Whatsapp criptografado: o que significa?

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 09/04/2016 às 8:37
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Reprodução/ViralBlog.com. FOTO: Reprodução/ViralBlog.com.

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Suas conversas online estão mais seguras. Pelo menos é o que promete o Whatsapp, que esta semana anunciou que implementou uma "criptografia total", decisão que aumenta a privacidade – mas que também pode gerar conflitos com organismos de segurança. Ao adotar a codificação de ponta-a-ponta, ou seja, entre o celular do remetente e do destinatário, a empresa se exime de fornecer dados de conversas para órgãos da justiça e polícia.

Não que a empresa, que faz parte do Facebook, alguma vez tenha colaborado com qualquer investigação. No ano passado, chegou a ser bloqueado pela Justiça brasileira, a quem deve R$ 12,7 milhões em multas. No início de março,o vice-presidente do Facebook no Brasil chegou a ser preso por não ter repassado informações de mensagens que circularam no aplicativo. Mas se antes ela se justificava dizendo que não guardava as mensagens, apenas repassava, agora pode dizer que nem lê o conteúdo (ou não tem como ler).

“Ninguém pode ver essa mensagem. Nem os cibercriminosos, nem os hackers, nem os regimes opressivos. Nem mesmo nós”, garantiu o Whatsapp, em mensagem oficial publicada no seu site. “Muitos aplicativos somente criptografam mensagens entre você e eles próprios, mas a criptografia de ponta-a-ponta do WhatsApp assegura que somente você e a pessoa com que você está se comunicando podem ler o que é enviado. Tudo isso acontece automaticamente: não é necessário ativar configurações ou estabelecer conversas secretas especiais para garantir a segurança de suas mensagens”, completa o comunicado.

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A criptografia fez com que o Whatsapp ganhasse pontos no ranking de segurança e privacidade da Electronic Frontier Foundation (EFF), organização americana que milita pela proteção dos direitos civis no mundo digital. O aplicativo agora conta com seis estrelas: criptografia no trânsito das mensagens; os responsáveis pelo serviço não podem ler as mensagens; usuário pode verificar e validar a identidade dos contatos; os conteúdos das mensagens já enviadas ficam seguros; rotina de segurança está apropriadamente documentada e o app passou por uma recente auditoria no código.

Ainda assim, o Whatsapp fica um degrau abaixo do seu rival Telegram, que além disso tudo permite que as mensagens sejam programadas para se auto-destruírem. 

Também em comunicado oficial, a empresa de segurança Kaspersky aplaudiu a atitude do Whatsapp. "Suas ações significa que o e-mail é agora a forma mais insegura das comunicações digitais. Serviços de e-mail gratuito transmitem mensagens através de redes em texto simples e os usuários não têm garantia de que seus dados são armazenados de forma segura", afirma Aleks Gostev, chefe do time de especialistas em segurança (GReAT) da Kaspersky Lab.

De acordo com o executivo, "criptografia ponta-aponta irá impedir ataques como aqueles conhecidos como 'Man in the Middle', onde um ator mal intencionado intercepta o e-mail entre o usuário e um servidor".

Para o diretor da Tempest Security Intelligence, Evandro Hora, se a empresa realmente está fazendo o que diz, o aplicativo tornou-se mais seguro. “O porém é que o código do Whatsapp não é aberto, então não temos como verificar isso. Em tese o usuário está mais protegido, mas nada impede que eles tenham colocado um backdoor para usar caso necessário, ou que o próprio fabricante do smartphone tenha feito isso”, alerta.

Nos Estados Unidos, o acesso de mensagens criptografadas gerou uma polêmica entre a Apple e o FBI. A polícia pede que a empresa divulgue dados de mensagens em uma investigação sobre terrorismo. Porém, a Apple (que usa a criptografia de ponta-a-ponta) afirma que seria preciso criar uma "chave mestra" para desbloquear as mensagens e que isso acarretaria no fim da privacidade de usuários. Até o momento, o FBI não conseguiu as informações.