Na pele de Zé Mário

Mirella Martins
Mirella Martins
Publicado em 07/06/2014 às 17:04

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por Eduardinho Sena

“Judas”, “mercenário”, “vendido” e “traidor” são alguns dos xingamentos publicáveis que o jogador Zé Mário tem recebido a todo tempo no seu perfil no Instagram desde que deixou o Náutico para jogar no Sport. Não está sendo fácil estar na pele dele. O torcedor alvirrubro, que antes se manifestava com palavras de incentivo e de elogio ao meia, parece ainda não ter de conformado com a perda de um dos melhores jogadores do time da Conselheiro Rosa e Silva nesta temporada. Ganhou, inclusive, um troféu como o melhor da posição no Campeonato Pernambucano. “Ser ídolo é isso, tem o bônus, mas também tem o ônus. Para fazer alguns felizes tive que deixar outros tristes”, reflete.

Deixar, aliás, é um verbo recorrente na vida de José Mário de Bona. Começou a ser conjugado quando o paranaense de 22 anos precisou trocar a pequena cidade de Medianeira, distante 480km de Curitiba, para ir à capital do Paraná em busca do sonho de ser jogador profissional. Isso, aos 10 anos de idade. Aos 14, pelo mesmo motivo, precisou precocemente ir morar sozinho em Porto Alegre. “Muitas vezes pensava em desistir. Ficar distante da família era, e é, complicado. Sou muito ligado a eles. Mas, como nunca pensei em fazer outra coisa além de ser jogador, vi nisso a minha força”. A estrutura familiar do atleta é formada por pai, mãe e um irmão mais novo, de 16 anos.

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Para todos eles, Zé, mais uma vez, deixou. Aí, no sentido de colocar. Na sua pele cor de leite com canela, a família habita. Aliás, é o que logo chama a atenção no jogador de 1,75m e 75kg: a quantidade de tatuagens que ele carrega – são 13, ao todo. A mais visível dela aponta dois jotas graúdos no pescoço. José e João, ele e seu irmão. Ao caçula, também o registro de sua data de nascimento no braço esquerdo. No mesmo membro, um “minha mãe, minha vida”. Nas costas, a assinatura do pai. No outro braço, uma homenagem “em memória” ao seu avô, José. Um pouco acima, o Salmo 23. Já o seu bíceps esquerdo lembra, em francês, que o amor de Deus é eterno.

Típico a um pisciano, Zé Mário é menino família e dono de muita fé. Antes de entrar no gramado, sempre faz uma oração. Agradecer por estar vivo e com saúde também é rotina ao acordar. Ao trocar o Náutico pelo Sport, o que mais pediu foi para ser abençoado ali. Sabia que ao trocar o seu endereço de trabalho por um concorrente precisaria de muitas bênçãos. “Toda a negociação foi feita com o Internacional (clube que é dono do seu passe, e que o emprestou ao Sport), e estar na série A significa um salto na visibilidade e na minha carreira. Não é isso que buscamos? Crescer profissionalmente sem precisar passar por cima de ninguém?”, questiona. Virtude, com cara de pecado, que já foi percorrida por jogadores como Adriano, em 2000, e Daniel Paulista, em 2008, que preteriram a camisa alvirrubra pela rubro-negra com a mesma carga de mágoa.

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E se no Instagram dele chovem mensagens nada amigáveis, por lá, também sobram cantadas do público feminino. É que para muito além do (bom) futebol que desempenha, o meio-de-campo tem chamado a atenção pelo conjunto estético, destoando do que estamos acostumados a ver nos gramados pernambucanos. “Pelo tanto de comentário que recebo em relação à beleza, acho que a genética foi boa comigo. Mas não ligo muito para vaidade. Cuido bem da minha saúde, até porque é uma condição para o bom rendimento dentro de campo. De extra, só uns abdominais”, detalha, despertando a curiosidade para o que esconde por baixo da camisa Armani que usava na entrevista.

Mas lindo não é, propriamente, o que o rapaz que vive dizendo "boa, monstro!" se acha. Conta que se pudesse se definir em três adjetivos, esses seriam “orgulhoso”, “generoso” e “divertido”. "Mesmo errando, sofrendo, não volto atrás. Era uma coisa que gostaria de mudar em mim", elucubra. Além da humildade, também queria ter talento para cozinhar muito bem. Uma das coisas que mais gosta de fazer é comer. "Ainda bem que sou jogador e faço exercícios físicos, porque pelo o que como, deveria ser enorme". A propósito, um dos seus programas prediletos desde que chegou ao Recife, em janeiro último, é sair para comer. Entre as comidas típicas, elenca o sarapatel como a sua favorita, e pergunta a esse repórter como faz galinha à cabidela.

Questionou detalhadamente, passo a passo. “É que minha mania é de organização. Não gosto das coisas jogadas, de todo jeito, tem que ser tudo organizado. Como moro só desde os 14 anos, sempre tive que me virar sozinho, limpando, lavando e cozinhando”. E se o assunto é música, é o estilo sertanejo que faz a cabeça do bi-campeão gaúcho pelo Internacional. Desde o mais raiz, tipo moda de viola, até o do tipo universitário. A canção “Logo eu”, da dupla Jorge e Matheus é que ele tem ouvido em looping. Por último, mas não menos importante, Zé tem namorada, a gaúcha Camila Antunes, também de 22 anos, e está bem feliz. “O que mais desperta meu interesse numa mulher é a sinceridade dela. Ela pode falar e fazer o que quiser, sendo sincera, tá tudo certo. Gente sincera não deixa ninguém refém", finaliza. Boa, monstro!

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