Marte perdeu a atmosfera após tempestades solares, anuncia Nasa

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 05/11/2015 às 17:52

Foto: Divulgação. Foto: Divulgação.

Os cientistas já possuem indícios para explicar o que aconteceu com a atmosfera de Marte, que fez o planeta se transformar em uma terra árida e inóspita.

As erupções solares podem ter causado o desaparecimento de grande parte da atmosfera de Marte na juventude do planeta vermelho: é o que mostram os primeiros resultados científicos de Maven, a última sonda orbital da Nasa.

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Estas são as conclusões de um dos quatro estudos realizados a partir de dados coletados por instrumentos da sonda orbital, publicados nesta quinta-feira pela revista norte-americana Science. Outro estudo indica uma maior densidade de oxigênio atmosférico do que era estimado anteriormente.

"Estes novos dados revelam algumas surpresas assim como alguns ajustes nas teorias avançadas inicialmente", explicou a Nasa.

Medidas da alta atmosfera marciana mostram em particular uma taxa de escape no espaço de fluxos de partículas ionizadas significativamente acelerada (dez vezes mais rápido do que o normal) durante uma explosão solar observada no primeiro semestre deste ano, o que pode dar uma indicação do mecanismo pelo qual Marte teria perdido muito de sua atmosfera e tornou-se o maior deserto árido de hoje, disse Bruce Jakosky, da Universidade do Colorado em Boulder, um dos principais autores deste trabalho.

Dada a probabilidade de que essas erupções viessem a ocorrer com maior frequência na infância do sistema solar, esses pesquisadores sugerem que as taxas de fuga de partículas no espaço formando a atmosfera de Marte foi em grande parte associada à atividade do sol. Os instrumentos de Maven ("Mars Atmosphere and Volatile Evolution") fornecem uma visualização do campo magnético marciano bombardeado por jatos de material ionizado durante esta poderosa erupção do sol, no último mês de março.

https://twitter.com/NASA/status/662351129557118976

Um segundo estudo realizado por Stephen Bougher, professor da Universidade de Michigan, analisou dados recolhidos durante dois mergulhos de Maven na atmosfera de Marte para determinar a natureza da termosfera e ionosfera.

Durante estas investigações, os instrumentos detectaram uma alteração significativa na temperatura de acordo com a altitude, bem como misturas estáveis ??de CO2, árgon e óxido nitroso. Eles também mediram a quantidade de oxigênio maiores do que as estimadas anteriormente.

https://twitter.com/NASA/status/662348181041102848

Aurora boreal

A densidade destes elementos a quase 200 km de altitude variou significativamente para cada órbita da sonda, o que sugere, segundo estes cientistas, que estas variações podem resultar de ondas gravitacionais que interagem com o vento a altitudes mais baixas.

Estes resultados devem ajudar os pesquisadores a entender melhor as interações entre o vento solar e a atmosfera marciana, especificamente os mecanismos físicos que limitam a fuga para o espaço atmosférico através dessas interações.

Um terceiro estudo com a Maven mostra uma aurora em uma baixa altitude de apenas 60 km, muito semelhantes às da Terra, uma observação sem precedentes.

Estes fenômenos luminosos espetaculares são provocados pela interação entre as partículas ionizadas dos ventos solares e a atmosfera. Finalmente, um quarto estudo liderado por Laila Andersson, da Universidade do Colorado, analisou nuvens de poeira detectadas em altitudes entre 150 e 1000 km.

Atmosfera de Marte em foto divulgada pela Nasa: (Divulgação) Atmosfera de Marte em foto divulgada pela Nasa: (Divulgação)

Nenhum processo conhecido pode transportar tais concentrações de poeira nestas altitudes acima do sol, explicam os pesquisadores, que excluem também as luas de Marte como fonte de atração dado o tamanho e a distribuição de partículas.

De acordo com eles, trata-se de bastante poeira de origem interplanetária. A sonda orbital Maven tem oito instrumentos, incluindo um espectrômetro de massa para determinar as estruturas moleculares de gases atmosféricos, e o sensor SWEA (Solar Wind Electron Analyzer), desenvolvido pelo Instituto Francês de Pesquisa Astrofísica, que analisa o vento solar.

Lançada em 18 de novembro de 2013 a partir de Cabo Canaveral, na Flórida, a sonda de 2,45 toneladas foi inserida na órbita marciana em setembro de 2014. [Da AFP, com Nasa e Science]