[Comprova] - Coalizão de jornalistas vai investigar desinformação online nas eleições brasileiras

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 28/06/2018 às 0:02
Claire Wardle, diretora do First Draft (Heitor Feitosa/VEJA)
Claire Wardle, diretora do First Draft (Heitor Feitosa/VEJA) FOTO: Claire Wardle, diretora do First Draft (Heitor Feitosa/VEJA)

Serão 24 redações, de todos os espectros ideológicos, espalhadas pelo País, com o objetivo de identificar e explicar rumores, conteúdo forjado e táticas de manipulação que possam influenciar a campanha para as eleições presidenciais no Brasil em 2018. Num coalizão sem precedentes, será lançado hoje (28), durante o congresso da Associação Brasileira de Jornalistas Investigativos (Abraji), o projeto Comprova.

A iniciativa foi criada pelo Information Disorder e pela First Draft International, com base em ações como o CrossCheck, realizado durante a campanha eleitoral presidencial na França, em maio de 2017, e parcerias com agências de verificação de fatos nas eleições de junho de 2017 no Reino Unido e de setembro de 2017 na Alemanha.

O Comprova vai monitorar e fornecer relatos precisos sobre peças de desinformação compartilhadas em redes sociais, sites e aplicativos de mensagens privadas. O Jornal do Commercio será o representante de Pernambuco na coalizão, que aina conta com AFP, Band, BandNews, Canal Futura, Correio do Povo, Exame, Folha de S.Paulo, GaúchaZH, Gazeta do Povo, Gazeta Online, Metro Brasil, Nexo Jornal, Nova Escola, NSC Comunicação, O Estado de S.Paulo, O Povo, Poder360, piauí, Rádio BandNews FM, Rádio Bandeirantes, SBT, UOL e Veja.

A coordenação do projeto será feita pela própria Abraji, com apoio do Projor (Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo). O Google News Initiative e o Facebook Journalism Project ajudam a financiar o projeto, além de oferecer treinamento e apoio técnico. O Comprova entra no ar em 6 de agosto de 2018. “O desafio do combate à desinformação exige uma ação coordenada”, diz Daniel Bramatti, presidente da Abraji e líder do Comprova. "Nunca tantos veículos se uniram em um projeto colaborativo como este, e a Abraji se orgulha de fazer parte desta iniciativa."

WhatsApp como diferencial

De forma semelhante como operou em outros países, a coalizão criada pelo First Draft  irá utilizar ferramentas avançadas para identificar e combater a desinformação online e as técnicas sofisticadas de amplificação e manipulação. Todos os participantes irão compartilhar seu conhecimento, dicas e expertise para estimular investigações colaborativas por um período que vá além das eleições de 2018.

Uma particularidade do trabalho no Brasil será o foco no WhatsApp, que conta com mais de 120 milhões de usuários no País. Além de criar uma conta exclusiva para que os brasileiros possam enviar rumores relacionados às eleições presidenciais, a coalizão terá acesso às APIS do WhatsApp Business, antes reservadas pela empresa somente aos seus maiores clientes corporativos. A ideia é combater boatos disseminados pelo aplicativo de mensagens privadas.

As redações participantes trabalharão juntas para verificar informações, depois criarão peças visuais como imagens compartilháveis, gifs animados e vídeos curtos para espalhar os desmentidos. Nenhum desmentido será publicado antes de ao menos três veículos de imprensa diferentes entrarem em acordo sobre a falsidade da informação em questão.

Apenas informações equivocadas que já tenham tido um grande alcance ou que tenham potencial viral serão verificadas. A ideia é que a plataforma não corra risco de ajudar um boato ainda fraco a ganhar fôlego acidentalmente. "O volume de conteúdo problemático circulando no Brasil é grande demais para que uma única redação lide com ele, e não faz sentido que diferentes redações dupliquem esforços para investigar os mesmos casos de conteúdo problemático", afirma Claire Wardle, diretora do First Draft. "Ao treinar redações e unir esforços, acreditamos que um projeto como este possa ter impacto duradouro no Brasil."

Ação descentralizada

O Comprova não terá uma redação central e os relatos serão publicados no site do projeto, com alcance ampliado pelos parceiros do projeto, que usarão seus próprios canais e publicações para que mais brasileiros tenham acesso a informação confiável.

Os parceiros institucionais da iniciativa são Associação Nacional de Jornais (ANJ), RBMDF Associados, Escritório da Universidade de Harvard no Brasil, Projor, Torabit, Ideal H+K Strategies e Twitter.