Entre uma partida e outra de videogame, relação entre pais e filhos sobe de level

Vanessa Moura
Vanessa Moura
Publicado em 04/08/2020 às 12:46
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O jornalista Júlio Neto, de 36 anos, é um dos exemplos de pais que costumam aproveitar seu tempo jogando videogame com os filhos. No seu caso, com Gabriel, de 7 anos. Assim como ele, segundo pesquisa feita pela Pesquisa Game Brasil (PGB), 71% dos pais brasileiros entrevistados também têm esse hábito. Fã dos jogos desde criança, Júlio passou seu gosto para o pequeno, que inclusive participa até dos vídeos em um dos seus canais do YouTube (Jogadois). A atividade tem aproximado os dois.

O vínculo afetivo pode ser considerado um dos benefícios da atividade, na visão do psicólogo especialista em crianças e adolescentes Gustavo Vasconcelos. Jogar em conjunto pode ser um momento de socialização e fortalecimento dos laços entre o pai e o filho. “Os jogos viabilizam a aproximação entre os pais e filhos porque eles criam um afeto por aquela atividade, da mesma forma que pode ser jogar futebol. Como as crianças já surgem imersas nesse mundo tecnológico, é muito importante que os pais se envolvam nisso”, comenta.

Os jogos ainda podem trabalhar a cognição das crianças. “O uso de eletrônicos pode ser saudável para a estruturação psíquica infantil. Just Dance pode trabalhar a motricidade, por exemplo. Jogos como pacman até FIFA e PES podem trabalhar estímulos rápidos. E claro, o raciocínio lógico também pode ser desenvolvido em jogos educativos. Com a supervisão dos pais, ainda, a atividade torna-se um espaço de segurança porque o pai pode controlar o que a criança está fazendo”, comenta o psicólogo.

A prática de jogar pode vir com vitórias e derrotas. E isso pode ser algo positivo também, de acordo com o especialista. “Crianças podem aprender a perder jogando. Isso faz com que eles trabalhem as suas frustrações”, pontua. Da mesma forma, os jogos podem ser um ambiente de cooperação. Júlio e Gabriel tem o costume de jogar todos os games da franquia Lego. “Nos jogos, o boneco necessita do outro para conseguir cumprir determinadas missões e isso gera um senso de cumplicidade”, comenta Julio, que também aproveita esses momentos para gravar para o seu canal.

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Ressalvas no caminho

No entanto, é preciso ter regras, principalmente levando em conta a faixa etária a qual o jogo foi pensado. Essa é uma das preocupações que Júlio leva em consideração, assim como 92% dos pais entrevistados na pesquisa. “Ele queria muito jogar GTA, mas ele é para 18 anos, então eu procurei um jogo que fosse adequado para ele, mais suave, mas que também envolvesse tiros. Agora ele joga Plants x Zombies. Quando ele quer jogar algum jogo que não tem permissão, como Injustice 2, mas que não é tão violento, eu sempre monitoro” explica o pai.

Sobre violência nos jogos que Júlio evita, a pesquisa mostra que 56,6% dos pais gamers discordam que os jogos podem despertar um temperamento violento na criança ou adolescente, já os 33% dos pais que não jogam acreditam que pode. Para o especialista, a influência depende principalmente do indivíduo em questão, mas jogos mais violentos podem ter efeitos na criança - da mesma forma que programas de televisão. “Por isso, é importante os pais respeitarem a faixa etária. Jogos mais violentos como Counter Striker e GTA não são indicados para crianças, pois elas ainda estão em fase de desenvolvimento”, esclarece.

Se a idade precisa ser correspondente, isso também vale para o tempo gasto no jogo. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) tem uma cartilha de orientação. Crianças com idades entre 6 e 10 anos, por exemplo, devem limitar-se a no máximo 2 horas de uso de eletrônicos, já adolescentes com idades entre 11 e 18 anos a 3 horas por dia. No entanto, o psicólogo lembra que isso depende da criança, portanto que existam limitações. Gabriel, por exemplo, só pode jogar durante o final de semana, caso não tenha tarefas escolares. Como a criança também pode ficar mais agitada pela atividade, não é aconselhado deixar jogá-la antes de dormir. A exposição à luz pode tirar o sono da criança e, segundo a SBP, deve-se evitar as telas 1 ou 2 horas antes de deitar.

Assim, com o tempo limitado, fica mais difícil da criança se viciar. O vício em games já faz parte da Classificação Internacional de Doenças (CID) como um transtorno mental. Priorizar o videogame a outras atividades sociais ou corriqueiras, como almoçar e a realização de tarefas da escola e não controlar a frequência, intensidade e tempo em que fica jogando são dois sintomas comuns. “Por isso, mais uma vez, a presença parental é tão importante para estabelecer regras. Nada pode se tornar um vício”, reforça o psicólogo Gustavo.