Projeto privado europeu simula viagem à Marte em Omã

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 10/02/2018 às 15:08
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Patrocinado pelo sultanato de Omã e com o apoio de empresas e universidades, o programa AMADEE-18 lançado nesta quinta-feira foi organizado pelo Austrian Space Forum. Esta missão acontece quando o bilionário americano Elon Musk acaba de lançar ao espaço o foguete atualmente mais potente do mundo, um feito que constitui uma etapa para o transporte de humanos a Marte.

De retorno à Terra, em um remoto lugar do deserto de Dhofar, pesquisadores, profissionais do espaço e apaixonados pela ciência se reuniram para fazer avançar o AMADEE-18. Em um campo sob a proteção das forças armadas locais, são realizadas experiências como cultivar verduras frescas em estufas de plástico ou fazer rodar veículos autônomos por terrenos sinuosos.

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Os participantes também dirigem veículos com baterias solares para concretizar outras experiências realizadas por pesquisadores universitários. O campo de construções pré-fabricadas, cuja maior parte foi instalada por uma comissão omani antes da missão: banho quente, ar condicionado, um gigantesco iglu inflável e um labirinto de habitações servidas por um gerador 24 horas por dia.

O Austrian Space Forum não dispõe de foguete como Elon Musk, mas seus membros -alguns dos quais trabalham no setor espacial- compartilham a mesma vontade de inovar fora das estruturas dos programas espaciais nacionais, extremamente rígidos.

- Local especial -

O presidente do Fórum, Alexander Soucek, diz que seus colegas estão conseguindo um lugar especial com as simulações de Marte e que estão em condições de realizar suas investigações com mais flexibilidade e agilidade. "A maior parte do dinheiro que usamos não é dos contribuintes. Temos patrocinadores na indústria privada. Coletamos dinheiro, criamos associações e convidamos as pessoas a juntar forças", disse ele à AFP.

O Fórum não tem uma posição oficial sobre exploração e mineração no espaço, mas Soucek acredita que as futuras missões aproveitarão o que acharem. "Uma vez que chegarmos e vivermos em Marte, teremos que usar os recursos que encontramos lá, pois não seremos capazes de tirar tudo da Terra, é o que se chama uso de recursos 'in situ'. Por tanto, teremos que utilizar o que encontramos: primeiro para manter a vida no local, depois para apoiar as missões e, a longo prazo, talvez para outras coisas".

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Desde 2015, os Estados Unidos, sob a presidência de Barack Obama, e depois o Luxemburgo estão na vanguarda do que se chama a nova corrida ao espaço, criando marcos legais que toleram a exploração mineradora. A União Europeia (UE) ainda não se posicionou, uma vez que os seus membros têm divergências a este respeito.

"Você pode simplesmente ir e aproveitar os recursos ou não", de acordo com Soucek. "Há alguns problemas a serem resolvidos do ponto de vista técnico, econômico e político, mas, como sempre no espaço, trata-se de ficção científica. Talvez amanhã seja sobre a realidade", acrescenta.

Os astronautas voluntários da AMADEE-18 dizem ter observado o lançamento da Falcon Heavy com admiração, mas têm diferentes pontos de vista sobre suas implicações, bem como a comercialização do espaço. "Você não pode reivindicar a Lua ou os asteroides, uma vez que a exploração entra em uma espécie de vácuo jurídico", diz João Lousada ao colocar um exoesqueleto simulando a pressão com a ajuda de três técnicos.

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De volta de uma expedição motorizada no deserto, Kartik Kumar, especialista em detritos espaciais, reflete sobre o papel e a responsabilidade dos viajantes espaciais. "Nunca devemos esquecer que, explorando nosso próprio planeta e o sistema solar, devemos assumir nossa responsabilidade, particularmente a ética", diz ele.

"Devemos encontrar um equilíbrio entre colocar o pé em Marte e reconhecer que é uma herança comum e preservá-lo para as gerações futuras", acrescenta.