A poesia ambulante de André Arribas

Mirella Martins
Mirella Martins
Publicado em 20/06/2014 às 19:11
RB190614073_600x400 FOTO:

Inspirado pelo Movimento Cartoneiro, o ex-dono de bicicletaria André Arribas decidiu transformar a sua bicicleta em uma verdadeira livraria ambulante para expor a poesia que pairava inerte sobre si. Assim nascia o projeto Pé de Letra, que toma conta de praças e parques do Recife, espalhando versos por onde passa.

RB190614068_600x400 André Arribas e o Pé de Letra (Fotos: Bobby Fabisak/JC Imagem)

De sorriso largo e entusiasta do seu trabalho, André passou uma tarde com o Social1, na Praça de Casa Forte, para falar um pouco sobre o seu trabalho.

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A ideia surgiu após uma oficina sobre a produção literária em papelão, realizada pela educadora portuguesa Andrea Joana Silva, durante a última edição da Bienal do Livro de Olinda. Era o pontapé que faltava para dar margens à sua criatividade. "Aquilo despertou completamente o meu interesse. Sabe aquela coisa que você vê e diz: 'é aí que eu me encontro!' ?". No dia seguinte, eu já estava produzindo o meu primeiro livro de poesias", revela.

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"A partir daí eu procurei formas de publicar o que eu acredito. Mas tinha a certeza de que não queria algo estático. Não queria colocar os livros de papelão dentro de livrarias. Eu já tinha alguma experiência com bicicleta e achei que uma ideia era massa seria unir os dois, a bicicleta e a poesia", revelou.

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Outra ideia muito presente no Pé de Letra é a sustentabilidade. Não apenas os livros são feitos com materiais reciclados, mas praticamente tudo no projeto. Da livraria ao quadro e pneus da bicicleta, tudo é reaproveitado por André. "Um amigo, que também gosta de reciclar, me deu a ideia: 'Porque tu não monta uma bicicleta com material reciclado?' Aí, eu aproveitei umas coisas que já tinha na minha loja. Reciclei o quadro, a roda, pneus que clientes não queriam mais. Peguei tudo isso e revitalizei, sempre com a ideia de evitar o desperdício", explicou.

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"As vezes eu até digo que essa bicicleta sou eu de corpo e alma, porque eu gosto de evitar desperdício, vivo poesia e pago o preço que isso cobra", brinca. "Eu vivo arte, mas, de forma alguma sou um grande artista. Eu gosto mesmo de trabalhar com este tipo de material, de provocar a arte nas pessoas, de uma forma educativa", complementou.

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Segundo ele, a escolha pelo ambiente urbano, veio da necessidade de uma aproximação maior com o público, necessária para o desenvolvimento artístico: "A rua é onde as pessoas devem se encontrar. E a arte precisa desses encontros. Eu não quero fazer algo estático, para ficar em estantes de livrarias. Quando o artista encontra e dialoga com seu público, ele cresce com isso, e seu trabalho melhora".

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Sempre chamando a atenção por onde passa, o poeta se diz realizado quando as pessoas param para ver o seu trabalho. "As pessoas ficam curiosas com essa 'geringonça' na bicicleta e param para saber o que é. Muitas ficam admiradas os livros e me pedem para ensinar. E quando alguém quer participar comigo, eu me sinto realizado, por estar, de alguma forma, provocando a arte em outras pessoas", afirmou.

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"Hoje eu acredito de corpo e alma neste meu trabalho. De estar na rua, além de fazer seu livro, sua poesia, de forma artesanal, você tem um contato direto com as pessoas que apreciam aquilo, que se descobrem naquilo, que é de certa forma provocado. E esta troca engrandece muito a gente".

https://www.youtube.com/watch?v=RrEOm2gjIkw

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