Há 50 anos os templos egípcios Abu Simbel foram salvos das águas do Nilo

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 21/09/2018 às 12:05
Complexo de Ramsés II no antigo templo egípcio de Abu Simbel, realocado para livrar da inundação do Rio Nilo em 1968 (Foto: Khaled Desouki/AFP)
Complexo de Ramsés II no antigo templo egípcio de Abu Simbel, realocado para livrar da inundação do Rio Nilo em 1968 (Foto: Khaled Desouki/AFP) FOTO: Complexo de Ramsés II no antigo templo egípcio de Abu Simbel, realocado para livrar da inundação do Rio Nilo em 1968 (Foto: Khaled Desouki/AFP)

Por Antoinette CHALABY-MOUALLA

A realocação dos templos de Abu Simbel, ao sul do Egito, foi concluída em 22 de setembro de 1968. Promovida pela Unesco, essa operação buscou evitar inundações pela construção da represa de Aswan, no rio Nilo.

Durante a Campanha de Núbia, inúmeros arqueólogos de todas as partes do mundo desmantelaram e reconstruíram cerca de vinte monumentos gigantescos deste sítio arqueológico e os deslocaram para longe dos perigos das inundações.

- Construídos por Ramsés II -

Os dois templos de Abu Simbel foram esculpidos em uma colina sobre o rio Nilo em homenagem aos deuses Osíris e Ísis sob as ordens de Ramsés II, que governou o Egito de 1298 a 1235 aC.

Na fachada do templo mais alto, com 32 metros de altura, quatro estátuas gigantes do faraó sentado foram esculpidas. Ao cruzá-la, entramos em uma fileira de salões e galerias que se estende ao longo dos 63 metros de profundidade do templo.

Abu Simbel é um dos tesouros históricos da antiga região núbia, cujas fronteiras se estendiam ao longo do Nilo e cujo território ocupava parte do Egito e do Sudão.

Trabalhadores egípcios movendo o busto da Rainha Nefertari para o novo local dos templos gêmeos de Abu Simbel, há cinqüenta anos atrás, uma das maiores operações de resgate arqueológico do mundo (Foto: Stringer/ AFP)

- Ameaçados por uma represa -

Na década de 1950, teve início a construção de uma barragem no Nilo, na altura da cidade de Aswan, para garantir o fornecimento de energia na região, criar mais terras aráveis e reduzir as inundações do imponente rio.

Mas a construção da represa, na época a maior do mundo, resultaria na criação de um enorme lago artificial que colocaria em risco as aldeias adjacentes, bem como numerosos templos e monumentos, incluindo Abu Simbel.

- Façanha arqueológica -

Em março de 1960, a Unesco lançou um apelo para salvar os dois templos. Após inúmeras propostas, o projeto sueco-egípcio foi mantido e, em 1º de abril de 1964, cerca de 900 pessoas iniciaram este feito arqueológico sob o sol escaldante do deserto.

O projeto tinha um custo total de 36 milhões de dólares na época.

Trabalhadores egípcios desmontando as estátuas Ramsés II para serem transferidas para o novo local dos templos gêmeos de Abu Simbel (AFP/ Divulgação)

Primeiro, uma ensecadeira foi construída para proteger o canteiro de obras das águas das cheias. Esta operação foi seguida por escavações no morro em torno dos dois templos, que mais tarde permitiriam o corte e desmantelamento das estátuas e outras estruturas em 1.035 blocos de 20 a 30 toneladas cada.

Guindastes, cilindros hidráulicos e blocos de polias de poder extraordinário foram usados para mover os enormes blocos de 64 metros até o topo da colina, e então remontá-los e deixá-los em seu estado original.

Por fim, colinas artificiais foram construídas em torno do local para protegê-lo do rio.

- Cooperação internacional -

Na conclusão da operação arqueológica, o então diretor da Unesco, René Maheu, disse que foi "a primeira vez que houve uma cooperação internacional de tal magnitude na área da cultura".

Foi um "projeto sem precedentes, no qual mais de 50 países (...) uniram forças para salvar os tesouros artísticos e históricos que são os templos de Abu Simbel".

Templo de Abu Simbel, ao sul de Assuã, realocado para evitar a inundação do Rio Nilo em 1968 (Foto: Mohamed EL-Shahed/AFP)

Atualmente, o sítio original dos templos está completamente submerso pelo Lago Nasser.

No final da Campanha Núbia, que incluiu o resgate de outros sítios arqueológicos, o ex-diretor da Unesco, Amadou-Mahtar M'Bow, declarou: "Talvez em nenhum outro lugar a arte sacra do Egito tenha desafiado tão majestosamente o tempo como nesta região da Núbia".

© Agence France-Presse

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