'Tecnologia revolucionará ensino, prática e clínica', diz cirurgião conhecido como "futurista da saúde"

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 09/05/2018 às 9:12
Rafael Grossmann/Divulgação
Rafael Grossmann/Divulgação FOTO: Rafael Grossmann/Divulgação

Fábio de Castro (Estadão Conteúdo)

Para o cirurgião venezuelano Rafael Grossmann, conhecido nos Estados Unidos como um "futurista da saúde", recursos como a realidade aumentada e a telemedicina já estão disponíveis para transformar a prática clínica, os sistemas de saúde e o ensino da Medicina.

Ele, que ficou conhecido por ter sido o primeiro a realizar uma cirurgia transmitida por streaming em tempo real com o uso do Google Glass, em 2013, deu entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo para falar sobre o uso de tecnologia e inteligência artificial na medicina.

Como foi o usar o Google Glass em uma cirurgia? E em que esse recurso pode ser útil?

Enquanto operava, tudo o que via - o abdome do paciente e as imagens do endoscópio - era transmitido em streaming, em alta definição e em tempo real, para tablets previamente cadastrados. O potencial disso é revolucionário, porque a imagem transmitida pode ser vista em qualquer lugar, da perspectiva exata do cirurgião. Em um local distante onde o paciente não tem acesso a um cirurgião mais experiente em uma especialidade, o médico local pode realizar a cirurgia e transmitir para que outro especialista dê orientações precisas.

Seria, então, um meio de facilitar a troca de conhecimento entre os cirurgiões?

Sem dúvida. Mas esse recurso também deverá revolucionar o ensino Um grupo de estudantes de qualquer tamanho poderá acompanhar o procedimento como se estivesse na sala de cirurgia, operando o paciente.

E na prática clínica?

Há vários aplicativos. Um deles permite ao médico, durante a consulta, conversar com o paciente enquanto acessa dados de seu prontuário, projetados na lente. Isso permite dar mais atenção ao paciente.

Rafael Grossmann/Divulgação

Que outras tendências você vê no uso da tecnologia?

Há muitas inovações em plataformas de smartphones, realidade virtual e realidade aumentada, nanotecnologia, impressoras 3D e robótica. Tudo isso está melhorando rapidamente a conectividade, a comunicação e a gestão de dados. O mais importante é a conectividade, que temos explorado muito mal. A realidade aumentada tem potencial impressionante. Temos usado, por exemplo, um dispositivo, que pode ser definido como óculos holográficos. Permite projetar um órgão em 3D no ar. A imagem do coração anatomicamente preciso, funcionando, aparece flutuando e podemos girá-la, abri-la, manipulá-la de todas as formas. Isso mudará as aulas de anatomia e fisiologia.

E por que a conectividade é tão importante?

Temos centenas de milhares de mortes causadas por erros médicos e a principal causa é a má comunicação entre médicos. Esse aumento exponencial de conectividade melhorará o atendimento.

Mas o Brasil e a Venezuela podem arcar com os custos?

Países como os nossos serão os maiores beneficiados pela tecnologia. O desenvolvimento da tecnologia é exponencial e o barateamento de equipamentos é constante. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.