Deserto de Atacama pode receber usina hidrelétrica

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 12/12/2015 às 15:29

Projeto inovador pretende alimentada usina com água do mar e energia solar Projeto inovador pretende alimentar a usina hidrelétrica com água do mar e energia solar

No deserto de Atacama, o mais árido do mundo, está sendo planejada a construção de uma usina hidrelétrica alimentada por água do mar e energia solar, num projeto inovador que pretende revolucionar o mercado de eletricidade chileno.

Aproveitando-se da melhor radiação solar no mundo e da particular geografia que ocorre no norte do Chile, onde a cordilheira beira o Oceano Pacífico, a empresa chilena Valhalla planeja construir uma usina hidrelétrica para gerar 300 megawatts, capazes de alimentar três regiões do Chile.

"Este é o único lugar no mundo onde você pode desenvolver um projeto dessa natureza", disse Francisco Torrealba, co-fundador e diretor de estratégia da Valhalla, em uma apresentação para a imprensa estrangeira.

O projeto, chamado "Espelho de Tarapacá", está localizado a cerca de 100 km ao sul da cidade de Iquique (1.800 km ao norte de Santiago).

A central funcionará usando a água do mar sem dessalinizar, que será bombeada a duas enormes piscinas ou reservatórios naturais localizados acima da cordilheira, que está praticamente ao lado do oceano.

Depois, essa água cairá de 600 metros de altura para propulsar as turbinas de geração elétrica. As bombas que permitirão subir a água serão ativadas através da energia gerada numa central fotovoltaica instalada a 60 km de distância.

A água do mar será extraída durante o dia, quando há energia solar, enquanto que a noite será gerada eletricidade.

 

- Um projeto único - 

Os dois reservatórios naturais, equivalentes a cerca de 22.000 piscinas olímpicas, permitem que o nível de armazenamento que dá ao projeto a capacidade de operar sem interrupções, acabando com a intermitência presente na maioria das fontes renováveis ??não convencionais, como a energia solar.

"A tecnologia está super comprovada no mundo. É esta combinação que nunca foi feita", agregou Torrealba.

As condições geográficas excepcionais também possibilitam que o trabalho de construção seja mínimo, o que também reduz o impacto ambiental e os custos da planta, estimado em 400 milhões de dólares.

A central recebeu aprovação ambiental na semana passada depois de mais de um ano e meio de estudo. De acordo com suas projeções, seu impacto sobre o meio ambiente será mínimo: haverá um menor aumento na temperatura da água a ser devolvida para o mar, a que será extraída de uma profundidade de 16 metros, para reduzir o impacto sobre o ecossistema marinho.

Por estar no deserto, a flora e a fauna que em torno do projeto é quase inexistente, enquanto a empresa fechou um acordo com uma pequena comunidade de pescadores em vizinha do projeto. A construção, além disso, foi projetada para suportar tsunamis e terremotos.

Os proprietários de projetos agora estão à procura de financiamento privado para começar a construção no final de 2016, por um prazo estimado de três anos e meio.

- Revolução no mercado elétrico -

O Chile é até agora um importador líquido de energia. Sua capacidade instalada atual de 19,725.72 megawatts, em sua maioria produzida utilizando carvão (21%), gás natural (18,85%), diesel (18,63%) e hídrica (28,1%).

Apesar de ter no seu território o deserto mais árido do mundo, hoje apenas 3,79% da energia elétrica consumida pelo Chile é gerada a partir do sol. O principal problema é a sua intermitência, que não permite que esta fonte seja usada na forte indústria de mineração instalada no norte do país.

Mas as projeções oficiais apontam que junto da energia solar e eólica, as energias renováveis não convencionais (ERNC) aumentem sua importância e superem os 20% da matriz chilena para 2020.

A empresa Valhalla já estuda outros lugares com características similares para levantar outros projetos como o Espelho de Tarapacá.

Fonte: AFP