[Artigo] - Campus Party Recife diminuiu em tamanho, mas não em conteúdo, garante Francesco Farruggia

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 07/06/2016 às 21:56
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Quando a edição 2016 da Campus Party Recife foi anunciada, muita gente ficou desapontada. Inclusive eu. Ao invés do evento completo, com conexão super rápida e camping, como foi nos últimos anos, vamos receber a versão “Weekend”, com um viradão de palestras entre os dias 20 e 21 de agosto.

Muitos veteranos da #CPRec reclamaram nas redes sociais, queriam mais. Afinal, somos pernambucanos, e nos orgulhávamos de ter a maior Campus Party “em linha reta da América Latina”. Diminuir seu tamanho seria como tirar dois dias do Carnaval.

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O pessoal da organização ouviu essas reclamações, e o presidente do Instituto Campus Party, Francesco Farruggia, explicou o porquê. O fato é que os tempos são outros, não só aqui como em todo mundo. "A Cidade do México recebeu uma Campus Party Weekend semana passada, lá eles estão passando por problemas parecidos com o Brasil", explicou. Nem por isso o evento foi menos animado, ou menos engajado.

O Brasil passa por dificuldades e o Recife mais ainda. Além da crise econômica, temos o problema da Zika e da consequente microcefalia que tem atingido centenas de bebês. É bronca, todos os recursos devem ser alocados para minimizar essa questão e outros temas acabam ficando em segundo plano, natural. A maior dificuldade da Campus Party Recife foi realmente a falta de recursos, e por isso ela teve que mudar.

Mas Farruggia garantiu que a Campus é mais do que “conexão super rápida e camping”. É discutir o impacto da transformação digital na indústria do futuro (que não está longe) e manter esse debate ativo no Estado é o mais importante agora. “Estávamos acostumados a viajar na primeira classe. Mas este ano teremos que viajar na econômica. Não é tão bom, mas o importante é seguir em frente”, contou Farruggia.

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Esse discurso, inclusive, está em sintonia com o que enxerga a secretária de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado, Lúcia Melo, que já tem um grande plano para disseminar a inovação em Pernambuco e ajudar empresas e sociedade a se ajustarem para enfrentar transformação digital, mesmo sem ter um orçamento para isso. Não pode ficar parado. Para Farruggia, os próximos anos serão cruciais uma vez que, se seguirmos a Lei de Moore, a capacidade computacional das máquinas deve dar um salto nunca antes visto - e muita gente vai perder o emprego em consequência disso.

Uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial apontou que mais de cinco milhões de empregos serão perdidos até 2020 como resultado dos avanços da genética, da inteligência artificial, da robótica, entre outras mudanças tecnológicas. "Mais do que isso, nossa legislação não está preparada para lidar com esse futuro. Se uma fábrica demitir todos os funcionários e automatizar a linha de produção, os robôs devem pagar impostos? Se um carro que se dirige sozinho atropelar e matar uma pessoa, quem deve ser culpado? O fabricante? A empresa que desenhou a inteligência artificial? O operador do satélite de GPS? Essas questões não foram debatidas e é possível que nem se tenha tempo para isso, já que essas mudanças estão em curso agora", comenta o presidente do Instituto Campus Party.

Tem muita gente boa pensando em soluções para esse futuro e nós temos que embarcar nesse trem também. Eventos da Campus Party acontecem no mundo todo e são uma excelente arena para debater essas ideias, mas se acontece no Recife ou não, não faz diferença no plano geral das coisas. Mas faz diferença para os pernambucanos, paraibanos, baianos, maranhenses, cearenses e todo mundo que participa do evento aqui. "Você pode ver o copo meio cheio ou meio vazio. Para mim, uma Campus menor, mas com conteúdo e debate de alto nível, é melhor do que nenhuma", afirma Farruggia.

A Campus Party Recife está mais curta em 2016. Mas ela vai ser melhor? Pior? Não tem como dizer ainda. Ela vai ser o que fizermos dela.

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