Caso Huawei revela medo de espionagem chinesa nos EUA

Agence France-Presse
Agence France-Presse
Publicado em 07/12/2018 às 15:13
(WANG ZHAO / AFP)
(WANG ZHAO / AFP) FOTO: (WANG ZHAO / AFP)

A prisão da diretora financeira da gigante tecnológica chinesa Huawei a pedido dos Estados Unidos sinaliza um endurecimento de Washington diante de suas suspeitas de espionagem de Pequim.

Meng Wanzhou, CFO da Huawei, foi presa nesta semana em Vancouver, no Canadá, e  espera para ser extraditada para os Estados Unidos por acusações de que a empresa violou sanções impostas ao Irã. Meng é filha do fundador da empresa, Ren Zhengfei, que já foi engenheiro do Exército chinês. A embaixada da China no Canadá emitiu um protesto enérgico garantindo que Meng não "transgrediu nenhuma lei do Canadá ou dos Estados Unidos".

A prisão deve elevar as tensões entre as maiores potências econômicas do mundo. As relações já estavam sob pressão devido às acusações de Washigton de comércio desleal, roubo de segredos comerciais e ciberespionagem. "Isso é uma provocação dos Estados Unidos à China", disse David Fidler, especialista em ciberespionagem do Council on Foreign Relations.

Embora as acusações estejam relacionadas a sanções contra o Irã, "os chineses vão vê-las no contexto mais amplo da relação comercial", acrescentou. O aumento dos atritos comerciais prejudicará as duas partes, segundo Fidler. A China provavelmente dificultará o acesso das empresas de tecnologia americanas ao seu mercado.

Leia mais

Japão vai proibir uso pelo governo de produtos da Huawei e ZTE

"Os chineses acreditam que eles têm menos a perder, agarrando-se às suas armas e encarando os Estados Unidos", disse ele. "Eles não têm um plano B. E eu não tenho certeza se os Estados Unidos têm um plano B caso essa relação continue a se deteriorar", acrescentou.

Uma lei federal recente já proíbe o Exército e o governo de usarem dispositivos Huawei e da empresa chinesa ZTE por razões de segurança. Além disso, agências americanas estão implementando normas para impedir a Huawei de desenvolver redes de quinta geração (5G) nos Estados Unidos.

A Huawei nega qualquer vínculo com o governo chinês, mas há muito ceticismo em Washington sobre isso. "A Huawei age como um braço da inteligência chinesa. É apoiada pelo governo chinês por razões de inteligência", disse o especialista em tecnologia James Lewis. "A Huawei oferece um produto subsidiado que é muito bom, mas eles estão indo para lugares onde os custos são colocados acima da segurança", disse ele.

Para ele, a China será prejudicada porque seu sistema 5G depende de chips e tecnologias de empresas do Vale do Silício. A Huawei e muitas outras empresas "não vão conseguir desenvolver a tecnologia 5G sem a Intel ou outras fabricantes de chips", garantiu.

- Década de vigilância -

A Huawei é vigiada por Washington há mais de uma década. Em 2007, ela não pode participar da empresa de telecomunicações 3Com e em 2010 falhou em sua tentativa de melhorar a rede sem fio Sprint.

No começo deste ano, a Huawei estava a um passo de anunciar uma aliança com a AT&T para distribuir smartphones nos Estados Unidos, mas cancelou abruptamente o plano. Mesmo assim, a Huawei superou a Apple como segunda fabricante mundial de smartphones, apesar de suas vendas nos Estados Unidos serem pequenas. Ela também é uma das empresas líderes em tecnologia 5G no mundo.

A companhia também enfrenta proibições de acesso a contratos 5G na Austrália e na Nova Zelândia, e o grupo britânico de telecomunicações BP disse que está retirando equipamentos da Huawei usados em sua rede de telefonia celular.

- Temores no Capitólio -

Autoridades e legisladores, expressaram preocupação porque garantem que a China use sua tecnologia para roubar segredos comerciais. Pequim é considerada a principal acusada do roubo de dados de milhões de funcionários públicos americanos em 2015.

Um relatório neste ano indicou que as empresas chinesas inseriram "chips espiões" em artigos tecnológicos dos Estados Unidos o que eleva ao máximo o risco de espionagem. As empresas afetadas negaram o indicado nesse documento.

O senador republicano Tom Cotton disse que a prisão de Meng é um golpe na ciberespionagem chinesa. "A prisão de uma executiva da Huawei deve ser o primeiro de muitos passos do mundo livre contra a Huawei, um braço do Partido Comunista de China", tuitou Cotton.

O senador democrata Mark Warner disse que a prisão evidencia que a Huawei e outras companhias chinesas querem desrespeitar sanções. "Durante muito tempo ficou evidente que a Huawei, bem como a ZTE, representa uma ameaça à nossa segurança nacional", disse Warner.

"Isso é um lembrete de que temos que levar a sério os riscos de fazer negócios e dar acesso aos nossos mercados para empresas como a Huawei", afirmou.