A resistência do projeto "Faça Amor, Não Faça Chapinha"

Mirella Martins
Mirella Martins
Publicado em 09/12/2014 às 9:03
faça amor6 FOTO:

faça amor Da esquerda para a direta: Letícia Carvalho, Amanda Bomfim, Nathália Ferreira e Katarina Mendes.

Já no ensino médio aprendemos que o gene do cabelo cacheado é predominante ao liso. O professor passa horas nos explicando que quem tem cabelo encaracolado e crespo é Aa ou AA, enquanto liso é aa. A teoria parece ser difícil de entender, então as meninas do projeto “Faça Amor, Não Faça Chapinha” foram para a prática e começaram a desenhar o esboço do que se tornaria não só uma interação entre ‘pessoas cacheadas’, mas também um manifesto à favor da resistência dos cachos.

faça amor1 "Pra gostar de mim, tem que gostar do meu cabelo também! Chega de gente com gosto falso! E esse pensamento é compartilhado por um monte de gente hoje em dia, fico feliz por isso!" Letícia Carvalho, uma das idealizadoras do projeto.

Letícia Carvalho, de 17 anos foi a responsável pelo desenho que hoje é símbolo e logomarca do projeto. Em 2013, inspirada pela fanpage ‘Faça Amor, Não Faça Barba’, Letícia fez seu primeiro rascunho, tirou uma foto e compartilhou com seus amigos. No momento inicial, ela não esperava que aquela imagem faria tanto sucesso. “Tirei uma foto bem feiosa na webcam e postei no meu facebook com a legenda que hoje dá nome ao projeto e, para minha surpresa, a imagem rendeu muito. Uma das pessoas que viu a imagem, a Amanda Bomfim, pediu para criar uma página com a frase e a chamei para me ajudar”, conta Letícia. No início, quatro garotas ficaram à frente do projeto: Letícia, Nathália Ferreira, Amanda, Nathália Hera e Rayana Soares.

Entre camisetas, bottons, bolsas e desenhos, as meninas conquistaram a atenção e carinho de pessoas de todo o Brasil, que passaram a enviar as próprias fotos, algumas vezes acompanhadas de uma experiência de vida contando as dificuldades e os prazeres de revelar a cabeleira ondulada.

Primeiro esboço da logomarca tirada pela webcam. Primeiro esboço da logomarca tirada pela webcam.

Atualmente são mais de 100 mil seguidores no facebook, mais de 3 mil histórias relatadas e dois encontros oficiais, que em 2015 a promessa é de que mais sejam realizados. Nos encontros, são feitas rodas de conversa e gincanas para deixar todos mais à vontade e também usando como temas as brincadeiras de “mau gosto” e preconceitos são divididos para que, juntas, ela possam se unir e encarar o dia a dia com mais tranquilidade. “Esses momentos são muito importantes, porque tem muitas pessoas que, por não conseguirem responder e encarar os preconceituosos, acabam sofrendo ainda mais. Na infância, as crianças escutam muito que o cabelo delas é ruim, é ‘fuá’, e elas acabam tomando isso como verdade. Quando crescem, têm vergonha do próprio cabelo e passam por muitos processos para alisar. É para isso que os encontros servem, para que possamos externar nossas experiências e compartilhá-las entre nós", diz Letícia.

Projeto presente no encerramento da Semana de Consciência Negra da Escola Oliveira Lima. Projeto presente no encerramento da Semana de Consciência Negra da Escola Oliveira Lima.

Com o sucesso da página, as meninas passaram a enviar seus produtos para diversos estados, entre eles São Paulo e Minas, os que mais compraram depois dos pernambucanos. E entre entradas e saídas, hoje elas são 5: Amanda, Letícia e Nathália, presentes desde o início, e Alice do Monte e Katarina Mendes.

faça amor4 Foto: Fernanda Cavalcanti

Vencendo o preconceito, enaltecendo o orgulho de ter cabelos crespos e cacheados, partilhando ideias e vivências, um pequeno grupo de meninas mostrou a todos que a representatividade dos cabelos precisa ser mostrada para que tabus e outros tipos de preconceito sejam quebrados, encorajando a liberdade dos cachos. Essa luta é uma luta diária, mas que não pode ser feita sozinha, então... faça amor, não faça chapinha!

Para conferir a fanpage do projeto no facebook, acesse: Faça Amor, Não Faça Chapinha

Foto: Fernanda Cavalcanti

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