Especialistas criticam proibição de Pokémon GO nas escolas de Pernambuco

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 08/08/2016 às 18:52
Foto: AFP
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É proibida a caça a Pokémon nas salas de aula das escolas públicas de Pernambuco. Isso inclui, pelo menos, as unidades de ensino das redes Estadual e Municipal do Recife, segundo notas divulgadas na tarde desta segunda-feira (8) (íntegra de cada uma delas no fim deste post). Por definição dos dois órgãos, com base na Legislação, o uso dos celulares só é permitido na aula quando para fins pedagógicos, o que não abarcaria o recém-lançado Pokémon GO.

No documento enviado à reportagem do MundoBit, a Secretaria de Educação do Estado afirma ter repassado às escolas a orientação de que conversem com os estudantes para alertar quanto "aos casos de acidente que vêm acontecendo em função deste jogo". Já a gestão municipal informa que, apesar de já ter proibido o uso dentro das salas, ainda avalia o uso nos corredores e demais áreas internas das escolas para decidir se há necessidade de veto.

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Muito pouco ainda se discute sobre o uso do game no ambiente escolar, mas alguns especialistas acreditam que há, sim, formas de aliar entretenimento e conhecimento neste caso. Pelo menos essa foi a conclusão a que chegaram os participantes do Hacker Club Pedagógico da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), realizado nesta segunda. O espaço reuniu alunos da educação básica, graduandos, mestrandos e professores de cursos como Biblioteconomia, Design e Pedagogia, para um brainstorm sobre a presença do Pokémon GO nas unidades de ensino.

"Escutamos jovens de dez a quinze anos e, para eles, é importante o fato de poderem jogar com os amigos, além da possibilidade de sair de casa e ir às ruas para interagir com outras pessoas. É importante que a escola se aproprie dos bens culturais e recursos que as crianças e os adolescentes valorizam. Precisamos usar isso a favor da aprendizagem dos alunos", afirma a professora Auxiliadora Padilha, coordenadora adjunta da Conecte, que é a coordenação de educação a distância e inovação pedagógica da UFPE.

Durante o debate, observou-se quatro tipos de comportamento valorizados pelo aplicativo: exploração, socialização, competição e colecionamento. Assim, os alunos, que antes exploravam o mundo de casa, através do computador, agora vão às ruas atrás dos pokéstops e ginásios, onde percebem monumentos e pontos turísticos, conversam e trocam informações, colecionam as criaturas e duelam.

Professores de Pedagogia, Design e Biblioteconomia no Hacker Club da UFPE. Foto: Divulgação - Professores de Pedagogia, Design e Biblioteconomia no Hacker Club da UFPE. Foto: Divulgação
Alunos da educação básica e da UFPE participam da discussão. Foto: Divulgação - Alunos da educação básica e da UFPE participam da discussão. Foto: Divulgação

"Na sala de aula não é necessário trabalhar só conteúdos conceituais e factuais, mas também atitudinais. Vemos que os alunos não precisam, necessariamente, competir entre si. Eles se ajudam e quando um Pokémon aparece, todos eles podem pegar. Não há uma competição para pegá-lo ou pegá-lo primeiro. O incenso e outros itens podem ser compartilhados. Da mesma forma que não podemos fazer com o celular e a internet, não podemos proibir o jogo porque dessa forma afastamos o aluno da escola", explica a professora.

De acordo com a Legislação, o uso do aparelho celular na aula é permitido quando usado para fins pedagógicos. Por isso, Auxiliadora reforça: "Por que não aproveitar a motivação do aluno para esses temas e engajá-lo na aprendizagem?".

ESCOLAS PRIVADAS - Entre as unidades privadas, também foram definidas regras para que os alunos não jogassem o Pokémon GO nas instalações do colégio. Na última sexta (5), o Colégio Agnes, localizado no bairro das Graças, Zona Norte da capital pernambucana, emitiu um comunicado aos pais avisando que os estudantes podem sofrer medidas disciplinares caso sejam pegos jogando. A reportagem tentou entrar em contato com a direção da escola, mas não obteve retorno.

Comunicado enviado aos pais de alunos do Agnes na última semana. Foto: Divulgação Comunicado enviado aos pais de alunos do Agnes na última semana. Foto: Divulgação

Confira a íntegra de cada uma das notas das secretarias de Educação:

SECRETARIA ESTADUAL

Na Rede Estadual, o uso de celulares só é permitido quando direcionado para fins pedagógicos. Ou seja, nenhum tipo de jogo que não tenha caráter pedagógico – inclusive Pokémon Go – está liberado nas escolas da Rede. No caso deste aplicativo especificamente, a orientação que vem sendo dada é que as escolas conversem com seus estudantes, com foco nos casos de acidente que vem acontecendo em função deste jogo, a fim de preservar a integridade física deles mesmo fora das unidades da Rede.

SECRETARIA MUNICIPAL (RECIFE)

A Secretaria de Educação informa que o uso de celulares e equipamentos eletrônicos em sala de aula, para fins não pedagógicos, é proibido por lei. Por isso, os alunos não podem jogar o Pokemon Go dentro das salas. Quanto aos corredores e demais áreas internas das escolas, a Secretaria está avaliando a situação para decidir se há necessidade de tomar alguma medida.