Tecnologia diminui o impacto da greve dos bancários

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 22/09/2016 às 11:01
Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem FOTO: Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem

Houve um tempo em que greve bancária era sinônimo de caos. O País parava, uma vez que as pessoas não tinham como realizar transações – e os sindicatos do setor usavam isso como poder de barganha para garantir seus direitos trabalhistas.

Hoje, o cenário é diferente: embora ainda exista um certo transtorno, não há a mesma comoção, e o responsável por isso é o avanço da tecnologia. A categoria se enfraqueceu, mas o consumidor ganhou.

“As pessoas agora conseguem fazer a maior parte das transações em casa, na internet ou pelo celular. Até mesmo quem não tem acesso pode pagar suas contas em casas lotéricas”, explica o professor da Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EPGE), Luis Bradio.

“O desenvolvimento do sistema financeiro diminuiu o impacto das greves no dia a dia do cliente. Perdeu-se o senso de urgência e, com isso, a parte mais midiática das paralisações, aquelas filas enormes que se formavam”, completa. Os bancários estão em greve em todo País desde o último dia 6.

O setor financeiro é um dos que mais investem em inovação e tecnologia disruptiva (substitui um conceito anterior), e o objetivo desse investimento é cortar custos. “A tendência é que o número de funções menos especializadas diminua nos próximos anos. Agências que tinham 10 ou 12 atendentes passarão a ter um ou dois, com o resto do atendimento automatizado”, avalia Bradio. A solução para o trabalhador: qualificar-se cada vez mais.

Mesmo com toda tecnologia, as greves ainda afetam o funcionamento interno (e o faturamento) dos bancos. “Sem os funcionários, a agência não faz captação de investimentos ou concede empréstimos. Mesmo com uma automação cada vez maior, certos serviços sempre irão depender de uma interação humana”, afirma Bradio, que estima que o enxugamento nos postos de trabalho do setor financeiro ainda deve ser lento nos próximos anos. “A geração atual com menos de 25 anos faz quase 100% das transações online, mas ainda existe uma fatia grande da população que depende do serviço especializado dos bancários.”

A tendência da economia – indo para além do setor financeiro – é que só as profissões mais especializadas, ou que lidem com habilidades criativas e sociais, como capacidade de improvisar, interpretar, negociar e trabalhar fora de padrões, serão mais valorizadas. “Em qualquer fábrica de primeiro mundo, no lugar de operários agrupando peças e apertando parafusos, encontraremos diversas máquinas de última geração — isso não é surpresa para ninguém”, afirma o criador do portal iCarreiras, Rodrigo Rossetti, que completa: “nessa revolução tecnológica, uma coisa é certa: pessoas vão perder seus empregos”.

Para sobreviver nesse cenário, especialistas indicam especialização em carreiras com menor “grau de automação”, ou seja, menos propensas a serem substituídas por máquinas. “Vejo movimentos que se opõem a uma solução tecnológica como uma negociação temporária, para adaptar-se a uma nova realidade, mas ela é inevitável. Sistemas mais complexos, como o Watson, da IBM, já conseguem substituir o atendimento online e é utilizado em setores como saúde, varejo, setor financeiro e setor público”, afirma Rossetti.