Drone identifica e protege cetáceos no Mediterrâneo

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 21/08/2018 às 12:44
O barco autônomo Sphyrna / USV - Unmanned Surface Vehicle (AFP PHOTO / Boris HORVAT)
O barco autônomo Sphyrna / USV - Unmanned Surface Vehicle (AFP PHOTO / Boris HORVAT) FOTO: O barco autônomo Sphyrna / USV - Unmanned Surface Vehicle (AFP PHOTO / Boris HORVAT)

Desde meados de julho, um drone equipado com microfones submarinos para gravar sons emitidos por cachalotes navega diante do porto francês de Toulon. Graças ao Sphyrna, os cientistas esperam decifrar os movimentos desta espécie em perigo para melhorar sua proteção.

Um "bip" é ouvido a intervalos regulares e depois acelera. Diante de um computador, Hervé Glotin, pesquisador de bioacústica da Universidade de Toulon, não esconde a surpresa ao ouvir tão claramente, graças ao drone, o som da passagem de um cachalote.

O mamífero passa mais de 95% de seu tempo debaixo da água, a mais de 1.000 metros de profundidade, no escuro total. A análise acústica é a melhora maneira de conhecê-lo.

'Sphyrna' (USV - Unmanned Surface Vehicle) - AFP PHOTO / Boris HORVAT

De modo geral, as gravações são feitas por boias colocadas nos oceanos ou por dispositivos instalados em grandes barcos. O problema é tais estudos acontecem em um ponto fixo e mudam o comportamento do animal.

O Sphyrna, controlado à distância, pode seguir os cachalotes durante horas nas profundidades e registrar sons com seus cinco microfones submarinos em um raio de 10 km e uma profundidade de 2.000 metros. Atua como um "explorador", destaca o cientista.

O drone, similar a uma canoa, é relativamente pequeno - 17 metros de comprimento e quatro de largura - e pesa pouco mais de uma tonelada graças ao casco de fibra de carbono. Também é muito estável graças a suas formas assimétricas, resume o homem que projetou o aparelho, Fabien de Varenne, diretor da "start-up" Sea Proven.

Todos estes elementos permitem que o drone silencioso, alimentado por painéis solares, não interfira nas gravações submarinas que pretendem estabelecer o número de espécimes na região. "Calculamos uma densidade nesta área de entre 200 e 1.000. Graças a este estudo mais preciso, poderemos conhecer os locais por onde passam e os locais onde vão procurar comida", explica Glotin.

O número de cachalotes registrou queda em consequência da caça, mas também pelos choques com as embarcações, cada vez mais numerosas e mais rápidas. "É muito difícil avaliar, mas calculamos de duas a quatro mortes por ano em colisões na costa francesa do Mediterrâneo. É muito", afirma o professor, que espera reduzir o número de vítimas com a mudança das rotas das balsas.

'Sphyrna' (USV - Unmanned Surface Vehicle) - AFP PHOTO / Boris HORVAT

"Apesar de equipado com um sonar que permite perceber sons a uma distância de 30 a 40 km, o cetáceo o dirige para o fundo e não para a superfície", onde sobe a cada 50 minutos em média. "Quando escuta o som de um motor na parte de trás de um barco, acredita que o silêncio na parte da frente da embarcação é um espaço seguro", afirma Glotin.

"Se não sentir que está seguro, não vai se reproduzir", teme o cientista. E na ausência de seu predador, outras espécies assumirão o controle, como a água-viva, que se alimenta das larvas dos peixes, o que seria uma notícia ruim para os pescadores". Os primeiros resultados do estudo devem ser divulgados em setembro.