Boneca Momo reacende debate sobre segurança de crianças na internet

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 30/08/2018 às 9:51
Boneca Momo/ Foto: Divulgação FOTO:

Estadão Conteúdo

Uma imagem feminina de longos cabelos pretos e olhos grandes tem causado preocupação entre mães e pais. Chamada de Momo, a boneca reacende o debate sobre a segurança de crianças e adolescentes na internet, após preocupações com o jogo da Baleia Azul, no ano passado.

A boneca Momo é apontada em correntes de internet como um espírito que envia mensagens de terror, especialmente por um número japonês de WhatsApp. As discussões sobre a boneca cresceram nas redes sociais e em canais de YouTube a partir de meados de julho.

Isso deu origem a boatos de que criminosos teriam criado perfis falsos da Momo para abordar crianças e adolescentes pela internet, a fim de extrair informações, extorquir e manipular.

O caso de maior repercussão atribuído supostamente à boneca é o de Artur Luis Barros dos Santos, de 9 anos, que foi encontrado enforcado no quintal de casa no Recife em 15 de agosto.

Embora ainda esteja em investigação, há poucos indícios de que a morte do menino tenha sido causada por um perfil ligado à boneca - de acordo com Yêda Nascimento, advogada da família.

Segundo a advogada, a única ligação com a Momo é que o garoto havia mostrado rapidamente uma foto da boneca para a mãe, a professora Jany Nascimento. Após a morte do filho, ela soube por uma sobrinha de que existia um desafio de enforcamento compartilhado por perfis da boneca.

Caso seja comprovado que o menino foi induzido a participar de um desafio, o autor pode ser responsabilizado por indução ao suicídio. A pena pode ser de dois a seis anos, com prazo ampliado quando infringido contra menor de idade, segundo a advogada.

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Origem da boneca Momo

A Momo é divulgada com a imagem de uma escultura japonesa de uma mulher-ave exibida na Vanilla Gallery, de Tóquio, em 2016.

Ela começou a ser mais compartilhada a partir de julho, entrando em declínio no fim do mês, de acordo com dados do Google Trends. No Brasil, voltou a ser comentada após a divulgação da morte do menino pernambucano.

Na internet, ganhou repercussão em especial no YouTube, onde canais postam supostas conversas com a boneca como se fossem reais. Há, ainda, aqueles que criaram vídeos cômicos sobre o assunto.

Cuidados com crianças na internet

A situação tem reacendido debates sobre segurança de crianças e adolescentes na internet. Neste mês, a ONG Safernet chegou a emitir a nota com dicas para as famílias após ser procurada por pais e educadores.

"Precisamos ter uma cautela muito grande para lidar com esse tipo de tema, porque pode despertar a curiosidade dos jovens, que entram em um circuito e buscam um conteúdo que nem sabiam que existia", ressalta o diretor de Prevenção e Atendimento, Rodrigo Nejm.

No caso do Momo, por exemplo, ele diz que o conteúdo pode ser veiculado por alguns motivos.

O mais simples deles é o de "zoeira" ou brincadeira, realizado especialmente entre adolescentes, mas há também aqueles que utilizam informações disponíveis na internet (a partir de pesquisas em redes sociais) para extorquir a criança ou adolescente.

Nejm lembra que, principalmente pelas redes sociais, é possível encontrar informações pessoais que podem ser utilizadas para dar a impressão de que o criminoso conhece a criança.

"Alguns se aproveitam da onda do momento, que agora é o Momo, que já foi a Baleia Azul, para roubar conteúdo, dados. Uma vez aceita a conversa, já é possível ver o número, a foto e eventualmente até o nome completo", ressalta.

Além disso, a Safernet ressalta que a participação dos pais é importante. "Quando acontece alguma coisa, a criança ou adolescente sabe que fez besteira e tem medo de contar, por medo de levar bronca, ficar sem celular", diz Nejm.

Outra dica é não ridicularizar as crianças quando afirmam estar amedrontadas ou em sofrimento.

"A internet é a maior praça pública do planeta. Como um espaço público, tem pessoas mal intencionadas, não é 100% adequado para uma criança. Ela pode saber mexer, mas, dependendo da idade, não tem discernimento para diferenciar o que é lenda urbana."