A casa e a toca de Tereza Costa Rêgo

Mirella Martins
Mirella Martins
Publicado em 01/07/2013 às 8:15
ALÉM DA JANELA Tereza Casta Rêgo apresentou sua casa e contou história ao Social1 (Fotos: Felipe Souto Maio/ JC Imagem)
ALÉM DA JANELA Tereza Casta Rêgo apresentou sua casa e contou história ao Social1 (Fotos: Felipe Souto Maio/ JC Imagem)

Exatos 4,8 metros de largura, comprimento não definido. A casa de Tereza Costa Rêgo vai de um lado a outro da Rua do Amparo com a de trás, sem paredes internas, e comprova que não se pode medir em grandezas o que é sentimento em um verdadeiro lar. Moradora de Olinda desde que voltou do exílio na Europa, em 1979, a artista plástica, nascida e criada no Recife, conta que a Cidade Alta abriu os braços para ela. "Olinda me deu uma casa de gente e uma toca de bicho", define. De canto a canto, sem muretas dividindo os cômodos, a residência de Dona Tereza - como não gosta de ser chamada, mas como o respeito impõe -, tem um toque de suas mãos e a ajuda de algum amigo. "Minha casa é toda feita aos pedaços. Agora eu posso receber nessa casa a Rainha da Inglaterra, porque eu tenho louça e ela tem a decoração rústica de muito bom gosto. Mas eu passei por momentos difíceis. Comprava móveis velhos e adaptava. As pessoas que ainda falavam comigo me davam panelas, me davam talheres e aí eu fui montando. O jardim é muito bonito, mas é todo roubado", brinca.

ALÉM DA JANELA Tereza Casta Rêgo apresentou sua casa e contou história ao Social1 (Fotos: Felipe Souto Maio/ JC Imagem) ALÉM DA JANELA Tereza Casta Rêgo apresentou sua casa e contou história ao Social1 (Fotos: Felipe Souto Maior/ JC Imagem)

Tereza Costa Rêgo cuidou dos mínimos detalhes para deixar o ambiente arrumado e bem aconchegante, mas garante que essa é uma obra inacabada em sua vida. "Quando a senhora terminou de ajeitar a casa?", perguntei. "Ainda não acabei. Até hoje reformo a casa. Se vejo alguma coisa velha, boto no carro e levo para consertar", respondeu seguramente. Jeitosa, como ela mesmo se define, a artista gosta de viver só e cuidar de tudo ao seu modo. Mãe de duas filhas, avó de três netos e bisavó de uma menina, Dona Tereza tem uma rotina estável e, aos 84 anos, divide seus dias entre a diretoria do Museu do Mamulengo em Olinda e as obras inacabadas de seu ateliê nos fundos da casa. "Eu vou um dia sim e outro não ao Museu. Sempre descanso depois do almoço, e em seguida vou pintar. Quando estou louca mesmo, acordo de madrugada para pintar. Meus melhores quadros foram feitos antes do sol nascer", revela.

ACONCHEGANTE Tereza Costa Rêgo reaproveitou móveis e deixou a casa com seu pefil ACONCHEGANTE Tereza Costa Rêgo reaproveitou móveis e deixou a casa com seu pefil

MARCANTES Na parede da sala, as obras que têm um valor especial para a artista MARCANTES Na parede da sala, as obras que têm um valor especial para a artista

É notável a admiração da artista pelo lugar que construiu e aprendeu a chamar de seu. "Eu gosto muito de casa. Eu sou um bicho antes de qualquer coisa. Antes de ser uma intelectual, uma pintora, uma mulher, eu sou um bicho. Eu gosto de me sentir como um animal aqui", declara. "E eu não gosto de pintar em nenhum lugar a não ser na minha casa", completa ela, que também não gosta de ser vista enquanto pinta. É um momento de intimidade, onde ela fica a vontade, despojada e não gosta de ser interrompida.

ANIMAIS A paixão de Tereza pelos animais se refletiu em seus quadros ANIMAIS A paixão de Tereza pelos bichos se refletiu em seus quadros. Eles são elementos sempre presentes nas obras

Incomodada somente com os quadros espalhados pela sala de estar e de jantar, Dona Tereza disse que a casa, em geral, é arrumadíssima e já participou, inclusive, de matérias para revistas de decoração como Casa Cláudia e Bem Estar. Mas, casa de artista, segundo ela, é assim mesmo: tanto faz estar pronta para receber alguém importante, como ter tintas e telas espalhadas sobre a mobília quando uma exposição acaba e outra está por vir. Realidade que não lhe agrada com a mesma contundência de fotografias quando seu cabelo está desarrumado. Nosso fotógrafo, Felipe Souto Maior, teve dificuldades de satisfazer a vaidosa, exigente e doce Tereza. "Não tire foto de mim hoje não. Estou muito feia", pediu, antes de se soltar e encontrar um jeito de disfarçar o cabelo desgrenhado colocando as mãos delicadamente sobre a cabeça.

LIVRE  Para se sentir confortável nas fotos, a pintora colocou as mãos no cabelo LIVRE  A pintora colocou as mãos no cabelo para disfarçar a bagunça e se sentir bem

Sobre sua pintura, Tereza encontra as palavras certas para definí-la: "minha pintura é espontânea, mas é figurativa. Para mim o abstrato é o fundo do quadro. Se me pedirem para fazer esse tipo de trabalho, eu faço, mas não é minha linguagem". Tereza Costa Rego gosta de pintar cenas e diz que "esqueceu" todas as regras da Escola de Belas Artes. "Eu queria sair daquela composição áurea, que vem de Da Vinci, e resolvi soltar tudo. Meus traços são melhores soltos. A minha pintura hoje é de grande dimensão", explica ela, que apesar de estudar arte desde os 15 anos, passou a viver da pintura quando voltou da Europa. A artista também criou identidade em sua volta. Mulheres nuas, animais como gato, tatu e cabra, maçã e banheiras são elementos presentes em quase todos os quadros da pernambucana.

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Como artista, Tereza Costa Rêgo não acredita em inspiração, mas, sim, em trabalho. Vencedora de vários prêmios ao longo da carreira, ela diz não dar muito valor a isso. "Dou valor ao meu trabalho", declara. No ateliê da pintora, proibido de ser fotografado, uma tela de 15mx3m adianta que vem novidade por aí. Ela está finalizando algumas obras de encomenda para se dedicar exclusivamente, nos próximos 6 meses, à finalização do quadro As mulheres de Tejucupapo. A obra fará parte da nova exposição itinerante da artista pernambucana sobre fatos marcantes da História. Na lista para ocupar os salões de grandes centros culturais do Brasil, retratos da Batalha dos Guararapes, da Pré-História, de Canudos e outros conflitos.

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Como a tela de 15mx3m, os cômodos da casa e Tereza Costa Rêgo carregam em si um doce mistério à medida que se mostram descaradamente. São cenas prontas, carregadas de beleza e sofisticação, parecem de verdade e são. Sem perder a magia da arte e o inacabado da História, são coisas que se definem, mas não podem ser resumidas. Veja mais fotos do encontro com a dama pernambucana na nossa galeria de imagens.

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Tereza tem paixão pela Batalha dos Guararapes e já pintou várias obras sobre o conflito - Tereza tem paixão pela Batalha dos Guararapes e já pintou várias obras sobre o conflito
Tereza Costa Rêgo toma banho de sol todas as manhãs no jardim de trás da casa - Tereza Costa Rêgo toma banho de sol todas as manhãs no jardim de trás da casa
Gilda Costa Rêgo, a mascote de Tereza Costa Rêgo - Gilda Costa Rêgo, a mascote de Tereza Costa Rêgo
Tereza Costa Rêgo tem uma coleção de vassouras na cozinha - Tereza Costa Rêgo tem uma coleção de vassouras na cozinha
A artista nãos sabe explicar de onde vem sua paixão pelo tatu - A artista nãos sabe explicar de onde vem sua paixão pelo tatu
O quadro central retrata a Batalha dos Guararapes e é formado por outras telas, guardadas na casa de Dona Tereza - O quadro central retrata a Batalha dos Guararapes e é formado por outras telas, guardadas na casa de Dona Tereza
Mulheres nuas são marcantes nas obras de Tereza Cosa Rêgo - Mulheres nuas são marcantes nas obras de Tereza Cosa Rêgo
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As intervenções dentro de uma mala simbolizam a vida de Tereza. A obra participou de mostra nacional com vários artistas de destaque, mas a pernambucana não sabe explicar o porquê de suas escolhas - As intervenções dentro de uma mala simbolizam a vida de Tereza. A obra participou de mostra nacional com vários artistas de destaque, mas a pernambucana não sabe explicar o porquê de suas escolhas
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Da janela de seu ateliê, Tereza fala para o mundo - Da janela de seu ateliê, Tereza fala para o mundo

 

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