da Praia está a Cidade Velha, Patrimônio da Humanidade. Lá chegaram os portugueses na primeira vez que pisaram aqui. Ali foi construída a primeira igreja católica em continente africano. Um lugar lindíssimo, um pôr do sol desigual, um passeio imperdível.

A Cidade Velha vista de cima/Foto: reprodução da internet A Cidade Velha vista de cima/Foto: reprodução da internet

Igreja Nossa Senhora do Rosário, construída em 1495, a mais antiga igreja colonial do mundo/Foto: reprodução da internet Igreja Nossa Senhora do Rosário, construída em 1495, a mais antiga igreja colonial do mundo/Foto: reprodução da internet

Na ponta norte da Ilha de Santiago, há menos de 70km, está uma praia lindíssima, chamada Tarrafal. Areia branca, maria-farinha, água azul, recifes de corais. Um cenário particularmente geminado com o que há de mais lindo nas praias pernambucanas, só que com o acréscimo das montanhas invadindo, atrevidas, mar a dentro. Serra e mar aqui convivem por vezes siamesas. Uma paisagem singular, que convida ao desfrute e devaneio e pode ser celebrada com uma peixada suculenta nos restaurantes-de-beira-de-praia, com peixe fresquinho, chegado na hora nos barcos coloridos. Ainda no Tarrafal é possível visitar o museu onde funcionava o antigo Campo de Concentração de Presos Políticos no período colonial. Um panorama forte para contrastar com a suave vista para o mar um bocadinho adiante. É possível ir e voltar no mesmo dia (Praia-Tarrafal). Um passeio a não perder, inclusive pela vista geral da ilha durante a viagem, a passagem pela cidade de Assomada, pela Serra Malagueta…

Campo de Concentração do Tarrafal/Foto: Divulgação Campo de Concentração do Tarrafal/Foto: reprodução da internet

A vista de Assomara/Foto: reprodução da internet A vista de Assomada/Foto: reprodução da internet

A Serra Malagueta, onde é possível fazer trilha/Foto: Attila/reprodução A Serra Malagueta, onde é possível fazer trilha/Foto: Attila Bertalan/reprodução

Três cliques da praia do Tarrafal (Fotos cedidas por Kika Freyre):

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Falar de tudo um pouco daria um livro, melhor mesmo é ver de perto e confirmar que não é exagero quando falo das belezas desta terra, do bem que nos sentimos em estar aqui, dessa saudade inexplicável que aperta ainda antes de se ir embora… Não é a toa que a marca registrada deste país é a morabeza, ou seja, o aconchego, a arte de bem receber; e isso faz com que quando se vá embora, o coração leve tatuada aquela velha vontade de voltar…

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