[Review] - Star Trek: Sem Fronteiras

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 31/08/2016 às 8:36
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Existia uma preocupação na mente dos fãs de ~Jornada nas Estrelas~ (que hoje, assim como Star Wars, atende pelo nome internacional de “Star Trek”). J. J. Abrams, que conduziu o renascimento da franquia em Star Trek (2009) e Além da Escuridão: Star Trek (2013), havia deixado a cadeira de diretor – para liderar, justamente, o renascimento de Star Wars – e foi substituído por Justin Lin, conhecido por dirigir os Velozes e Furiosos do 3 ao 6.

O diretor, Justin Lin. Foto: Paramount/Divulgação O diretor, Justin Lin. Foto: Paramount/Divulgação

Para completar, um trailer divulgado meses depois aumentou essa apreensão, ao focar muito mais na ação do que na ficção científica/aventura que caracteriza a série. Para piorar a ansiedade, os brasileiros receberam o filme quase um mês depois da sua estreia mundial. Mas, com a chegada de Star Trek: Sem Fronteiras, tudo isso acabou. Mesmo. Podem ficar tranquilos.

O novo longa é, talvez, o que mais se aproxima do espírito dos filmes e episódios originais. Lin conseguiu unir sua expertise em filmes de ação com uma pegada mais forte de ficção científica do que vimos nos filmes anteriores. O diretor - que já provou que sabe fazer cenas de ação - conseguiu dar um ritmo equilibrado ao filme, sem deixar com que fique chato ou com que pareça um videoclipe.

No longa, a tripulação da USS Enterprise já passou da metade da sua missão de cinco anos e todos se conhecem muito bem, ao mesmo tempo que estão em busca do desconhecido, em regiões da galáxia que não foram mapeadas pela Federação. Ou seja, os personagens já estão bem fundamentados na mente do público e podemos pular para a aventura sem precisar de introduções.

Ao mesmo tempo, o novo filme não se leva tão a sério, como acontece com Além da Escuridão.  Sem Fronteiras tem o mesmo jeitão de “episódio da série com duas horas de duração” que filmes como Jornada nas Estrelas IV: A Volta para a Terra (1986) e Jornada nas Estrelas: Insurreição (1998).

O filme ainda leva uma carga emocional grande. Anton Yelchin, que vive Pavel Chekov, morreu em decorrência de um acidente na época da pós-produção e ganhou uma homenagem no final do longa. Outra perda foi o grande Leonard Nimoy, o Spock original, cujo falecimento acaba sendo usado pelos roteiristas Doug Jung (que tem uma ponta como marido do piloto Hikaru Sulu) e Simon Pegg (que vive o engenheiro Montgomery Scott) como motivação para o novo Spock, Zachary Quinto.

Por sinal, falando no Sulu, toda polêmica em torno da sua "saída do armário" foi à toa. As cenas são muito rápidas e feitas de forma natural. O personagem é absolutamente o mesmo - só que tem uma família para se preocupar. Se o fato dele ser gay é um problema para você, sinto lhe informar: você não entendeu Jornada nas Estrelas. Perdeu sua carteirinha de fã. Morra.

Mas a trama gira mesmo em torno do capitão James T. Kirk (Chris Pine), que vive um dilema moral. Perto de completar a idade que seu pai tinha quando morreu ao salvar a tripulação de um ataque romulano (como visto no início do primeiro filme). Como o McCoy resume, num papo entre os dois que lembra muito a cena de Jornada nas Estrelas II - A ira de Khan (KHAAAAAAAAN!) de 1982: "você entrou para a Federação para provar que estava à altura do seu pai. E agora precisa ser James Kirk".

Isso muda quando um módulo de emergência chega ao posto avançado de Yorktown pedindo pela ajuda da Federação. Por sinal, parabéns ao departamento de arte do filme. Yorktown é um lugar fantástico, digno de estar entre os mais impressionantes do gênero ficção científica. Seu formato esférico e seus anéis são como uma mistura de Halo com Encontro com Rama. Pirei.

Então, Kirk, Spock, McCoy, Uhura, Scotty, Sulu, Chekov partem em missão para atravessar o desconhecido (uma nebulosa) e se veem atacados por forças alienígenas. Star Trek prova então que é uma série tão madura que agora pode fazer auto-referências, além das já famosas citações aos filmes antigos. Por exemplo: quando a Enterprise está sob ataque (um clichê dos filmes), Kirk pede que a tripulação da ponte deixe a nave pelos módulos de fuga Kelvin, em referência à USS Kelvin, comandada pelo seu pai quando morreu. Se as naves de então tivessem um módulo desses, talvez George Kirk pudesse ter sobrevivido. Discreto, mas fascinante.

Presos num planeta alienígena e isolados da Federação, a tripulação deve provar que são os melhores da frota. Nesse sentido, mais um ponto para a produção, que separa os tripulantes principais em duplas, de modo a criar situações tensas ou divertidas no roteiro – e deixando todos com quase o mesmo tempo de tela e peso na trama.

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Os novatos na franquia, Idris Elba, que faz o vilão Krall, e Sofia Boutella, que interpreta a alienígena Jaylah, também merecem destaque. Elba, em particular, está irreconhecível não só na maquiagem como na caracterização da voz e dos trejeitos do antagonista. Não é nada de outro mundo, está no nível dos vilões passados Benedict Cumberbach e Eric Bana. Só sua motivação pode ficar confusa para quem não está tão habituado ao universo de Star Trek.

Com Sem Fronteiras, Star Trek mostrou que voltou de vez em quanto marca e pode conquistar uma nova geração, independente da condução direta de J. J. Abrams na direção. Pelo jeito, no universo de Star Trek, 13 é um número de sorte.