Como o 'app que envelhece' reconhece seu rosto e o que ele pode fazer com seus dados

Maria Ligia
Maria Ligia
Publicado em 15/07/2019 às 19:09
Imagem: Gustavo Belarmino/SJCC
Imagem: Gustavo Belarmino/SJCC FOTO: Imagem: Gustavo Belarmino/SJCC

O aplicativo FaceApp fez sucesso nesse último fim de semana no Brasil. Os internautas se divertiram com o app, cujo novo filtro mostra uma versão ‘envelhecida’ do usuário. A brincadeira, divertida, chamou atenção nas redes sociais pelo resultado realístico. Mas o que está por trás dessa tecnologia? E o que é feito com os dados fornecidos?

Inteligência Artificial

O software usa tecnologia de Reconhecimento Facial e Machine Learning para identificar padrões nos rostos e, sobre eles, aplicar os filtros que mudam a aparência nas fotos. É o que explica Diego Nogare, o Chief Data Officer da empresa de soluções digitais Lambda3.

“Eles pegam diversas marcações que são padrões no rosto e colocam como se fossem uma máscara para localizar o que é olho, sobrancelha, nariz. Baseado nisso conseguem fazer tratamentos naquela imagem”, diz.

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Como subcampo da Inteligência Artificial, o Aprendizado de Máquina é o método aplicado que possibilita ao aplicativo reconhecer o que é um olho ou uma boca.

“Quando se treina uma máquina, a gente está usando um conjunto de rostos genéricos. Ele pega um monte de exemplos de faces, que são mapeadas de acordo com os elementos do rosto”, conta. Quando você começa a fazer isso com uma base de vários exemplos de rostos diferentes, ele começa a identificar aquele comportamento dos traços, sabendo que aquilo é um rosto, uma sobrancelha, etc.” Assim, quando o sistema se depara com uma nova face, consegue aplicar a mesma técnica, replicando os processos de identificação.

Imagem: Gustavo Belarmino/SJCC

A tecnologia é poderosa e é usada para mais do que montagens divertidas. O governo chinês, por exemplo, conseguiu recentemente prender um cidadão identificado no meio de outros 60 mil com auxílio do Reconhecimento Facial.

E a realidade não é tão distante assim; no Carnaval deste ano, o Brasil testou a tecnologia em busca de foragidos da justiça. Em Salvador, um criminoso foi identificado e preso, mesmo estando fantasiado de mulher durante um bloco.

Dados

É certo que o uso maciço do aplicativo fornece aos desenvolvedores uma grande base de dados. O que muita gente não atenta na hora de baixar programas no celular ou se cadastrar em redes sociais são os termos de uso e privacidade aos quais inevitavelmente consente. Por isso, é importante saber a origem dos aplicativos e como tratam suas informações.

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No caso do FaceApp, o software é um produto da empresa russa Wireless Lab OOO, situada em São Petesburgo. A sua política de privacidade, a qual o usuário aceita quando faz download, prevê que as informações coletadas podem ser compartilhadas com uma série de empresas.

Isso inclui aquelas que “façam parte do mesmo grupo de empresas da qual o FaceApp faz parte”, também organizações que “ajudam a fornecer o serviço” ao aplicativo, e empresas parceiras de propaganda.

Enquanto a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), aprovada no ano passado, não entra em vigor, a proteção dos dados pessoais não está assegurada pela legislação. Até agosto de 2020, cabe ao usuário prezar pelas informações que escolhe compartilhar na internet.

A orientação do especialista é a seguinte: “Use o aplicativo, use o entretenimento da forma que é proposto, mas não deixe o aplicativo instalado”, aconselha Nogare. “Se você desinstalar o aplicativo, ele perde acesso às suas mídias salvas no celular”.