Comida rastreada da fazenda até a mesa, com a tecnologia blockchain

Maria Luiza
Maria Luiza
Publicado em 15/11/2018 às 15:54
Produtores, transportadores, indústria e varejo lançam informações sobre os alimentos na mesma plataforma desenvolvida com a tecnologia blockchain. Foto: IBM
Produtores, transportadores, indústria e varejo lançam informações sobre os alimentos na mesma plataforma desenvolvida com a tecnologia blockchain. Foto: IBM FOTO: Produtores, transportadores, indústria e varejo lançam informações sobre os alimentos na mesma plataforma desenvolvida com a tecnologia blockchain. Foto: IBM

Até bem pouco tempo, bitcoin e outras criptomoedas eram a face mais visível do blockchain – tecnologia em código aberto que certifica documentos de forma descentralizada e praticamente imune a fraudes. Pois agora o blockchain chegou à mesa. Dois gigantes supermercadistas ­– o Walmart e o Carrefour – começaram a usar a blockchain para certificar a procedência dos produtos que colocam à venda – sejam frutas sul americanas ou chocolates suíços. Com isso, é possível saber exatamente, por exemplo, quando uma manga foi colhida, que navio a transportou, por que centro de distribuição passou, etc. E ainda, na detecção de algum problema com determinado lote de um produto, rastrear todos os locais para onde ele foi entregue.

A plataforma que está permitindo esse controle da procedência de cada produto foi desenvolvida pela gigante de tecnologia IBM ao longo de dois anos e lançada oficialmente em outubro. Recebeu o nome de IBM Food Trust (confiança alimentar, em tradução livre). “Um dos maiores problemas da indústria alimentícia é a falta de transparência. Todos querem entregar a mercadoria ainda fresca, saudável... Mas a informação está espalhada, deixando a indústria menos eficiente e saudável do que ela deveria ser”, explicou a vice-presidente da IBM Food Trust, Brigid McDermott, quando a plataforma foi lançada.

O vice-presidente de operações com blockchain da companhia, Ramesh Gopinath, estava entusiasmado com o uso prático dessa tecnologia em franco desenvolvimento numa área essencial a todos. Pelo menos foi essa a impressão que passou a um grupo de cinco jornalistas brasileiros que visitou na terça-feira passada (13) o Astor Place, sede da IBM na Cidade de Nova York. “A tecnologia permite que todas as partes envolvidas – seja o produtor, o transportador, a indústria... – acessem a mesma plataforma, que está na nuvem, e coloquem ali informação sobre cada lote, cada produto”, detalha.

 

Gopinath, da IBM: Em dois anos a empresa desevolveu a plataforma que acompanha os produtos oferecidos no Carrefour e Walmart. Foto: Maria Luiza Borges/SJCC

Cada etapa é um nó nessa grande cadeia de transações e fica armazenada pelo seu responsável. “É informação confiável sendo compartilhada por todas as empresas”, acrescenta Gopinath. A tecnologia de blockchain funciona em código aberto e permite que cada transação seja registrada a cada etapa do processo e, ao ser reconhecida pelos demais parceiros, cria-se uma cadeia (chain, em inglês) de registros. Cada parte tem a propriedade sobre os dados que gerou e só ela pode permitir o acesso a suas informações. No blockchain, essas bases de registros têm a função de criar um índice global para todas as transações que ocorrem em um determinado mercado ou setor.

Ao longo do tempo, essa plataforma de certificação vai garantir ao consumidor final a procedência dos alimentos, seu frescor, um descarte controlado e ainda sustentabilidade no longo prazo. “Estamos construindo contratos inteligentes, imunes a fraudes e transparentes”, resume Gopinath.

TRANSPORTE CERTIFICADO

 

Mais de 100 companhias em todo o mundo estão participando do desenvolvimento de uma plataforma para agilizar desembaraços portuários. Foto: Maersk

Uma plataforma similar de registros está em desenvolvimento com o transporte feito em contêineres. Ramesh Gopinath, que também responde por esse projeto, estima que ainda este ano a IBM anuncie o uso comercial do sistema, batizado de Tradeland, que deverá simplificar, automatizar e dar mais rapidez e confiabilidade em transações portuárias em todo o mundo, facilitando o desembaraço alfandegário e a operação de navios gigantescos que circulam o globo com todo tipo de mercadoria.

O potencial é enorme e há mais de 100 players testando o sistema em todos os continentes. O executivo acredita que existem múltiplos usos possíveis para essa tecnologia – da área médica à educação, segurança e finanças. “A economia é que será o motor dessas transformações. E isso vai transformar a nossa vida”, acredita.

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