Google diz que modelo de negócios pode ser prejudicado com decisão da UE

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 18/07/2018 às 15:30
Foto: Pau Barrena / AFP
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Com AFP

A UE infringiu, nesta quarta-feira (18), uma multa recorde de 4,34 bilhões de euros à Google por abuso de posição dominante de seu sistema operacional para smartphones e tablets, Android, com o objetivo de garantir a hegemonia de seu serviço de busca on-line.

A Google anunciou que vai recorrer da bilionária multa imposta pela UE, considerando que "o Android criou mais opções para todos [os consumidores], não menos", como alega Bruxelas, segundo o presidente Sundar Pichai.

Em texto publicado em seu blog, Pichai disse que o modelo de negócios da empresa pode ser prejudicado com essa decisão. "Até agora, o modelo de negócios do Android significou que não tivemos que cobrar dos fabricantes de telefones pela nossa tecnologia ou depender de um modelo de distribuição rigidamente controlado. [...] Mas estamos preocupados com o fato de que a decisão de hoje venha a perturbar o equilíbrio cuidadoso que atingimos com o Android", disse.

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A Comissão Europeia determinou à empresa americana que "ponha fim às suas práticas ilegais nos próximos 90 dias", sob pena de novas multas.

"O Google usou o Android como um veículo para consolidar a posição dominante de seu motor de busca. Essas práticas (...) privaram os consumidores europeus das vantagens de uma concorrência efetiva", concluiu a comissária europeia de Concorrência, Margrethe Vestager, em um comunicado.

Essa nova multa europeia contra uma companhia do Vale do Silício, que equivale a 5 bilhões de dólares no câmbio atual, pode deteriorar ainda mais a relação com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já tensas pela disputa comercial e por suas diferenças sobre a Otan, o acordo nuclear iraniano, entre outros.

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Na próxima quarta-feira, o presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, viaja para Washington para tentar desativar o conflito comercial com um presidente americano disposto a aumentar as tarifas sobre os veículos europeus.

A sanção, que pode alcançar 10% do volume de negócios mundial da Alphabet (matriz da Google), é a mais alta já aplicada por abuso de posição dominante, depois dos 2,424 bilhões de euros impostos ao Google em 2017 por favorecer seu comparador de preços Google Shopping em seu motor de busca.

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Android é usado por 80% dos celulares no mundo

Sistema operacional usado por 80% dos celulares no mundo e que equivale ao IOS para iPhone da Apple, o Android está na mira da Comissão Europeia há anos.

"O motor de buscas da Google é seu principal produto. A cada ano, a Google gera mais de 95 bilhões de dólares de receitas graças à publicidade" no Google Search, apontou a comissária, para quem "grande parte desta receita vem do auge de dispositivos móveis como smartphones e tablets'".

Bruxelas acusa a Google de ter obrigado os fabricantes de dispositivos móveis, como o sul-coreano Samsung, ou o chinês Huawei, a pré-instalar o aplicativo Google Search e seu navegador Chrome para conceder a licença de sua loja de aplicativos Play Store.

Google teria pagado operadoras para pré-instalarem seus aplicativos

A empresa também teria pagado grandes fabricantes e operadores de redes móveis para que pré-instalassem exclusivamente o Google Search em seus dispositivos e teria limitado o desenvolvimento de novas versões de código aberto ("open source") do Android.

Em abril de 2016, a Comissão Europeia comunicou suas objeções ao Google, mas a companhia de Mountain View não conseguiu aliviar as preocupações. Hoje, Bruxelas deu à empresa até 90 dias para corrigir essas práticas "ilegais".

Se não cumprir esse prazo, o Executivo comunitário poderá impor multas coercitivas de até 5% do volume de negócios mundial médio diário da Alphabet. Em 2017, a empresa registrou 110,9 bilhões de dólares (94,7 bilhões de euros).

No caso de seu comparador de preços Google Shopping, a companhia apresentou uma série de soluções em setembro ainda sob análise de Bruxelas.

Em setembro de 2017, o grupo californiano já havia entrado com um recurso na Justiça europeia contra a decisão de Bruxelas. A decisão judicial pode levar até dois anos para sair, diante da complexidade do caso.

Além do Shopping e do Android, o Executivo comunitário mantém uma terceira queda de braço com a Google por abuso de posição dominante, referente a seu sistema de publicidade AdSense (80% do mercado na Europa). A investigação aberta pode levar a uma nova multa.