Entrevista: "Carbono é uma molécula de muitas pessoas", diz Lenine sobre novo trabalho

ROMERO RAFAEL
ROMERO RAFAEL
Publicado em 15/05/2015 às 21:30
Lenine em registro durante o show de Fortaleza/Foto: Social1
Lenine em registro durante o show de Fortaleza/Foto: Social1

O cantor e compositor pernambucano Lenine está agora na estrada com turnê nova de seu mais recente trabalho, Carbono, lançado no dia 30 de abril. No fim de semana, em Fortaleza, num show que lotou a Praça Verde do Dragão do Mar, Lenine estreou a turnê no Nordeste e conversou com o Social1, no camarim, sobre a obra, a que se refere como sua "cria nova". Perguntado quando virá ao Recife, respondeu: "logo, logo!", com sorriso de mistério.

Lenine em registro durante o show de Fortaleza/Foto: Social1 Lenine em registro durante o show de Fortaleza/Foto: Social1

Carbono veio da sua relação com a química?

Eu já estava apaixonado pela palavra independente dessa minha paixão pela química. É uma constante no meu trabalho: quando tenho desejo de fazer um projeto, a primeira coisa em que eu penso é na ambiência, e portanto a primeira coisa tem que ser um título que agregue tudo o que eu procuro. Desde Labiata (CD anterior) que a minha tentativa é não fazer uma coletânea de contos, mas sim um romance. Então, o desencadear de cada canção, tudo, foi meio que pensado: tem muita legenda, muita coisa que, eu espero, as pessoas descubram nas audições. Agora estou orgulhoso como pai lambendo a cria nova. [risos]

Foram só três meses para fazê-lo?

Foram dois meses de gravação, mixagem e masterização... Uma tsunami. Nunca fiz em tão pouco tempo. Nem também a simultaneidade de estrear show e disco.

Você lançou o CD e estreou o show no mesmo dia, 30 de abril, isso?

Isso. A gente queria que o disco fosse quase como o ingresso físico do evento. Então para eu poder estrear o show no dia 30 de abril, como a gente tinha programado, tinha que terminar no dia 30 de março. Para ter tempo hábil de produzir o show. Foi tudo feito assim, no meio da tsunami.

Gostou dessa experiência?

Depois de tantos anos produzindo, acho que o caminho é o melhor de tudo - o caminho, o desejo e o estímulo - porque muitas vezes as coisas se perdem. O que você vai ver aqui [no show] já é uma adaptação das coisas que a gente fez no estúdio. O estúdio já foi, como uma foto que eu fiz. O filme está acontecendo e começou agora. Então, ainda é tudo muito novo. Eu não consegui descolar a ponto de olhar para o filho de longe. [risos]

Voltando à primeira pergunta, em você, tudo começa pela palavra?

Perfeito. Todas as músicas do Carbono foram escritas sob a égide do carbono. Elas falam disso, a palavra aparece em vários momentos do disco. É uma coisa intencional e também o desencadear: uma canção aqui e a outra em sequência... Existe uma história sendo contada ali.

https://youtu.be/nLrIj677ZPE

Desse trabalho o que você escreveria numa folha de carbono para reproduzir?

É engraçado você dizer papel carbono, porque já é outra conotação que a palavra tem e que eu não usei. Eu ainda pensei... Mas cada projeto é um fotografia a partir do nosso olhar. Significa dizer que é uma crônica, parecido com o que você faz. É uma reportagem o que eu faço. O Carbono  tem também uma coisa coletiva. Não por acaso a música que abre, Castanho, diz "O que eu sou, eu sou em par, não cheguei sozinho". Essa coisa de poder estar com o núcleo duro tocando junto - que é o Pantico Rocha (baterista), Guila (baixista), JR Tostoi (guitarrista) e Bruno Giorgi (guitarrista e bandolinista) -, o fato de poder ter contato com tantos amigos e cúmplices de criação - como Carlos Malta, Marcos Suzano, Carlos Rennó, Lula Queiroga -, e também com a turma mais recente - Vinícius Calderoni, Carlos Posada, João Cavalcanti, meu filho, mas que é a primeira canção que a gente fez... É um disco que congrega muita gente. Todos, de uma maneira ou de outra, me ajudaram a fazer esse projeto. O Carbono, antes de tudo, tem essa coisa alotrópica. Ele juntou e fez uma molécula só de muitas pessoas, muitos elementos. O disco está carregado dessas pessoas.

Falando em parceria, sobre a sua com Nação Zumbi, que foi muito repercutida, qual representatividade tem para você?

Tem total. Você veja que, quando falei dos novos nem falei do Nação, porque não são novos. Pupillo falou uma coisa muito bacana: a gente estava acumulando conversas para ter o que fazer juntos. É uma verdade. [risos] Tínhamos uma admiração profunda, somos do mesmo lugar, trabalhamos com música contemporânea... Quando pensei em Cupim de ferro me ocorreu eles imediatamente ao tema. Liguei para o Pupillo e perguntei como é a mecânica quando eles fazem disco, que é outra característica do Carbono - cada faixa foi uma mecânica diferente, uma equação diferente para resolver. Foi só uma sessão e a gente fez a canção; todos num estúdio. Foi muito coletivo e delicioso. Novos velhos amigos. [risos] Era uma questão de tempo mesmo.

Assista à entrevista curtinha feita no camarim e transmitida via Periscope antes do show:

https://www.youtube.com/watch?v=HADnGeby9xc&feature=youtu.be

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