Enfim saímos da Idade Média, segundo o publicitário Walter Longo

Maria Luiza
Maria Luiza
Publicado em 06/04/2019 às 18:34
walter longo é especialista em comunicação e interatividade FOTO:

"Estamos finalmente saindo da Idade Média para entrar na idade mídia". A afirmação é de Walter Longo, um dos maiores especialistas em comunicação e interatividade do Brasil, com passagens pelo Grupo Abril, várias agências de publicidade e até no conselho na versão brasileira do programa O Aprendiz, criado por Donald Trump e estrelado no Brasil por Roberto Justus. O publicitário explica que até antes da tecnologia da informação dominar todas as áreas do conhecimento, o consumo era ditado pela média. "Por mais diferentes que as pessoas fossem, não podiam escolher um sapato exatamente do tamanho do seu pé ou decidir a que horas queria assistir ao seu programa favorito". É a isso que Longo chama de Idade Média, das trevas.

"Na educação éramos divididos por idade, não importava nosso grau de maturidade. Hoje cada um vai atrás do conhecimento quando e em que intensidade quer. Isso explica a explosão do ensino a distância (EAD). Tomávamos remédios com dosagem tirada pela média. Hoje é possível fazer tratamentos que só valem para aquele individuo, pois o mapeamento do genoma permite essa precisão", continua. O que ocorre é uma constante troca de informações (de mídia) entre as pessoas e dispositivos que as cercam, de forma a garantir que cada experiência seja única, como única é cada pessoa.

Pagar o justo

Ele prevê que isso vai permitir, ao longo dos anos, vantagens para quem adota atitudes de prevenção. "Quem cuida da saúde paga o mesmo valor pelo plano de saúde de quem enfia o pé na jaca e tem a mesma idade. Quem paga suas contas em dia arca com os mesmos juros de quem é inadimplente. No marketing, somos bombardeados por mensagens genéricas, quando podíamos receber exatamente o que procuramos, na hora em que precisamos", são alguns exemplos das injustiças dessa "Idade Média".

Pra quem acha que já viu tudo em comércio eletrônico, Walter Longo antevê um momento em que você vai receber o produto na porta de casa antes de pedi-lo, e só pagar por ele depois, pois os dispositivos ligados na internet das coisas vão indicar à loja sua necessidade antes de ela ocorrer.

Ele diz que tecnologias como Big Data e Inteligência Artificial vão fazer cada indivíduo ser visto como um universo à parte. Ele dá exemplos que já estão no mercado de como cada pessoa influencia a massa de dados: Barbies com sensores para medir o grau de interesse das crianças na brincadeira, carros cujos pneus são preparados para avisar à municipalidade locais onde existem buracos... "A Internet das Coisas (IoT) é um sistema nervoso que vai conectar tudo com tudo, todos com todos. Máquinas e pessoas viram mídia e vão gerar informações constantes, influenciando a sociedade como um todo.

Ele vê o ano de 2007 como o marco desse novo mundo. "Com o surgimento do smartphone (no caso, o iPhone, da Apple), as coisas começaram a se customizar. Um telefone era sempre um telefone. De repente um telefone virou um game, uma lanterna, uma rede social, um mapa. Tudo passou a ser murante e individualizado, pode ser comida, o café que você toma, até o banco que você usa."

No marketing, hoje é preciso muito mais esforço para se conseguir o mesmo resultado. "O mundo da atenção virou o mundo da distração, o conceito de audiencia serve cada vez menos para garantir atenção e engajamento, que são as matérias-primas mais escassas nessa era", diz. O exemplo da academia é um clássico. "Pessoas vão para a academia por motivos diferentes. Muitos estão atrás de saúde, outros de ficar bonitos, uma minoria foca em sensualização. Mas 90% dos anúncios focam na sensualização, desconvidando a maioria dos potenciais clientes, que se sentem intimidados de frequentar aquele ambiente de corpos sarados".

Longo desenvolveu seu raciocínio durante o evento DDB (Data Driven Business), promovido pela empresa de Big Data Neoway, em Florianópolis-SC, entre os dias 4 e 6 de abril. Ele concluiu sua palestra dizendo que essa nova era é meritocrática e inclusiva. Contando o exemplo de Mats, um jovem nórdico com doença degenerativa que morreu aos 25 anos e era um herói no universo gamer, ele pontuou: Pra Mats Steen, conhecido no mundo virtual como Lorde Ibelin Redmoore, aquilo não era apenas uma tela. Era um portal para uma nova vida. E esse portal tem poder para alterar, pelo menos nesse universo paralelo, até uma condição degenerativa fatal.

Vai acabar a era em que quem cuida da saúde paga o mesmo preço pelo plano de quem enfia o pé na jaca, diz Longo. Foto: Divulgação DDB2019