Como diria Dorothy, em O Mágico de OZ, “não há lugar como o nosso lar”. E era de uma volta ao lar que o Homem-Aranha precisava.
Num ano de bons filmes de super-heróis, começando com Logan e passando por Guardiões da Galáxia Vol. 2 e Mulher-Maravilha, ganhamos ainda aquele que talvez seja o melhor filme do Amigão da Vizinhança até hoje.
O título Homem-Aranha: De Volta ao Lar, tem dois sentidos. Primeiro, tem a ver com a própria chegada do personagem ao Universo Cinematográfico da Marvel, com seu primeiro filme solo depois da estreia em Capitão América - Guerra Civil. O segundo significado tem relação com o título em inglês, “Homecoming”, que é o baile de volta do recesso escolar norte-americano.
O homecoming de Peter Parker (Tom Holland) é um dos vários problemas que ele tem que enfrentar. Além disso, ele tem que se virar com as provas, ajudar a sua tia May (Marisa Tomei, maravilhosa), competir no campeonato de Decathlon Acadêmico da escola, aguentar o bullying que sofre por parte de Flash (Tony Revolori) e enfrentar seu “crush” pela Liz (Laura Harrier). Ah, e também o fato dele ter super-poderes vindos de uma aranha radioativa e um sujeito numa roupa voadora estar determinado a matá-lo. Fora isso, Parker é um adolescente como qualquer outro.
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De todas as encarnações do Homem-Aranha no cinema, essa é a que tem mais a cara do personagem. A trilogia do Sam Raimi é boa, mas o Peter de Tobey Maguire – que tinha 27 anos quando fez o primeiro filme – está mais para “freak” do que para o “nerd tímido” que é o personagem original, e na sua versão heróica falta o bom humor e a autoconfiança que o Aranha tem quando coloca a máscara.
Andrew Garfield, nos filmes de Mark Webb (2012-2014), até tentou voltar para o espírito colegial do personagem. Mas tinha 29 anos quando fez o primeiro filme, e sofreu com roteiros péssimos e direção sem inspiração. Tom Holland tem uma idade mais próxima (21 anos), é um sujeito atlético sem ser musculoso e convence como o geek da sala, que praticamente só interage com seu amigo Ned (Jacob Batalon, sensacional) e com a deslocada Michelle (Zendaya).
O filme ainda captura bem o espírito do “Amigão da Vizinhança”. Num universo onde existem seres como o Hulk, Capitão América, Thor e Homem de Ferro, além dos outros Vingadores, o Homem-Aranha é o herói do Queens, que viraliza no Youtube, ajuda senhoras na rua e recupera bicicletas roubadas, enquanto tenta impressionar seu “mentor” – e figura paterna da vez – Tony Stark (Robert Downey Jr.). A primeira grande ameaça que lhe surge está na figura de Adrian Toomes, o Abutre (Michael Keaton), um engenheiro que recolhe equipamentos deixados para trás depois dos confrontos dos Vingadores e os transforma em armas para serem vendidas ao crime.
Homem-Aranha: De Volta ao Lar é um filme extremamente divertido, ao mesmo tempo que é fiel ao espírito dos quadrinhos. Suas cenas de ação possuem um ritmo rápido e vertiginoso, mas sempre deixam o espectador participar e entender o que está acontecendo. Como o herói já apareceu antes, fomos poupados da “história de origem”. Com poucos minutos de filme o Homem-Aranha já está uniformizado, combatendo o crime e pulando entre os prédios de Nova York.
A comédia dá o tom do filme inteiro, seja com o Ned, com o Happy Hogan (Jon Favreau), Stark, tia May ou até mesmo Parker sozinho, conversando com uma inteligência artificial. De uma forma geral, o filme lembra mais uma produção do John Hughes do que um longa do Universo Marvel.
Na parte do drama, Keaton faz um Abutre ameaçador como ele jamais foi nos quadrinhos, redimindo uma falha crônica dos filmes da Marvel: a falta de vilões convincentes. E se você gosta de referências, se prepare. Só para citar algumas, o Abutre não é o único vilão a dar as caras, já que o Shocker, Escorpião e até o Gatuno também aparecem, alguns já desenvolvidos, outros chegando lá nos futuros filmes.
