Diretoria da Tesla avalia deixar a Bolsa e Musk é questionado

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 09/08/2018 às 10:57
Foto: Emmanuel Dunand  / AFP
Foto: Emmanuel Dunand / AFP FOTO: Foto: Emmanuel Dunand / AFP

O conselho administrativo da Tesla afirmou, na quarta-feira (8), que vai avaliar a possibilidade de retirar a fabricante de carros elétricos do mercado de ações, e autoridades reguladoras americanas questionaram o anúncio insólito do CEO da empresa, Elon Musk.

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Uma nota na segunda-feira afirma que a diretoria da Tesla se encontrou "diversas vezes" para discutir a ideia, após Musk defender a saída da Bolsa de Valores como a melhor solução a longo prazo.

O conselho "está tomando as próximas medidas apropriadas para avaliar isso", afirma a nota.

Musk abalou os mercados nesta terça-feira, anunciando a proposta no Twitter e dizendo que poderia financiar a compra com um preço de 420 dólares por ação.

O Wall Street Journal, citando fontes anônimas, informou ontem à tarde que a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) questionou se as declarações de Musk eram verdadeiras e por que a divulgação foi feita pelo Twitter, e não em um arquivo regulatório.

As empresas podem ser investigadas por declarações enganosas, mas a agência disse em 2013 que as empresas podem usar as mídias sociais "para anunciar informações importantes (...) contanto que os investidores tenham sido alertados sobre quais mídias sociais serão usadas para disseminar essas informações".

A SEC se recusou a comentar. A Tesla não respondeu imediatamente a um pedido de comentários.

As ações da Tesla, que subiram 11% na terça-feira com as declarações de Musk, caíram 2,4%, fechando a 370,34 dólares na quarta-feira.

Muitas empresas evitam divulgar notícias que movem o mercado durante as horas de negociação, mas Musk publicou o tuíte à tarde e depois elaborou uma série de respostas a perguntas na rede social, antes de a empresa finalmente divulgar uma carta aos funcionários com mais detalhes sobre a decisão.

Sair da bolsa liberaria a empresa do ciclo de relatórios trimestrais, permitindo que ela se libertasse "de tantas distrações e pensamentos de curto prazo quanto possível", disse Musk em um post no blog.

Mas especialistas jurídicos e analistas de ações disseram que o anúncio levantou mais dúvidas sobre Musk, que já teve relações espinhosas com Wall Street e se envolveu em várias controvérsias nos últimos meses.

- Ceticismo -

Os analistas de mercado em geral reagiram com ceticismo à ideia de tirar a fabricante da Bolsa.

O grupo Cowen disse que a proposta levantou muitas questões, como de que forma a empresa levantará o capital necessário para executar seu aumento de produção.

"É óbvio que tal transação beneficiaria um CEO que tem se distraído muito com as mídias sociais", afirmou Cowen.

No entanto, "questionamos como os investidores remanescentes se beneficiariam de uma estrutura menos líquida, na qual a administração recebe muito menos escrutínio, apesar de sua execução e histórico fracos".

O JPMorgan Chase também apontou os escassos detalhes da proposta e questionou se os lucros da Tesla corresponderiam às elevadas previsões, já que as montadoras rivais podem oferecer carros elétricos a preços mais baixos, subsidiados com a venda de veículos com motores de combustão interna.

Mas o banco ainda estimou em 50% as chances de a Tesla deixar a Bolsa, o que implicaria em uma valorização das ações da Tesla maior do que os analistas estavam projetando.