Amazon: de livraria a empresa de US$ 1 trilhão

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 04/09/2018 às 17:18
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Por Glenn CHAPMAN

A jornada da Amazon de uma livraria online fundada em uma garagem até se transformar na gigante do comércio digital global avaliada em US$ 1 trilhão se centrou numa obsessão de longo prazo.

A empresa, inicialmente registrada como "Cadabra" por Jeff Bezos, em 1994, e fundada com dinheiro emprestado por seus pais, se juntou à Apple no rol de empresas com valor de mercado de US$ 1 trilhão nesta terça-feira (4).

"É engraçado comparar a Apple e a Amazon porque elas são companhias muito diferentes", disse o analista de tecnologia independente Rob Enderle. "A Apple é basicamente uma empresa de um produto, atualmente; a Amazon é o oposto disso", completa.

Enquanto a maior parte do faturamento da primeira vem de iPhones, o império da Amazon inclui operações globais de comércio digital, computação em nuvem, inteligência artificial, transmissão em streaming, mantimentos, entre outros.

Criada em uma garagem em um subúrbio de Seattle, em Washington, a empresa renomeada para Amazon vendeu seu primeiro livro - "Fluid Concepts and Creative Analogies: Computer Models of the Fundamental Mechanisms of Thought", por Douglas Hofstadter - para um engenheiro da computação em meados de 1995.

No fim daquele ano, a Amazon já vendia livros pela internet por todos os Estados Unidos. A Amazon foi lançada na Bolsa no começo de 1997.

Ao longo de mais de uma década, a empresa priorizou crescimento ao lucro, investindo pesado em depósitos, redes de distribuição e centrais de dados. "Cada centavo que eles ganharam colocaram de volta na empresa", afirmou Enderle.

"Eles focaram no prêmio - que inicialmente era dominar a maior parte do comércio", cita.

Inovação sem escândalos

Neil Saunders da empresa de pesquisa GlobalData disse que o sucesso da Amazon vem do fato de ela inovar como nenhuma outra."Esse ritmo inebriante da criatividade é o principal motivo para ela se manter vários passos à frente do mercado e ser capaz de gerar tanto crescimento", afirmou Saunders.

Bezos manteve um estrito controle da Amazon, afastando-se de fundos de investimentos especulativos inclinados à táticas de curto prazo que miram em disparar os preços das ações.

O fundador e CEO também evitou escândalos e outras distrações, mantendo receita e custos próximos o bastante para administrar e entrando em "mercados adjacentes" que representam os pontos fortes e os interesses da Amazon, segundo Enderle.

Por exemplo, o serviço de computação na nuvem Amazon Web Services é um negócio competitivo baseado em uma infraestrutura tecnológica da qual a empresa precisava para gerenciar suas operações. O investimento em depósitos, caminhões, drones, entregas e outros sistemas de distribuição não apenas permite que a Amazon reduza os custos, mas que ela possa competir com rivais como FedEx e UPS.

A aquisição da rede de mercados Whole Foods no ano passado fez a Amazon estabelecer lojas no mundo real, ao mesmo tempo em que colocou seus sistemas e inteligência de entrega e varejo para trabalhar no mundo físico.

Remédios e publicidade digital

A venda de medicamentos seria um mercado natural para a Amazon se expandir, de acordo com a Enderle.

Enquanto isso, a empresa está reforçando seus negócios de publicidade digital para competir melhor em um mercado de anúncios on-line dominado pelo Google e pelo Facebook.

No último trimestre, a Amazon registrou seu melhor lucro de 2,5 bilhões de dólares, enquanto Bezos - cuja participação acionária na Amazon o transformou na pessoa mais rica do mundo - destacou a importância da assistente digital Alexa.

De acordo com a empresa de pesquisa eMarketer, a receita de comércio digital da Amazon crescerá mais de 28% este ano, a 394 bilhões de dólares. Ela responderá por 49% das vendas de varejo nos Estados Unidos e por quase 5% de todos os gastos de varejo.

Um dos impulsionadores de receita da Amazon é seu serviço de assinatura Prime, que oferece streaming de vídeo e música, entrega gratuita e outras vantagens e que tem mais de 100 milhões de membros em todo o mundo.

Armadilha da arrogância

Alguns temem que a Amazon esteja se tornando uma força dominante demais, especialmente no varejo, o que provocou discussões antitruste, embora a empresa continue expandindo globalmente e busque uma segunda sede na América do Norte.

"Não faz muito tempo que as pessoas estavam pirando com o Walmart, e a Amazon basicamente pisou no Walmart", disse o analista Enderle. "O que a Amazon quer dizer é disruptivo, e as pessoas não gostam de ser interrompidas".

Os críticos da empresa incluem o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele expressou sua ira sobre o jornal Washington Post, de propriedade de Bezos, que publicou matérias que não agradaram o presidente americano.

Bezos comprou o Washington Post há cinco anos por 250 milhões de dólares de seus fundos pessoais.

A Amazon também deve se proteger contra o tipo de arrogância que pode desfazer as empresas que dominam os mercados, segundo o analista. "Quando as empresas ficam grandes, começa a ser sobre o que você tem o poder de fazer e agora o que é certo fazer", disse Enderle.

"Se a Amazon tiver uma ruína será arrogância ao lidar com o cliente", completa o analista.

© Agence France-Presse

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