Sapo de Fogo e sua presa viveram no Piauí antes dos dinossauros

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 05/11/2015 às 10:52

Divulgação. Divulgação.

Antes de ser a casa de dinossauros e conhecer aves e mamíferos, criaturas mais exóticas transitavam pelo Pangeia, que abrangia todos os continentes atuais. Há 278 milhões de anos, a região de Teresina ficava na atual latitude do Rio de Janeiro e, em vez de ter sua atual temperatura inclemente, que volta e meia esbarra nos 40 graus Celsius, era muito mais amena e úmida. Seus lagos alcalinos eram dominados por três anfíbios, um deles conhecido como sapo de fogo, recém-descobertos por pesquisadores da Universidade Federal do Piauí (UFPI). No mesmo estudo, encontraram pela primeira vez na América do Sul um réptil que só era conhecido no Hemisfério Norte.

As quatro espécies sumiram ainda na Era Paleozoica, encerrada há 250 milhões de anos com a erupção de um vulcão na Sibéria, na maior extinção já vista no planeta — ainda mais devastadora do que aquela que erradicou os dinossauros.

O estudo da UFPI é o primeio a descrever animais que, naquele período, habitaram o Gondwana, região equivalente a América do Sul, África, Índia, Austrália e Antártica.

Segundo o autor-chefe da pesquisa, o paleontólogo Juan Carlos Cisneros, a região onde foi realizada a pesquisa é conhecida como “floresta fóssil de Teresina”. Diversos estudos já registraram como era sua flora no Paleozoico. Da fauna, porém, nada se conhecia.

"Estudamos cidades do Maranhão e do Piauí localizadas na bacia do Parnaíba, famosa por suas plantas petrificadas, conta o paleontólogo, que publicou seu estudo na revista “Nature Communications”. A região era repleta de lagos alcalinos com água transparente. Tinha plantas como samambaias gigantes, do tamanho de palmeiras, e árvores semelhantes às araucárias. O clima era mais ameno, porque o planeta estava se recuperando da última era glacial. Além disso, devido ao posicionamento do megacontinente, o Parnaíba ficava mais ao sul, onde hoje é o Rio de Janeiro.

Na floresta petrificada, a equipe de Cisneros encontrou fósseis de duas espécies de anfíbios carnívoros. Uma delas é a Timonya anneae, que recebeu este nome em homenagem à cidade maranhense de Timon, onde foi descoberta.

"Este animal tinha entre 30 e 40 centímetros de comprimento e vivia exclusivamente na água", descreve o paleontólogo. "Nadavam muito bem, movimentando o corpo como uma enguia. Seus membros eram muito curtos e só deviam ser usados para apoiarem-se no fundo dos lagos.

A Timonya comia larvas e servia de refeição para o outro anfíbio descoberto, o Procuhy nazariensis, um anfíbio cujo nome na língua timbira, nativa do Maranhão, Piauí e Tocantins — significa “sapo de fogo”, ao mesmo tempo que faz homenagem ao município de Nazária, no Piauí.

"Ele vivia na água, mas a formação geológica em que encontramos os fósseis se chama Pedra de Fogo", explica Cisneros. "O Procuhy teria entre 70 e 80 centímetros. Só descobrimos vestígios do crânio e da mandíbula, então não temos certeza de como ele se movimentava. E ele servia de preso para outro anfíbio, que tinha mais de um metro.

Além das duas espécies de anfíbios, Cisneros também destaca, em seu levantamento, o encontro de fósseis de uma espécie de réptil com aspecto de lagartixa, que até agora só tinha sido vista na América do Norte.

"Ver esta espécie no Nordeste pode nos ajudar a entender como os animais se dispersaram por diversas regiões da Pangeia naquele período", ressalta.