Astronautas de cápsula da SpaceX entram na ISS após acoplamento bem-sucedido

Vanessa Moura
Vanessa Moura
Publicado em 01/06/2020 às 9:58
Foto: NASA TV/AFP
Foto: NASA TV/AFP FOTO: Foto: NASA TV/AFP

AFP

Os dois astronautas da Nasa entraram neste domingo na Estação Espacial Internacional (ISS), após 19 horas de viagem, na primeira vez em quase uma década que uma nave americana tripulada conclui esta manobra. A escotilha entre a ISS e a cápsula Crew Dragon da SpaceX foi aberta às 17h02 GMT. Pouco depois, os astronautas americanos Bob Behnken e Doug Hurley entraram na estação espacial, onde se reuniram com os atuais residentes da estação.

Os dois homens, vestindo camisas pólo pretas e calças cáqui, foram recebidos pelo colega americano Chris Cassidy, bem como pelos cosmonautas russos Anatoli Ivanishin e Ivan Vagner.  Os cinco homens posaram para fotos e, em seguida, o administrador da NASA, Jim Bridenstine, falou com a equipe do controle da missão em Houston.

"Bem-vindo, Bob e Doug", disse Bridenstine. "Vou lhes dizer que o mundo inteiro viu essa missão e estamos muito, muito orgulhosos de tudo que fizeram pelo nosso país".  "É genial voltar a colocar os Estados Unidos nos lançamentos tripulados e estamos realmente felizes por estarmos a bordo deste magnífico complexo", respondeu Hurley, que comandou a cápsula do Crew Dragon.

O chefe espacial russo, Dmitry Rogozin, também parabenizou a NASA e Elon Musk, chefe da empresa aeroespacial privada SpaceX que construiu a cápsula.  A cápsula passou 19 horas perseguindo a estação em velocidades de até 28.000 km/h, antes de se alinhar com seu objetivo e desacelerar para executar o delicado procedimento de atracação, que ocorreu no norte da China.

Pandemia e protestos

Durante a estadia, Behnken e Hurley realizarão mais verificações na cápsula para certificar que tudo está em boas condições para os Estados Unidos viajarem para a ISS por empresas privadas.  A Nasa teve que confiar nos foguetes russos da Soyuz desde que o programa de ônibus espaciais terminou em 2011. Os Estados Unidos pagaram à SpaceX e à gigante aeroespacial Boeing um total de aproximadamente US$ 7 bilhões em contratos de "táxi espacial".

Mas o programa da Boeing fracassou após um teste frustrado no final do ano passado, deixando a SpaceX, uma empresa fundada em 2002, como uma clara favorita para continuar a corrida espacial.  O lançamento ocorreu enquanto o mundo enfrenta a pandemia de coronavírus e os Estados Unidos enfrentam protestos em todo o país após a morte em Minneapolis de um homem negro nas mãos de um policial branco.

Falando com Bridenstine, Hurley disse que esperava que a missão inspirasse jovens americanos. "Esse foi um esforço feito nos tempos sombrios que tivemos que experimentar nos últimos meses e que poderemos expor para inspirar, especialmente os jovens dos Estados Unidos, a alcançar objetivos nobres", escreveu ele no Twitter.

Primeiro passo rumo a Marte

A viagem da cápsula começou na tarde de ontem, quando a mesma decolou do Centro Espacial Kennedy, impulsionada por um foguete Falcon 9 de duas estapas, da SpaceX. "Estou realmente muito emocionado", disse Musk. "Foram 18 anos trabalhando com este objetivo. Provavelmente, este é o primeiro passo de uma jornada até a civilização em Marte", apostou o fundador da SpaceX.

Em breve entrevista do espaço, Doug Hurley disse que, para manter a tradição, ele e Behnken batizaram a cápsula em que viajaram de "Endeavour", em homenagem ao ônibus espacial desativado que tripularam. A missão, chamada "Demo-2", põe fim ao monopólio governamental das viagens espaciais e, como teste final, permite à Nasa certificar a cápsula para realizar missões tripuladas regulares.

A missão da Crew Dragon transcorre em meio à pandemia do novo coronavírus e a uma explosão de violência em várias cidades americanas devido à morte de um homem negro pela polícia na cidade de Minneapolis, em Minnesota.

Da Rússia com surpresa

A Rússia parabenizou os Estados Unidos, mas neste domingo insinuou desconforto com o frenesi desencadeado pelo que muitos consideraram como o início de uma nova era. "Realmente não entendemos a histeria causada pelo lançamento bem-sucedido da espaçonave Crew Dragon", disse o porta-voz da Roscosmos, Vladimir Ustimenko.

Espera-se que a cooperação entre os Estados Unidos e a Rússia continue assim que o Crew Dragon entrar em serviço.  A Nasa ainda planeja usar foguetes da Soyuz para enviar alguns astronautas ao espaço, e cada assento custará cerca de US$ 80 milhões.

A ideia de uma missão tripulada a Marte é discutida desde a década de 1950, e a Nasa encomendou vários estudos, sem qualquer sucesse até o momento.  Os Estados Unidos agora planejam retornar à Lua em 2024, estabelecendo uma plataforma de lançamento para o planeta vermelho na década de 2030.