ARTISTA PLÁSTICO Raúl Córdula nasceu na Paraíba, mas adotou Pernambuco, mais precisamente Olinda, como sua casa (Fotos: Felipe Souto Maior/JC Imagem)
Natural de Campina Grande, Paraíba, o artista plástico Raul Córdula rodou o Brasil antes de chegar a Pernambuco, mas desde então, não consegue mais ir embora. Versátil na arte e na vida, ele passou por São Paulo, Rio de Janeiro, voltou para João Pessoa e depois de uma visita à trabalho ao estado, o escolheu para fixar residência e trabalhar sua arte. Foi em Olinda, no ano de 1976, que Raul se aquietou. Isso com certa ressalva, vale ressaltar. Coordenador do Curso de Arte Contemporânea da Universidade Federal da Paraíba, ele viajava para a cidade natal toda semana e afirma: "a gente deixa a Paraíba, mas a Paraíba não deixa a gente. Não tem como se livrar da Paraíba". Muitas obras do pintor bebem na fonte de sua origem.
RAÍZES A Paraíba, estado onde nasceu, inspira obras de Raúl, principalmente de cunho político
A Cidade Alta, no entanto, também tem grande significado na vida do artista. Prova disso é seu último livro, Utopia do Olhar, lançado sexta-feira (26), que reúne textos escritos por ele desde 1976, revelando memórias de amigos do meio, veteranos ou contemporâneos, que viveram e fizeram sua arte em Olinda. Nomes como Adão Pinheiro, Antenor Vieira de Mello, Bajado, Guita Charifker, Janete Costa, João Câmara, José Barbosa, José Tavares, Liliane Dardot, Maria Carmem, Paulinho do Amparo, Samico, Tereza Costa Rêgo, Tiago Amorim, Ypiranga Filho integram o elenco de citados na obra.
LIVRO Raúl mostrou em primeira mão para o Social1 o livro pronto em arquivo digital
Homem culto, organizado, de boa oratória e ótima memória, Raul Córdula se estabeleceu por aqui numa época em que Olinda se firmava de vez como um centro de cultura e artistas no Nordeste brasileiro. O pintor vive na atual casa no Varadouro desde 1983 (antes morava perto do Alto da Sé) com a mulher Amélia Couto, com quem divide o teto e muitos projetos profissionais. Mas sua história com o mundo de casario seculares e paralelepípedos data de muito antes, do fim da década de 50, quando ainda adolescente, viajava a Olinda para festas e rodas de ciranda na beira do mar. "Eu saía de João Pessoa, de ônibus e descia no Varadouro", relembra. Hoje, mais do que um ponto de encontro com amigos, Olinda é seu fundamento.
COMPANHEIRA Raúl brinca com obra feita pela mulher Amelinha Couto
Ano passado, o paraibano comemorou 50 anos de carreira com a exposição Raul Córdula: 50 anos de arte – uma antologia, na Galeria Janete Costa, no Parque Dona Lindu. Em seu acervo de pinturas, desenhos, grafismos e colagens, Paraíba e Pernambuco aparecem de igual para igual. Outras épocas e inspirações da vida do artista também se fazem presentes em suas obras. Afinal, foi no Rio de Janeiro, quando tinha 9 para 10 anos, que Raul se descobriu pintor. "Eu fui visitar o Museu de Belas Artes com meu pai e vi um quadro de Pedro Américo, Batalha do Hawaii. Fiquei impressionado. Foi ali que eu comecei a pintar, a me colocar dentro desse universo, na verdade", conta. Sua formação em Design também caracteriza alguns trabalhos. Além de tudo, o apreço pela literatura e academia acabam mexendo com o imaginário do artista e suas criações. Não se pode resumir o trabalho de Raul em um só estilo ou época, ele, de fato, tem várias fases, como gosta de se definir.
OBRAS Versátil, Raúl Córdula se enveredou pela pintura, desenho, colagem e grafismo
"Eu tenho uma questão de identidade. Quer dizer, eu não, qualquer pessoa que tenha o nome do pai tem. É muito ruim. Meu pai é quem é Raul Córdula. Eu sou Raul Córdula Filho. Intimamente você sente muito isso. As vezes eu me pego fazendo coisas que eu nem fazia. Quando eu sou chamado de Professor Raúl Córdula é muito ruim para mim porque era o nome dele", reflete ele sobre quem é e o que ainda não descobriu de si. Uma aula de imaginação, obviedade, talento e trabalho para quem ouve.
FOTOGRAFIA O artista registrou o momento em que um carro pegava fogo em João Pessoa e guarda a obra com carinho
Enquanto Raul, como prefere ser chamado, ainda não encontrou algumas respostas sobre si e vai esboçando em um livro seus projetos e primeira ideias sobre arte, nós vamos nos deliciando e inquietando com algumas criações e descobrindo com ele muito mais de quem é, de onde veio e porque foi. Afinal, há sempre tempo para reviver o passado e projetar o futuro.