"Gastei alguns reais com terapia", diz Scandurra sobre briga com Nasi e fim do Ira!

ROMERO RAFAEL
ROMERO RAFAEL
Publicado em 11/08/2014 às 22:00
6199_creditos_-_gabriel_wickbold (1) FOTO:

Turnê da reconciliação. Assim vem sendo chamada a volta do Ira!, grupo formado no início dos anos 80, expoente do rock'n'roll tupiniquim, desfeito em 2007 sob motivos não menos rock: antigos desentendimentos do vocalista, Nasi, com os demais integrantes. O guitarrista Edgard Scandurra, no outro lado da gangorra, falou ao Social1 sobre o reencontro com Nasi e o retorno aos palcos desde maio. Quer ser testemunha dessa reconciliação? O show rola sexta (15), às 21h, no Teatro RioMar. Antes, vamos à conversa:

6199_creditos_-_gabriel_wickbold (1) Scandurra e Nasi em ensaio para divulgação da turnê de reconciliação/Foto: Gabriel Wickbold/Divulgação

Como é essa turnê de reconciliação?

Uma grande celebração. Vejo caras muito felizes e nós damos o máximo para que cada show seja inesquecível; que marque a vida do público e da gente. O último [no Circo Voador] foi emocionante. Um público muito incendiário.

Quando decidiram juntar os instrumentos de volta?

No ano passado eu fui tomar dicas de produção com o Junior [Airton Valadão, irmão de Nasi e, à época da briga, empresário da Ira!] e ele contou que o Nasi queria falar comigo, mas estava meio sem jeito. Nos falamos e ele disse que gostaria de apagar as lembranças ruins, passar uma borracha no passado. Era o que eu queria ouvir havia sete anos. O contato abriu uma porta.

Acabada a ira, qual sentimento reuniu vocês?

A ira a gente está guardando para os instrumentos (risos). A ira de um conformismo juvenil que está na gente para sempre... Mas foi a saudade do nosso público. De poder tocar um repertório de vários hinos, da relação íntima. Por causa da briga, a banda estava quase virando um tabu para mim. Eu mal falava do Ira. Conquistei outro público [com trabalho solo, o projeto Pequeno Cidadão e tocando em turnês com Arnaldo Antunes, Karina Buhr e Bárbara Eugênia], mas queria o pessoal cantando a plenos pulmões. Via os shows do Arnaldo lotados, mas os meus não...

Você falou de que mal falava do Ira!... Caso para terapia?

Olha, gastei alguns reais... (risos)

Scandurra e a sua guitarra/Foto: Rui Mendes/Divulgação Scandurra e a sua guitarra/Foto: Rui Mendes/Divulgação

Há algo difícil nesse retorno?

Não. Uma convivência muito serena. Temos viajado bastante, ninguém está cumprindo por tabela. A gente está fazendo com muito prazer, perdendo uns quilinhos no palco (risos), mas não tem nenhum problema. Talvez só o desgaste fisico.

Como é a convivência agora?

Eu e ele adquirimos, nesse tempo, com os nossos projetos pessoais, experiência e sabedoria para lidar com diferença, orgulho, birra, mau humor; excesso e desgaste de um longo relacionamento. Poder falar verdades sem guardar, e isso não se tornar mágoa e explodir em algum momento.

Nasi por Edgard.

É uma pessoa que acredita muito nos seus ideais, extremamente espiritualista, que aprendeu muito. Passou por muitas coisas duras, de experiências pessoais, envolvido com vários tipos de vício, podemos dizer assim. Tenho profundo respeito por esse novo Nasi, que surgiu depois de brigas, de disse-me-disse, de tanta coisa agressiva, que ajudaram a formar uma pessoa de caráter muito melhor; que ouve críticas, coisa difícil para um cantor popular.

Nasi em clique já do seu retorno ao Ira!/Foto: Rui Mendes/Divulgação Nasi em clique já do seu retorno ao Ira!/Foto: Rui Mendes/Divulgação

Seu filho, Daniel Rocha [baixista], toca na banda...

Tenho muito orgulho. Vejo ele chamando atenção das menininhas. Ele é um gato! (risos)

Daniel Rocha, guitarrista da retomada da banda e filho de Scandurra/Foto: Dimitry Uziel/Reprodução Daniel Rocha, guitarrista da retomada da banda e filho de Scandurra/Foto: Dimitry Uziel/Reprodução

E como é o show?

Passeamos por todos os discos. Não necessariamentre pelas músicas mais populares. Tem conhecidas, mas tem também o que a gente chama de "lado b" e é importante para a nossa carreira. Passeio por todo o repertório e há uma inédita: Abcd, que é já pensando num próximo trabalho, mas é muito cedo para isso.

https://youtu.be/SUQUV_pe4oY

Para você, qual é a música "mais-mais"?

Manhãs de domingo. Fico muito emocionado sempre que toco. Ela tem uma aceleração, a letra fala de um jovem que na manhã do domingo esquece do sábado. Me vejo nesse personagem. E tem Tolices, que é mais popular, romântica, de um coisa meio platônica. São músicas que eu não me canso de voltar a elas.

E quais imagens vêm à sua cabeça quando se fala no Recife?

Penso em gente boa, pitomba e numa coisa incrivel: morei dois anos no Pina, na praia de Boa Viagem. Eu era criança. Meu pai era fiscal, em plena ditadura, do Sindicato de Trabalhadores Agrícolas. A sede era no Recife, mas ele viajava pelo interior de Pernambuco. Dos meus seis aos oito anos. Lembro que as pessoas me chamavam de paulista e eu chorava, dizia que era recifense. Tinha o sotaque muito forte. Eu não ia à escola, como diz aquela música do Charlie Brown Jr., "meu escritório era na praia". Comia doce de jaca com queijo quente, o Carnaval era uma coisa absurda. Fiquei muito triste quando voltei para São Paulo. Aí eu brincava o dia inteiro, meninos de várias classes sociais misturados. É uma recordação muito boa, íntima, apesar dos muitos anos. A comida, o cheiro... Uma lembrança muito gustativa, olfativa, afetiva mesmo.

 

Últimas notícias