Cientistas encontram sinais de uma partícula ‘prima’ do bóson de Higgs

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 17/12/2015 às 7:51

Pesquisadores apresentaram os primeiros resultados desta segunda rodada de experimentos no LHC. Foto: AFP Pesquisadores apresentaram os primeiros resultados desta segunda rodada de experimentos no LHC. Foto: AFP

Após dois anos parado para melhorias e manutenção, o Grande Colisor de Hádrons (LHC), maior acelerador de partículas do mundo, voltou a realizar experimentos em junho, operando com quase o dobro da energia de antes. Desde então, os cientistas do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern) já acumularam dados de cerca de 400 trilhões de choques dos feixes de prótons, à procura de sinais de uma física além do chamado Modelo Padrão, o arcabouço teórico que rege os estudos das partículas fundamentais do nosso Universo há cinco décadas. Entre as possíveis extensões desta teoria está a chamada superssimetria, que prevê a existência de versões mais maciças destas partículas, e se confirmada pode ajudar a resolver o mistério da matéria e energia escuras, que compõem cerca de 95% de tudo que existe, mas cuja natureza ainda é desconhecida.

Assim, esta semana, os pesquisadores de duas das principais colaborações do LHC — batizadas com as siglas de seus detectores, Atlas e CMS — apresentaram os primeiros resultados desta segunda rodada de experimentos no LHC. E embora não tenham visto sinais de que a hipótese da superssimetria está correta no decaimento de elétrons, quarks e gluóns muito mais “pesados” que os comuns, algumas dezenas das colisões produziram pistas da existência de uma partícula misteriosa que, caso confirmada, vai abrir o caminho para a “nova física”.

Entre muitos “talvezes” e “ses”, os cientistas especulam que a nova partícula, extremamente maciça, seja um gráviton, o hipotético mediador da força da gravidade. Mas a possibilidade que está chamando mais a atenção é de que ela seja uma versão mais “pesada” do bóson de Higgs.

“ISTO MUDARIA TUDO” - Apelidado “partícula de Deus”, o Higgs é responsável por dar massa às demais partículas fundamentais do Universo e era a única prevista pelo Modelo Padrão que ainda não tinha sido produzida em laboratório até o anúncio de sua detecção, em julho de 2012, durante a primeira rodada de experimentos do LHC.

— Isto mudaria tudo — comentou Gian Francesco Giudice, teórico do Cern que não faz parte das colaborações no LHC, ao site da revista “Nature”. — Em termos de novidade, o bóson de Higgs empalideceria em comparação.

Até o momento, os cientistas calculam em uma em 93 as chances de os sinais da nova partícula serem falsos, frutos de falhas ou erros nos detectores. Mas embora esta probabilidade pareça boa, ela está longe da certeza mínima de uma em 35 milhões que é padrão para descobertas na área de física de partículas. A seu favor, no entanto, o possível “primo” do Higgs tem o fato de que seus sinais apareceram tanto no Atlas como no CMS com níveis de energia semelhantes, numa coincidência que lembra justamente o início da busca pelo próprio HIggs no LHC em 2011.

— Esperamos obter dez vezes mais dados no próximo ano, o que deverá ajudar a resolver esta questão, e muito provavelmente levantar novas — resumiu Dave Charlton, porta-voz do Atlas, também ao site da “Nature”. [Da Agência Globo]