Aplicativos de Smartphone não são confiáveis para medir oxigenação no sangue, segundo especialistas

Vanessa Moura
Vanessa Moura
Publicado em 13/05/2020 às 9:38
Foto: Pixabay
Foto: Pixabay FOTO: Foto: Pixabay

Muito procurado nas farmácias do Recife, o oxímetro  praticamente desapareceu das farmácias e lojas de equipamento médico durante a pandemia do coronavírus. Não encontrando esse aparelho, pessoas - com problemas respiratórios ou não - tem recorrido a aplicativos de Smartphone para saber como está o nível de saturação do oxigênio. Entretanto, especialistas e pesquisadores explicam que não apenas eles não são confiáveis mas também que o uso do oxímetro deve sempre acompanhar a orientação de um médico.

Universidade da Califórnia desenvolve LEDs ultravioleta que ajudam no combate ao covid-19

Conheça Violet, robô que pode ajudar no combate ao coronavírus

Primeiramente, é interessante entender como funciona o oxímetro. Ele é um aparelho de pulso que faz uso de dois LEDs em diferentes comprimentos de onda - vermelho e infravermelho - para iluminar o sangue arterial no dedo da pessoa, onde o dispositivo prende. Como explica a médica pneumologista e professora de medicina da UPE, Marília Cabral, a saturação periférica no sangue arterial é resultado da fração da hemoglobina oxigenada em relação a hemoglobina total no sangue. 

Mas qual seria o nível ideal de oxigenação no sangue? Segundo a professora, em qualquer idade - excetuando-se situações de obesidade mórbida - a saturação deve estar acima de 95%. Comorbidades como diabetes e hipertensão, por exemplo, não alteram esse nível. “No caso de uma pessoa que tem doenças respiratórias ou um déficit de oxigenação e sabe disso, ela costuma ter um médico que acompanha sua situação e já conhece o nível basal dela, diferente do considerado normal para pessoas sem essas problemáticas. Já pessoas que apresentam um quadro de SRAG (Síndrome respiratória aguda grave) podem apresentar um saturação de 94% ou menor ainda”, elucida.

Não é proibido ter um oxímetro em casa, mas é necessário um médico que sempre acompanhe os resultados. “É preciso seguir uma conduta. Pessoas estão comprando remédios e comprando equipamentos sem orientação médica. Não é indicado pelas autoridades de saúde que as pessoas comprem oxímetro, mas caso elas tenham, elas não são capazes de analisar sozinha os resultados”, explica Marília.

Smartphones não são confiáveis

Em artigo publicado no Centro de Medicina Baseada em Evidências, da Universidade de Oxford, os autores Lionel Tarassenko e Trisha Greenhalgh mostram que Smartphones, de fato, não são confiáveis para aferir a oxigenação arterial. "Não há evidências de que qualquer tecnologia de Smartphone seja precisa para a medição da saturação de oxigênio no sangue. Além disso, a base científica de tais tecnologias é questionável. Os níveis de saturação de oxigênio obtidos com essas tecnologias não devem ser confiáveis", conclui a pesquisa.

Citando inclusive esse artigo entre as pesquisas observadas, a médica pneumologista reforça que o valor gerado “não é  100% fidedigno”. Inclusive, ela explica que a própria Samsung, dentro do Samsung Health, não coloca como um serviço de oximetria, mas de medição de estresse, que envolve outras variáveis. Ela também comenta que os aplicativos usados no Iphone ainda são menos seguros ainda, porque usam apenas o flash e câmera para medir. O artigo da Universidade de Oxford também endossa essa fala. "A SpO 2 (saturação do oxigênio no sangue) não pode ser medida com a luz do flash do Smartphone e a câmera, já que ela não pode medir a reflexão da luz com precisão em dois comprimentos de onda distintos", diz a pesquisa.

“Pesquisas mostram que equipamentos já validados no mercado haviam erro de 4% para pacientes que tinham uma oxigenação acima de 95%.” Mas são justamente pessoas com níveis menores, ou seja, que tem problemas respiratórios, que precisam medir com mais urgência seus níveis de oxigenação. Sobretudo, essas pessoas não podem recorrer a essa método. “Os estudos mostram que quanto menor o nível de oxigenação, é ainda menos seguro esses testes no celular”, afirma.

A principal orientação que Marília faz é procurar ajuda médica. "Se uma pessoa tem sintomas como falta de ar e tosse seca, ela precisa procurar atendimento médico. Seja uma consulta presencial ou online, mesmo que ela tiver o oxímetro em casa e os resultados se mostrarem positivos, ela ainda deve ser atendida para que o médico possa orientar o que fazer. A pessoa pode pensar que está bem apenas com oxímetro mas pode não estar”, esclarece.

 

Assine a nova newsletter do JC e fique bem informado sobre o coronavírus

Todos os dias, de domingo a domingo, sempre às 20h, o Jornal do Commercio divulga uma nova newsletter diretamente para o seu email sobre os assuntos mais atualizados do coronavírus em Pernambuco, no Brasil e no mundo. E como faço para receber? É simples. Os interessados podem assinar esta e outras newsletters através do link jc.com.br/newsletter ou no box localizado no final das matérias.

O que é coronavírus?

Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.

A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.

Como prevenir o coronavírus?

O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
  • Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes.
  • Ficar em casa quando estiver doente.
  • Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
  • Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (mascára cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).

Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.

Confira o passo a passo de como lavar as mãos de forma adequada